tag:blogger.com,1999:blog-86202415782074280072024-02-07T05:01:52.136-08:00Corpus de Memorialismo Militar Luso-Brasileiro dos Finais do Antigo RegimeJorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-78796166256101385082021-04-12T06:18:00.000-07:002021-04-13T04:53:33.455-07:00Uma Contribuição para o Memorialismo<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM-d3dDcPB5PQPzCXc1y1U7F6HzkcOsbCVWCk5mIBNFY1IcvfiCFHaU1GPe4-_eHwkMGCNEsk1vvPjUzd-2fFRwtK9W5YYzo3zWKb0cZM7cssHOXxO8OYBUaPUimQvhMVvPiiK1IeUuHZi/s1600/Fuerte_de_San_Miguel_I.jpg" imageanchor="1"><img border="0" height="428" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM-d3dDcPB5PQPzCXc1y1U7F6HzkcOsbCVWCk5mIBNFY1IcvfiCFHaU1GPe4-_eHwkMGCNEsk1vvPjUzd-2fFRwtK9W5YYzo3zWKb0cZM7cssHOXxO8OYBUaPUimQvhMVvPiiK1IeUuHZi/s640/Fuerte_de_San_Miguel_I.jpg" width="640" /></a></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Este blogue tem por principal objetivo a divulgação de transcrições de textos de memorialismo e crónica militar, com ênfase especial em testemunhas presenciais. É fundamentalmente uma contribuição para um corpus de memorialistas militares luso-brasileiros dos finais do Antigo Regime e para a sua apreciação histórica e literária.</span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Com esses objetivos, o blogue é também uma homenagem aos veteranos de há 200 anos, falecidos há já muito tempo, para que as suas vozes e as suas experiências sejam lembradas.</span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O foco especializado no finais do Antigo Regime e no Brasil Colónia, Reino e primeiro reinado do Império é também uma escolha tendente a concentrar buscas numa área reduzida, por forma a maximizar os resultados.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Agradeço qualquer ajuda ou pista para novos textos ou correção de antigos. Boa leitura.</span></div>
</div>
Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-57307654857338692382021-02-15T09:11:00.003-08:002021-02-15T09:11:38.305-08:00Itinerário das Campanhas que tiverão princípio no ano de 1816 (J. J. Machado de Oliveira)<p style="text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaByZPgSR927nWTVeTG4eOiN2CBpcNuGAClRzahC1Q9_tMzg6XYVRyyzjvdd0otSkRKK6C3ogJa3HT78_zcW0AS06B9C5kv_om9LPnESSpMliGRh86Aqp6LnzBK0d1gNorLjw1oFId052K/s508/jose+joaquim+machado+de+oliveira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="508" data-original-width="409" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaByZPgSR927nWTVeTG4eOiN2CBpcNuGAClRzahC1Q9_tMzg6XYVRyyzjvdd0otSkRKK6C3ogJa3HT78_zcW0AS06B9C5kv_om9LPnESSpMliGRh86Aqp6LnzBK0d1gNorLjw1oFId052K/s16000/jose+joaquim+machado+de+oliveira.jpg" /></a></span></div><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b><br /></b></span><p></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>“Itinerário das Campanhas que tiverão princípio no ano de 1816".</b></span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Autor: José Joaquim Machado de Oliveira (Legião de São Paulo)</span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Datas extremas: 18.3.1816 - 9.3.1820</span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;">(Publicado em Revista do Arquivo Municipal, Ano VI, Volume LXXII, Novembro-Dezembro 1940, São Paulo, Departamento de Cultura da Prefeitura, pp. 5-20) [Leia online <a href="https://books.google.pt/books?id=AbXTBbfRF6EC&pg=RA2-PA24" target="_blank">aqui</a> - abre nova página]</span></p><p style="text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;"><br /></span></p><p style="text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;">* * *</span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;">[Início]</span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;"><b>1816. 1.ª Campanha. </b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Março </b>18. Saí de Pôrto Alegre embarcado e com tropa - </span><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;">23. Cheguei à Vila do Rio Pardo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Julho</b>, 29. Saí de Rio Pardo com tropa, e acampamos na Picada. 30. Na Cruz Alta. - 31. No Campo de Felipe Carvalho.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Agosto </b>1. No Arroio Butucaraí. Passo de cima. - 2. No Capão dos Enforcados. 3. No Passo de Jacuí, aonde se esteve o dia. 4. Ocupado na passagem do rio. - 5. A meia légua distante daquele passo. - 6. No Passo da Estiva. – 7. Na Restinga Seca, estância de Antônio Gonçalves Borges. - 8. No Arroio do Sol, aonde se esteve também o dia 9, por chover muito. - 10. No capão de Manuel Paim. - 11. No Arroio de Santa Maria. - 12. No capão da eståncia do Pompeu. - 13. No rodeio velho das éguas do Felipinho ou Felipe Santiago. - 14. Na estância do Serino (Cirino ?), irmão de meu pag. (pagem ?) Domingues. - 15. Na estância do tenente-coronel Carneiro, ou Pau Fincado. — 16. Na estância de Manuel Ferreira, seu genro. - 17. Na estância de São Felipe. - 18. Na margem esquerda do Arroio Cacequi. Morreu afogado o cabo Malaquias. - 19. Ao pé da estância do inglês Daniel Luiz Carlos. - 20. No Passo do Rosário, aonde estivemos até o dia 29. - 30. Ao pé da estância de Pacheco de Lima. - 31. No Vacacuá. estância de Antônio Caetano. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Setembro </b>1. Na Guarda da Conceição. aonde estivemos os dias 2 e 3. - 4. No Arroio da Porteira (?) ao pé da estância de Inácio Adolfo. -. 5. No Pôrto do Alferes Pinto.- 6. Nas cabeceiras do Ibirapuitã Chico, aonde estivemos o dia 1. - 8. No campo de João da Costa. - 9. Em São Diogo. - 10. ... pontas do Arroio de Valença. - 11. Acampamos no Boqueirão das Lagoas - 12. Na tapera do Leme, ou Capão do Cirurgião. Ali chamando-nos o Abreu (tenente-coronel José de Abreu) a conselho, decidiu-se que deviamos ir à Provincia das Missões, já invadida pelos insurgentes deixando a nossa marcha para Belém. - 13. No Suaraim chico. - Passo das carretas 14. No Arroio Garopá. - 15. No Arroio Camoatim. - 16. No Arroio Caoati. -- 17. Num dos galhos do Toro-passo. - 18. No Arroio Toro passo, aonde estivemos o dia 19, passando 0 Arroio, que estava de nado. - 20. No Arroio Cochi-passo. Foram vistos alguns bombeiros (espiões) do inimigo. - 21. Na estância do Aferidor. Ali fizemos passar para o outro lado do Uruguai os Insurgentes, que se achavam, tanto na estancia, como no Passo de Santa Maria no Ibicui, aprisionando-se 2 homens e 6 mulheres (?) e alguma cavalhada. Falhamos o dia 22. - 23. No Ibiraocaí - 24. Acampámos no Ibiricui, aonde estivemos passando o dia 25. - 26. Na estância de Joãozinho de Oliveira. Neste dia bateram-se duas partidas inimigas, que andavam em saque. Foram mortos 16 insurgentes e 10 mais prisioneiros. - 27. No Tuparaí. Neste dia bateu-se uma partida inimiga e foram mortos 16 insurgentes e 10 mais prisioneiros. - 27. No Tuparaí. Neste dia bateu-se uma partida inimiga e foram mortos 26 insurgentes. - 28. Na estância do Padre Alexandre, aonde falhámos o dia 29, por chover muito. Foram vistos dois bombeiros (espiões) do inimigo. - 30. No capão de João Machado. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Outubro </b>1. Na margem direita do Arroio Butuí, de nado. - 2. Além do Banhado de S. Borja. Ali estivemos até o dia 4. 5. No outro lado do Banhado de S. Borja. - 6. Neste dia fomos. ao Butuí, na sua barra, como não encontramos uma partida inimiga que ali fôra vista, retrogradamos... chovia. - 7. Acampamos no Povo de S. Borja, e ali estive até o dia 23, ocupado numa inquirição - 24. No Ivaí, aonde estava a divisão. - 25. No Capão de Butuí. - 26. No Butuí-chico. - 27. No pôrto da estância de Santa Rosa. - 28. No Ibicuí, Passo de S. Rosa e ali nos demoramos o dia 29 na passagem. -- 30. No capão da estância do tenente Olivério. - Na margem esquerda do Ibirapuită, Passo Guassú.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Novembro </b>1.º No Pai-passo. 2. Na tapera de Inácio dos Santos Abreu, – 3. Em S. Diogo. Ali se achava o Regimento da Ilha. - 4. No acampamento do Ibirapuitã, aonde estava o exército, Ali estivemos até 20 de dezembro.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Dezembro </b>- 25. Marchou todo o exército e acampamos ao pé da estância do Cláudio. - 26. Saí para o Côrpo da Vanguarda, e acampamos ao pé da tapera do Cláudio, aonde se falhou o dia 27. - 28. Acampamos no campo de Juca Mingote. - 29. No Indahim, onde se falhou o dia 30. - 31. A vanguarda marchou um quarto de légua sobre a frente, aonde se falhou o dia 1.º de janeiro de 1817. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>1817</b>.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Janeiro </b>2. No Arroio Catalã. A vanguarda marchou às 6 da tarde para o Arapeí, chegou alí a 3, atacou o acampamento inimigo e voltou no mesmo dia para Catalã, aonde chegou às 7 da tarde. No dia 4 houve nesse lugar a batalha de Catalã, e falhou-se o dia 5. - 6. Num dos galhos do Arroio Catalã, aonde se falhou os dias 7. 8. 9 e 10. - 11. Na barra do Catală, aonde se falhou os dias 12, 13, 14 e 15. - 16. No Suaraim, no Passo do Lageado. Dêste lugar saí em diligência para Pôrto Alegre a 29 e fui pernoitar na estância de João dos Santos Abreu. 30. No porto da estância de Joaquim Luiz - 31. Na estância de capitão Brito.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Fevereiro </b>1. Na estância do tenente-coronel Antônio Pinto. - 2. Na estància de S. João. - 3. Pernoitei nos Morais. - 4. Na Cachoeira. - 5. Em Rio Pardo. - Embarquei para Porto Alegre. - 8. Em Porto Alegre, aonde estive até o dia 3 de março, e embarcando com tropa para o Rio Pardo, ali cheguei no dia 11.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Março</b> 15. Saimos de Rio Pardo e acampamos no Capão da Vendinha do Arroio das Pedras. -16. No Butucaraí. Passo da Ponte. - 17. No Passo de S. Lourenço no Jacuí, 18. Em Santa Bárbara. - 19. Na estância do Corcundinha. - 20. No Arroio da estância do capitão Freire - 21. No ... de Luiz Machado - 22. Na estância do Padre João de Almeida. - 23. No Vacacaí, estância do coronel Pinto. - 24. No pôrto velho do Batoví. -- 25. No Passo de S. Borja. - 26. No Capão do Severo. - 27. Na Guarda da Conceição, donde se falhou o dia 28, por quebrar-se o eixo do carro. 29. Acampamos no pôrto de Joaquim Luiz. - 30. Na Estância do Tulio. 31. No campo de Juca Mingote.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Abril </b>1. No acampamento do exército no Suaraim, aonde estivemos até 20 de março de 1818, e a 21, marchando o exército, saí daquele acampamento com a tropa comandada pelo coronel Abreu, e acampamos no Arroio Sarandi.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>1818</b>.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Março </b>22. Nas pontas do Sarandi. - 23. No Arroio do Areal, estância do Guarda-mor. - 24. No Capão do Tigre, estância de Joaquim Pôrto. ---- 25. Nas pontas do Nhanduí, onde se falhou o dia 16, por chover. -- 27. No capão da estância de Gaspar Nunes. - 28. Na capela de Alegrete. Saí dêste lugar para Porto Alegre em diligência no dia 3 de junho e fui pernoitar na estância do Dornellas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Junho </b>4. Na estância do major João Machado Bitancourt. - 5. Na estância do Severino. --- 6. Pernoitei na estância do capitão José Machado. - 7 No pôrto da estância de S. João. - 8. Na estância do alferes Machado.- 9. Na freguezia da Cachoeira. – 10. Na vila de Rio Pardo, aonde embarquei no dia 11, e no dia 12 cheguei a Pôrto Alegre.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Saí de Porto Alegre em 6 de novembro, embarcado, e cheguei a Rio Pardo a 12 do dito, de onde saí a 23 e pernoitei na chácara do capitão Bernardo. - 25. No Passo de S. Lourenço.-- 26. Em Santa Bárbara. -27. Na estância de Manuel Rodrigues Penteado. - 28. No Adolfo. 29. Na tapera de Luiz Machado. - - 30. Na estância do padre João de Almeida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Dezembro</b>. 1. Na capela de S. Gabriel. - 2. Na cochilha de Jubatuim. - 3. Na estância de Antônio Francisco. -- 4. No Passo do Rosário. - 5. Na estância da Côrte Real, no Capão. 6. Ao pé da estância de Pacheco de Lima. - 7. Na estância do capitão Florêncio. -- 8. Na estância de José Maria. - 9. Na capela de Alegrete. Primeiro movimento da guarnição para a fronteira. A 25 de dezembro saiu de Alegrete a guarnição e foi acampar no Arroio Pai. Passo. - 26. No mesmo Arroio. No Passo da Marmota. - 27. Na estância da Marmota. -- 28. Numa das pontas do Pai-Passo. - 29. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>[1819]</b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Em outra ponta do dito, aonde estivemos até o dia 4 de janeiro de 1819, e no dia 5, marchando-se para a fronteira, soube se que o inimigo se retirara, e por conseguinte retrogradou-se, e acampamos no arroio da divisa do Marmota. 6. No lado esquerdo do Ibirapuitã. - Passo guassú. 7 - Na capela do Alegrete.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Segundo movimento</b>. A 1.º de <b>Abril </b>saímos da Capela de Alegrete, em consequência da segunda invasão das Missões, e acampamos a meia légua distante dali, à margem do mesmo Ibirapuitã, e dêsse lugar passamos para o Pôrto das Pedras, ao pé da Capela, a 10 do dito mês. A 17 chegou o sr. Conde da Figueira, e a 20, movendo-se a divisão, acampou do outro lado do Ibirapuità - Passo guassú. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Maio</b> 21. Num capão do campo do Joaquim Machado. 22. No Ibicuí, Passo de S. Rosa, aonde nos demoramos a passá-lo o dia 23. ---- 24. No Pôrto de .... de S. Rosa. -- 25. Nas pontas do Butui. - 26. Nos capões ao pé da estância de S. Gabriel -- 27. No Camacuã. Ali nos reunimos com a tropa do marechal Chagas. -- 28. No Itaraoquim. 29. No capão do pôrto do Severino. - 30. Piratini, Passo Novo da Figueira. -- 31. Ao anoitecer marchamos, e ao amanhecer paramos em uns capões ao pé da estância de S. Jerónimo. 9.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Junho </b>1. Ao anoitecer marchamos e fomos amanhecer no dia 2 no Povo de S. Luiz, e acampamos fora - 3. Acampamos dentro do Povo de S. Luiz, aonde estivemos até o dia 9. 10. No Passo de Pirajú. - 11. Nuns capões de S. Jerónimo. -- 12. Estando assentado... no Arroio Guaraçá, marchamos para o Povo de S. Nicolau, por saber que o inimigo o evacuava. - 13. Marchamos com destino para o Passo de S. Isidoro, e por se achar o Arroio Jacatobá de nado, aí acampamos. - 14. Meia légua distante do Passo Geral do Piratini. 15. Apartando-se a Legião da divisão, para unir-se ao Côrpo de Abreu, acampou no capão do Porto do Severino.- 16. Em Itaroaquerim. - 17. Na estância de S. José, do Chagas, - 18. No Passo de S. José do Camacuã. -- 19. No G...iaçai, aonde se achava a tropa do Abreu. - 20. Nos capões ao pé da estância de S. Gabriel... 21. Nas pontas do Butui. - 22. Acampamos no capão da estância do Cunha. -- 28. No Ibirapuitã, Passo guassú.- 29. Na Capela de Alegrete.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Julho </b>- Nos dias 4, 5, e 6 de julho marchou a divisão do brigadeiro Abreu, e eu fiquei para me retirar para Pôrto Alegre em consequência do meu emprego. - 31. Saí da Capela de Alegrete e pernoitei na estância de Felipe Carvalho.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Agosto</b>. 1. Em Taperí, chácara de Joaquim Leonel. 2. No banhado de Saicã, meia légua distante do Pôrto da estância de Antônio Franeisco. -- 6. Na estância do major Tomaz 7. Na Capela de S. Gabriel, aonde falhei o dia 8. - 9. Na estância do tenente-coronel Antônio dos Santos - 10. Na estância do Mancio. - 11. Na estância do Quartel Mestre. - 12. Pernoitei na estância do Machado Gordo, ao pé da estância do tenente Ricardo. -13. Na chácara de Manuel Joaquim Teixeira no Capão dos Enforcados. 14. Na Cruz Alta. - 15. Em Rio Pardo, aonde embarquei a 17, e a 19 cheguei a Porto Alegre.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>2.ª Campanha, 1820. </b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Janeiro</b>. Na noite de 2 saímos de Porto Alegre com & infantaria e a artilharia do meu comando, e chegamos a Rio Pardo a 8, e no mesmo dia acampamos no lado direito do Passo do Rio Pardo. - 9. No capão da Cruz Alta. - 10. No Passo de S. Lourenço no Jacuí. - 11. Nos Morais. - 12. No Arroio do Lageado, divisa de S. Jo... 13. No Passo de Carutaí. - 14. No Arroio do Lageado no campo de S. Fidélis. -- 15. No Passo de S. Borja. - 16. Na estância de Placido Severo. - 17. No Passo de Ibicuí-Chico. - 18. Acampamos duas léguas distantes de Itaquatiá. - 19. Em Itaquatiá, aonde estava o exército. - 20. Na tapera de d. Ramon. --- 21. Chegámos ao Passo do Sutil no Cunhapirú, e aí, esperando a noite, marchámos para o Taquarembó Grande, aonde chegámos na manhã de 22, em que atacamos o inimigo e o derrotamos. Aí estivemos nos dias 23 e 24. - 25. Retrogradamos para o Passo do Sutil. - 26. Acampamos no Cunhapirú. - 27. Nas pontas do Ibicuí. - 28. Nos morros de S. Ana. - 29. No Sarandi, - 30 No Funchal. --- 31. No Pai-Passo, pontas.</span></p><p style="text-align: justify;"><b style="font-family: georgia; font-size: x-large;">Fevereiro</b><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;">. - 1. No Passo do Pai Passo. - Em Alegrete. Aí ficamos até o dia 21. - 22. No Arroio do Lageado. - 23. No Arroio Jaguaquá. - 24. No tenente-coronel João Machado. - Falhamos o dia 25, por chover. - 26. Acampamos no Arroio Cacequí. - 27. Em S. Gabriel. - 28. No Fidélis, aonde estivemos o dia 29.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;"><b>Março</b>. - 1. No Arroio .... 2. Na tapera de Luiz Machado. 3. No Passo de S. Bárbara. - 4. Na estância do tenente Ricardo.- . No Arapoá. - 6. Na estância do Bibiano. - 7. No Arroio Francisquinho. - 8. No Arroio dos Ratos. – 9. Em Porto Alegre".</span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;">[Fim]</span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;"><br /></span></p><p style="text-align: center;"><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;">* * *</span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: x-large;"><i><span style="color: #660000;">Pequena biografia</span></i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">O capitão José Joaquim Machado de Oliveira nasceu em São Paulo, a 8 de Julho de 1790, filho do tenente coronel Francisco José Machado de Vasconcelos e de D. Ana Esmerina (Esméria ou Esmênia) da Silva.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Com um ano e meio de idade, o pai assentou-lhe praça mas só em dezembro de 1807, já com 17 anos, foi reconhecido cadete. É Alferes em 1809, tenente em 1811 e, finalmente, graduado em capitão em 13 de Maio de 1813, pelos seus serviços na Campanha de 1811-12.</span></p><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: large;">Em 1816, com cerca de 26 anos, é capitão de infantaria da Legião de Voluntários Reais, de S. Paulo, e participa com distinção, nos combates do Passo de Yapeyú e na batalha de S. Borja, e, já em Janeiro, na Surpresa de Arapey, sempre sob o comando direto do tenente coronel José de Abreu.</span></p>Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-57321471481033922562018-12-21T05:26:00.001-08:002021-09-02T15:08:53.606-07:00Relação dos Serviços que pratiquei na conquista dos Sete Povos das Missões (Manuel dos Santos Pedroso, 1801)<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiolMQVE1M1ZNh2sY5G7muawHaOF2rth2uUEgH_lH9DOulZ-Qo_1ci4ZGAxH1SHMPq-prju6rJnw_qqyDRCz2oNs6UOneYkzD0ShaSbASD1jj3Ic6cZZtj5YAbhP9XCNA3OkLLtjXCOYWHc/s1600/S%25C3%25ADtio_Arqueol%25C3%25B3gico_de_S%25C3%25A3o_Miguel_Arcanjo_01.jpg"><img border="0" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiolMQVE1M1ZNh2sY5G7muawHaOF2rth2uUEgH_lH9DOulZ-Qo_1ci4ZGAxH1SHMPq-prju6rJnw_qqyDRCz2oNs6UOneYkzD0ShaSbASD1jj3Ic6cZZtj5YAbhP9XCNA3OkLLtjXCOYWHc/s640/S%25C3%25ADtio_Arqueol%25C3%25B3gico_de_S%25C3%25A3o_Miguel_Arcanjo_01.jpg" width="640" /></a></b></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Rellação dos servissos que practiquei na conquista dos sete Povos Guaranis das Missoens orientaes do Uruguay, desde o principio até o fim da Guerra proxima passada.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">[Manuel "Maneco" dos Santos Pedroso]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><div style="font-size: x-large;"><span style="color: #274e13;"><b>LEIA TAMBÉM</b></span></div><div style="font-size: x-large;"><a href="http://aorealservico.blogspot.com/2018/05/transcripto-manuel-dos-santos-pedroso.html" target="_blank">Transcrição: Manuel dos Santos Pedroso [biografia]</a></div><div style="font-size: x-large;">Fonte: Aurélio Porto, História das Missões Orientais do Uruguai, 2.ª edição revista e melhorada pelo padre Luís Gonzaga Jaeger, S.J. SEGUNDA PARTE, Selbach & Cia., Porto Alegre, 1954. (Coleção JESUÍTAS NO SUL DO BRASIL, VOLUME IV). - pp. 293-301.</div><div>[abre nova página]</div></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Havendo-me aprezentado voluntariamente na Goarda avançada de S. Pedro ao Cap.tam de Dragoens Comand.te Fran.co Barreto Pr.ª Pinto <span style="color: #0c343d;">[Francisco Barreto Pereira Pinto (1758-1804)]</span> oferecendo-me para o servisso de Guerra, logo que se deo ordem para hostilizar aos Espanhoes, me encarregou o d.to Capitão Comand.te de atacar a Goarda Fronteira Espanhola de S. Martinho, o que eu executei promptam.te fazendo retirar aos Espanhoes, que ali se achavão, e sem demora participei esta noticia ao Sobredito Capitão Comand.te, o qual tomando conta da dita Goarda de S. Martinho, e goarnecendo-a com gente nossa me ordenou, que visto falar eu o Idioma Guarani, me avansasse com os mesmos 20 homens p.ª os estabelecimentos dos Indios das Missoens, a fim de os persuadir, a que se revoltassem a nosso favor, e serem Vassalos Portuguezes, para o que nós os auxiliariamos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Passei as Estancias dos Povos de S. Lourenço, e S. Miguel nas quaes falei aos Indios, que alem de me auxiliarem com as cavalgaduras, de que precizei, me assegurarão que todos dezejavão passar ao Dominio Portuguez para o que necessitavão o nosso socorro, e participando elles os meus avizos aos seus respectivos Corregedores, escreverão estes sem demora ao mesmo capitão Comand.te assegurandolhe o desejo, e boa vontade que todos tinhão do nosso soccorro para serem Vassalos de Sua Alteza real.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Deichei sete dois meus camaradas de Patrulha na estancia de S. Pedro, e com licença do mesmo Capitão de Dragoens Com.te voltei a minha Estancia de S. Pedro, a refazer-me de algumas couzas, de que precizava, e a ajuntar mais alguns Camaradas; o que tudo fiz em quatro dias, e tornei para a dita Goarda de S. Pedro, aonde o referido Cap.tam de Dragoens Com.te me encarregou o Commando de hua Partida de 40 homens para hir soccorrer Jozé Borges do Canto <span style="color: #0c343d;">[José Francisco Borges do Canto (1775-1805)]</span>, que se havia dirigido a atacar o Povo de S. Miguel, aonde cheguei hum dia despois de o dicto Canto haver subprendido, e atacado o Acampamento huã Legoa distante daquelle Povo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Segundo as ordens que me deo o citado Capitão Comm.te, me ofereci para ajudar, ou auxiliar com a minha Partida ao Sobredicto Canto; o qual dizendo-me que ali não hera tão necessario o meu soccorro, como na Costa do Rio Uruguay em razão de haver apanhado cartas do Gov.or de Missoens <span style="color: #0c343d;">[Joaquín de Soria-Santa Cruz y Guzmán (1748-1814), governou entre 1800 e 1802]</span> para o Ten.te Gov.or do Povo de S. Miguel <span style="color: #0c343d;">[D. Francisco Rodrigo]</span>, nas quaes lhe dizia, que naquelles e dias o socorria com reforço de gente, me encarreguei da defeza dos Passos do Uruguay, para com mais segurança o referido Canto obrigar, e constranger a render se o dito Ten.te Gov.or; que se achava encerrado no Colegio do mesmo Povo de S. Miguel com 150 homens d'Armas, e 10 Pessas de Artilharia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Encaminheime sem demora para o Uruguay, e com a noticia, que derão os Bombeiros Espanhoes da minha marcha, duas Partidas Espanholas, que vinhão pelo Arroyo Pirajú, a Estancia de Santiago em socorro do sobred.to Ten.te Gov.or; sendo cada huã de 50 homens retrocederão, e passarão o Uruguay em cujo passo de S.to Izidro encontrei no dia 11 de Agosto o Ten.te de Dragoens da Partida Espanhola da Demarcação com 6 Dragoens e 12 Milicianos, aos quaes tomei as armas, e deixei que passassem o Uruguay visto hirem de retirada da dicta Demarcação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Do dicto Passo fiz retroceder 6 carretas para // o Povo de S. Nicolao, carregadas com Alfaias da Igreja, e generos dos Armazens, que o seu admenistrador pertendia fazer passar ao outro lado do Uruguay, o que tudo fiz recolher ao mesmo Povo, entregando ao Pad.e cura, o que pertence a Igreja, e ao Corregedor, o que se havia tirado dos Armazens.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No seguinte dia tendo eu noticia, que o referido Ten.te Gov.or tinha sahido do citado Povo de S. Miguel, e se dirigia a passar o Uruguay com 140 Espanhoes de Armas, 10 pessas de Artilharia, e hua Carreta com petrechos de Guerra, e que varios Espanhoes se incorporavão a esta Partida, me puz em marcha com 0 homens a fim de lhe tomar o armamento, e fazela retroceder, o que pratiquei no Povo de S. Luiz, aonde encontrei sem embargo da Capitulação, que alegava o mencionado Ten.te Gov.or haver ajustado com o citado Jozé Borges do Canto; porq.to receando eu, e sendo m.to provavel, que de este Corpo de gente armada chegase ao Uruguay, e se reunisse a outro numero de Espanhoes, cuja passagem para o lado de cá podia favorecer abuzando do indulto da mesma capitulação, seriamos obrigados a evacuar as Missoens, e perdermos o trabalho desta conquista, que tinhamos conseguido com tanta felicidade, visto a pouca gente nossa que então lá havia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dei parte desta minha rezolução ao referido Capitão de Dragões Com.te, que mandou sem demora hum dos cadetes seus filhos com hum capitão miliciano para deterem o mesmo Ten.te Gov.or, e demais Espanhoes até segunda ordem, e poucos dias dipois o capitão de cavallaria Miliciana Jozé de Anxeta <span style="color: #0c343d;">[José de Anchieta Furtado de Mendonça (1756-1829)]</span> com a sua companhia[,] 10 Dragoens e hũ Furriel.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Voltei ao Povo de S. Nicolao, aonde chegou este socorro; e tendo eu goarnecido os Povos de S.ta Maria, S.to Izidro e S. Lucas acompanhei com 10 homens da minha Partida ao dito Capitão Ancheta, que se poz em marcha com a sua companhia para o Povo de S. Francisco de Borja; cujos habitantes solecitavão de continuo o nosso soccorro: Nesta marcha deixou o sobredicto Capitão Anxeta sete homens de Patrulha no Povo de S. Marcos; cuja Patrulha foi atacada na noite do dia seguinte pelos Espanhoes em grande numero ouvindo-se do dicto Povo de S. Fran.co de Borja ao amanhecer os tiros, parti sem demora com 10 homens a socorrer a dita Patrulha, que tendo perdido os seus cavallos, e perseguida dos Espanhoes procurava ganhar o Passo de Camaucam; mas logo que o Inemigo vio que chegavamos de soccorro, se poz em retirada atravessando o Uruguay, deixando em nosso poder 500 animaes, entre cavallos, e gado vacum: Neste ataque alem dos espanhoes feridos, morrerão quatro, e da nossa parte só morreo hum Miliciano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tendo chegado para Com.te dos sobred.tos Povos o Major de Dragoens <span style="color: #0c343d;">[sargento mor José de Castro Morais]</span>, recebi deste ordem para lhe falar, e em consequencia me puz em marcha com os meus 10 camaradas para o povo de S. Luiz, de onde acompanhei ao d.to Major na diligencia de reconhecer os sobred.tos Passos, que eu havia goarnecido com os camaradas da minha Partida e varios Milicianos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Nesta occasião passou o Ten.te Gov.or com a sua familia para o outro lado do Uruguay. Segui acompanhando o m.mo Major nos reconhecim.tos dos Passos de baixo, até o sobred.to Povo de S. Fran.co de Borja.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Havendose prendido um Bombeiro Espanhol, que nos deo noticia de haver no Arroyo Camacuam 5 legoas distante deste Povo huã Partida Espanhola de 12 homens, que andava bombeando o m.mo Povo me // ordenou o referido Major a fosse eu atacar, o que fui immediatam.te com 10 homens, de que rezultou morrerem 2 Espanhoes, fugirem os mais, e tomarmos 25 cavalos, dos quaes 5 herão encilhados, sem haver nenhum prejuizo da nossa parte.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Voltei acompanhando o citado Major para o Povo de S. Nicolao ahonde havia chegado <span style="color: #0c343d;">[23 de Setembro de 1801]</span> o major Joaquim Felix da Fonseca <span style="color: #0c343d;">[Joaquim Felix da Fonseca Manso]</span> para Com.te dos mencionados sete Povos, dos quaes se retirou para a Fronteira do Rio Pardo o referido Major de Dragoens.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Aprezenteime ao d.to major Command.te Joaquim Felix procurando as suas ordens e dando-lhe conta de tudo quanto eu até então havia praticado nos mesmos Povos. Encarregou-me da defeza dos sobred.tos Povos de S.ta Maria, S.to Izidro, e S. Lucas; os quaes sendo atacados successivam.te com forsas superiores pellos Espanhoes, forão estes sempre rebatidos com perda deixando a 1.ª vez no Passo de S. Lucas 8 homens mortos, da 2.ª no Povo de S.to izidro levarão muitos feridos; e da 3.ª e, S.ta Maria levarão 2 mortos e1 ferido, não havendo da nossa parte em todos estes ataques mais do q 1 homem morto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Havendo no Povo de S. Lucaz hua Goarda Espanhola de 30 homens, me ordenou o sobred.to Major Com.te passasse eu com 80 homens ao d.to Povo a fazer as hostilidades, que se podese, o que eu executei no dia 21 de Novembro passando o Uruguay pella meya noite, e atacando a dita Goarda pellas 9 horas do dia, ao tempo que recolhião a cavalhada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Matamos 4 Espanhoes, aprizionamos 3, e os mais fogirão deixando em nosso poder 100 cavallos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Fiz montar a cavallo sem demora 20 homens e os mandei bombear até hua legoa distante do Povo da Conceição recolhendo ao mesmo passo os animaes Cavallares, e Vacuns, que encontrassem e quando chegavão de retirada com 200 dos d.tos animaes, vinha em seu alcance hua Partida de 150 espanhoes, aos quaes ataquei com alguns tiros de clavina, de que morrerão 3, e os mais se retirarão, logo que descobrirão a nossa gente: Pouco tempo depois na acção de passarmos os d.tos animaes se encaminharão ao Passso, onde nos achavamos, 300 Espanhoes pouco mais ou menos fazendo-nos fogo com 3 pessas de Artilharia: então os atacamos no mesmo passo com tiros de clavina, e lhes matamos 8 homens incluzo o seu Command.te, aprizionamos outros 8, alem dos feridos, que levarão, e tomamos as dictas 3 pessas de Artilharia com a sua palamenta retirandose desordenadamente os demaes Espanhoes sem haver da nossa parte em todos estes ataques ferido algum.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Continuamos a passar os dictos animaes. Sete canoas que tomamos; e as sobredictas 3 pessas, que conduzimos para o Povo de S. Nicolao.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Quando pensavamos em atacar hum Acampamento de 400 Espanhoes Commandados por um Coronel de Milicias, chegou a declaração da Paz, que se publicou em 24 de dezembro de 1801.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Porto Alegre, 9 de Setembro de 1802</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Manoel dos S.tos Pedrozo</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">esta conforme com o original</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Francisco João Rossio</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">* * * </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Fonte</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Biblioteca Nacional (Brasil), manuscritos, I-31,26,002 (<i><a href="https://bdlb.bn.gov.br/acervo/handle/20.500.12156.3/434061" target="_blank">online</a></i>)</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-14538174745131254282018-04-28T01:18:00.001-07:002018-04-28T01:37:10.895-07:00Celebração da Paixão de Jesus Christo entre os Guaranys (Março de 1818)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifti3tMVPEuJomHBBh4RcXjqNY6Clgku93u-FcWm5ud7CQY-Pr7iBp7F4diCyX6K8uG_lYj6Zmxyv0PFBYfR8bGpyRnSrLOd2KRJ4faMlV-bjffIPtpHmoOl25WabXn2EzmNiN_iV4dMY/s1600/jose+joaquim+machado+de+oliveira.jpg" imageanchor="1" style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: x-large; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifti3tMVPEuJomHBBh4RcXjqNY6Clgku93u-FcWm5ud7CQY-Pr7iBp7F4diCyX6K8uG_lYj6Zmxyv0PFBYfR8bGpyRnSrLOd2KRJ4faMlV-bjffIPtpHmoOl25WabXn2EzmNiN_iV4dMY/s200/jose+joaquim+machado+de+oliveira.jpg" width="160" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DE JESUS CRISTO ENTRE OS GUARANIS.</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(Episódio de um Diário das campanhas do Sul.)</span></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Por José Joaquim Machado de Oliveira, Sócio efetivo do Instituto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os Americanos devem procurar na historia, nas scenas da região que habitam, os quadros, os similes, as imagens, para compor ou adornar os seus escriptos !.... PANORAMA.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">I.</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A Capella de Alegrete.</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No outono de 1818, o acampamento de Alegrete, que fora improvisado em dois dias na margem esquerda do Ibirapuitã (1) pela famosa coluna do General José de Abreu, depois que separou-se da divisão do General Curado, ia-se metamorfoseando em capela, que na Província de S. Pedro é o preliminar de grandes povoações. O primeiro assento do arraial militar foi na ourela do rio, onde este descreve a sua maior sinuosidade, e tem no centro o Passo-geral, que é um ponto convergente de diversas estradas e caminhos, que vem de diferentes povoações e estâncias da campanha. Mas, si esta localidade era azada para o alojamento temporário de guerreiros, que, fatigados de longas marchas, de vigorosas escaramuças contra as hostes de Artigas, e do regido serviço do acampamento do Quaraí, anhelava um paradeiro, que pusesse termo a tamanha lida, não preenchia o objeto e as esperanças do chefe entre-riano, cujo pensamento era erigir uma povoação, que simbolizasse á posteridade seus feitos de armas, e chama-se a civilização e o comércio ao país, que abrangia suas grandes estâncias, e formava o seu melhor apanágio. Esta empresa tinha por fundamento um direito tradicional, que competia aos generais continentinos no cabo de suas campanhas, e para perseverar a extensa autoridade de sua temível espada no remanso da paz e fora das contendas marciais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(1) Rio de Pau-vermelho, ou do Angico, na língua Guarani.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A divisão do General Curado, depois da celebre batalha de Catalán, retirara-se para a margem direita do Quaraí, distinta e pujante com os louros dessa batalha, e das de Arapeí, Missões. Carumbé e Ibirocaí, depois de expelir para além dos confins da província as hostes de Artigas, e de em três meses recuperar o extenso território desde Missões até Quaraí, de que o inimigo se havia assenhoreado com incrível velocidade. Convinha, porém, expurgar completamente de aquém do Uruguai essas hordas barbaras, que tão devastadoras e infensas tinham sido ao solo ocupado, e que de novo tomavam nos campos de Montevideu uma atitude hostil e ameaçadora. A divisão pois teve de deixar aquela posição; e a coluna Abreu, que tão gloriosa parte tivera naqueles sucessos, a substituiu na duplicada tarefa de defender e segurar a fronteira. Seguido de seu ajudante, a quem apelidara com o titulo científico de – engenheiro de acampamento –, e menos por sua capacidade profissional, do que para bem merecer a categoria de fundador de povoações, o enérgico chefe passava as manhãs na colina mais vizinha do Passo-geral a estender a sóga (2), com que traçava instintivamente os cimentos da futura capela.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Do Passo-geral começa a erguer-se uma colina, que a pouca distancia, e como sua primeira ondulação, entra e se confunde na coxilha sobranceira e paralela à margem ocidental do Ibirapuitã, e que se desdobra por uma extensão imensa até o encontro da grande Coxilha de Santa Anna, que vai terminar no Uruguai, alimentando com fontes perenes os dois Ibirapuitãs classificados em guaçú e chico (grande e pequeno), o Inhanduí, o Ibirocaí (rio de pau de canoa), todos tributários do grande Ibicuí (rio de areia), um dos maiores membros do sistema fluvial da província. É nesse risonho sítio que se edificou a atual vila de Alegrete, para cujo fundamento contribuíram o prestigio dos heroicos feitos de armas do General Abreu na guerra contra Artigas, e a sua autoridade militar, elementos estes de que sempre se lia de ressentir aquela povoação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(2) Cordel comprido de couro, que se ala no animal, que sequer conservar preso em lugar onde possa pastar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Já das vizinhas matas se derribavam os angicos, os ipês e os torumans seculares, e das ribas pedregosas do Ibirapuitã desapareciam, como por efeito de incêndio, as toceiras do santa fé (3) e o flexível caraha (4) para a construção das casas, e da igreja onde se devia recolher e adorar a imagem da Virgem Aparecida, depois do seu miraculoso resgate do poder dos artiguenhos, que a tinham arrebatado da capela de Inhanduí, quando em suas primeiras correrias incendiaram aquela sucursal, e que merecia particular veneração do chefe da coluna por tê-lo (como ele dizia) livrado sempre das balas inimigas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Do devoto serviço de traçar as dimensões da igreja compartilhava o sisudo capelão da coluna, que, com uma fisionomia bíblica, e sem alterar o seu andar grave e solene, sempre de acordo com o seu carácter místico e balofa corpulência, olhava o trabalho através de dois grandes vidros, que lhe mascaravam a frente, e indicava com o dedo engastado num ingente anel os pontos que devia abranger o recinto do santo edifício.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Aventureiro no Continente, e por especulações simoníacas entre um povo generoso e ingénuo, cheio de fé e de crença, o bom Padre, a pretexto de auxilio para a construção de uma igreja em país além do Atlante, e cujo orago, por seu assenso manifestado milagrosamente, como ele só afinava, o havia incumbido dos aprestos para essa obra pia, granjeava, mediante o seu sacerdócio impuro, e com uma consciência elástica, um pecúlio em moeda e bestas para o próprio passal. Uma copia viva do polposo Gil Peres de Lesage, mesmo em seu acanhado sensório, nesta criação faceta da natureza o pincel do caricaturista não dependia dos traços de um pensamento fantástico para expor aos dilettanti uma composição risível, um completo exemplar para uma nova epopeia cómico-burlesca.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(3) Uma espécie de gramínea com que se cobre as casas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(4) Outra gramínea, que tem a flexibilidade do vime.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Em quanto os aventureiros entre-rianos, dirigidos pelo seu famoso cheio, lançavam os fundamentos da capela do Alegrete, <span style="color: #660000;">a companhia dos naturais lanceiros com o seu capitão Chico, que formava uma parte integrante da coluna Abreu</span>, e com ela compartira os louros, que a fortuna da guerra dispensara com mão larga a esse general, construia um apêndice da capela, que devia servir para o seu alojamento sob o titulo de aldeia. Não era sem o concurso da gente da raça guarani, que se empreendiam essas povoações nas vastas e remotas campinas do Continente. Submissos no trabalho por mais rude e assíduo que fosse, nimiamente sofredores nas privações, e pouco exigentes no serviço dos brancos eram os guaranis considerados como a parto indispensável e mais interessante dos elementos materiais que entravam na formação desses estabelecimentos; sendo para tal fim atraídos por promessas falazes, por ajustes leoninos, de que só se realizavam os deveres da parte contratada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mui suscetível de impressionar-se dos princípios da religião, do sentimentalismo e do maravilhoso; sugeria a uma intelectualidade abstrata; de uma compleição indolente, linfática; sem energia, sem os improvisos, a penetração, o fogo de um génio ardente audacioso, a tribo guarani recebeu dos seus primeiros civilizadores, os Jesuítas, com um preceito divino, a doutrina insidiosa e infamante, que lhe prescrevia, como a uma raça banal e maldita, a servidão e a ignóbil sujeição aos brancos. Esta herança fatal e cavilosa tem sido transmitida, como um legado sagrado, de geração a geração... e o será até a consumação dos séculos! Seus pais a herdaram dos Jesuítas, eles a legaram a seus filhos com toda a sua perfídia original, e estes não curaram de alienar de seus descendentes tão abjeta condição. Raça degenerada pelo homem civilizado, por ele prostituída, votada sempre à escravidão e à ignomínia, terá de permanecer até a extinção do seu último individuo neste estado de degradação e aviltamento, seja pela sua apoucada inteligência, ou por essa preocupação tradicional do anátema divino, a que supõe-se condenada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Vitima de uma civilização errónea e corrompida, proscrita, aniquilada já, reduzida a pequenos grupos nessas povoações teocráticas do Uruguai, que formam uma parte dessa criação ciclopeana dos Jesuítas na vasta região do Guaira, ou amontoados em alguns recantos das povoações e estâncias da campanha, ou sem habitação fixa, levando uma vida nómada ou selvática nos campos, e nas extensas florestas da serra geral, rojam na miséria, e na indolência e ociosidade; e, como a horda de charruas e minuanos, disputando com as matilhas de chimarrões (5) a posse da avestruz e do poldra da bagualada (6) com que se devem alimentar, ou, em fim, estimulados pela fome e nudez entregam-se á rapina nos campos , de cuja propriedade primordial foram atrozmente esbulhados: e é desta condição degradante, que fica muito abaixo da que lhe competia em relação à sua origem livre, e á sua índole dócil e pacifica, que provem o antagonismo natural e indefinido do índio contra o branco, e essa dissimulação e ar de infidelidade que se discrimina em seu procedimento, quando se acha ao serviço de outros que não sejam os de sua raça, aos quais trata com as mais puras e leais afeições, o lhes procura todos os meios de formar o seu bem-estar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pouco distante da colina em que se traçava a capela de Alegrete, estende-se outra menor, separada daquela por uma quebrada (garganta) do terreno, em cujo fundo serpeava uma sanga (sanja), que ia abicar no Ibirapuitã, e servia de esgoto ás enxurradas. <span style="color: #660000;">Esse sitio de menor superfície, e em gradação mais inferior, foi o designado para o alojamento da companhia de lanceiros, que ao depois tomou o nome mais significativo da aldeia</span>. A quem não conhecesse o indeclinável divórcio, que subsiste entre as duas raças, esse muro de bronze que as separa, e que só há de desmoronar-se com a extinção dos indígenas; só pela simples comparação desse local com o da capela, lhe seria manifesta essa deplorável rivalidade, que por três séculos tem enchido de acerbas dores os corações bem formados. Em breve tempo fantasiou-se ali um grupo de copes (7) com suas ramadas na frente, e a cujo delineamento e obra presidiram a confusão e a negligencia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(5) Bandos de cães bravios, vagando nos lugares onde pasta a bagualada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(6) Manadas sem numero do animal cavalar, que andam montadas e sempre a corso com incrível velocidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(7) Pequenas cabanas construidas de madeira e palha, em que habitam os índios guarani.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Além da necessidade, que pungia os guarani para a fabricação do seu alojamento, de se garantirem da intempérie das primeiras geadas do inverno, que já em Abril começam alvejar os campos ; cumpria-lhes também celebrarem a paixão de Jesus Cristo na quaresma daquele ano, segundo as formulas praticadas pelos jesuítas, e que lhes foram transmitidas com zelo, perseverança e acatamento. Esta piedosa comemoração, interrompida pela guerra com dor mística dessa gente, devia exercitar-se então em grande aparato, e com todo o apuro de sua dedicação ao Crucificado, menos por intrínseco sentimento de crença ortodoxal, do que por imitação e costume tradicional; convencendo-se devotamente de que, quanto mais se manifestassem contritas as consciências, e votadas a toda a expiação; quanto mais compungentes fossem suas oblações propiciatórias, melhor aplacariam a cólera divina em que supunham ter incorrido pela involuntária interrupção da serie ânua desses atos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A religião, na fraca e acanhada inteligência dos guarani, torna-se para eles o mais forte, e por assim dizer, o único habito moral da sua vida: o objeto mais essencial que ela lhes apresenta, e que lhes sugere a mais escrupulosa atenção, é o culto explicito das imagens exercido com estrépito e aparato singelo; e o ministro deste culto, que eles olham como o dispensador das graças celestes, que pode pela forca maravilhosa de suas orações, e interposição de oferendas, amenizar a intempérie das estações, neutralizar os males físicos e aflições da humanidade, fazer abundantes os frutos da terra, e predispor o caminho para a felicidade eterna atrai facilmente as suas mais vivas e ternas afeiçoes, e tem sobre seus ânimos um predomínio exclusivo. É assim que com esta suscetibilidade ascética fundaram os jesuítas esse predomínio, e lhe revestiram de tal consistência, que, atravessando os tempos e afrontando a luz da civilização, ainda deve preponderar até o desaparecimento do ultimo individuo genuíno da raça.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>II.</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>O Concurso festivo.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O boato da ereção da capela de Alegrete com a aldeia acessória, e de que <span style="color: #660000;">os guarani da coluna Abreu se propunham a restabelecer ali a celebração ânua da paixão de Jesus Cristo</span>, tinha divagado de estância a estância, de povoação a povoação, e chegado mesmo ás sete Missões do Uruguai, essas reminiscências verminosas, e padrões seculares do imenso poderio dos filhos de Loyola.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A par dessa noticia ia medrando a fama das proezas bélicas desse chefe, que por muitos anos teve a vitoria atada aos tentos do seu lombilho (8), e que restituiu heroicamente à lide marcial, sucumbindo na batalha de Ituzaingó, os títulos e honrosas condecorações que ela lhe havia brindado com mão generosa. A presença deste bravo e singelo filho do campo enlevava todas as considerações, e atraía todas as simpatias; tinha um absoluto domínio sobre todas as convicções, todos os alvedrios... Como é que se pôde definir esta preponderância deslumbrante, esta espécie de magnetismo, que é propriedade do guerreiro feliz, do homem que melhor sabe reprimir a comoção que sugere a presença do perigo, que sobrepuja a essa alienação rápida que surpreende todas as suas faculdades? Como essa superioridade moral, que tem o seu melhor apoio em factos de armas, e este ar de autoridade, que mais impõe a homens simples, do que aqueles que tem a razão mais cultivada?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tais noticias puseram em movimento para o Passo-geral do Ibirapuitã numerosos bandos das diversas raças que habitam o departamento de Entre-rios até ás suas mais longínquas paragens.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não era sem interesse ver uma família guarani em viagem. O seu chefe tinha a precedência na marcha, arriando (9) os cavalos que não eram montados; vestido mui singelamente, envolvida a cabeça em um pano, e cingindo a cintura o inseparável cheripá (10), do qual pendiam a guampa, e a faca encastoada em tangori, apresentava-se apto para voltear o laço e as bolas, e a disparar sobre a bagualada, quando vinha em um cordão incomensurável reconhecer os viadantes, ou sobre a avestruz, que fugia com carreira tortuosa, e equilibrando-se nas asas estendidas. A pouca distancia dele ia a china, mãe da família, cavalgando o animal mais pacifico da tropilha, e cobrindo-lhe a cabeça e as faces um lenço vermelho (panhoêlo puitam), que se confundia com a cor de seu rosto, mais aproximado à linha circular que à oval. Se tinha filhos pequenos, trazia-os engrupados sobre a montaria, e ligados a si com o cheripá; e na sua falta gozava das honras da garupa o perrito mais mimoso da numerosa matilha, que a seguia de perto, o qual se sustinha por si mesmo, equilibrado em sua posição, ainda que a cavalga dura galopasse, pelo habito que tinha de ser assim transportado. Pendiam aos lados do lombilho, e cruzando o assento por baixo do pelego, (11) a maleta e o possoêlo, que continham o vestuário festivo da família; e circundavam o colo esguio do paciente animal rolos de sogas, e enfiadas de porongos cheios de água para a jornada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pejado de gelos, e impelido pelo violento e frígido Minuano (12), entrava o inverno despojando os salsos e as timboubas de sua linda folhagem, e amarelecendo os campos. No crepúsculo da tarde já não se ouvia o saudoso piar da codorna, que agachada na touceira de macega, evitava temerosa as garras do carnívoro chimango, que esvoaçava em redor. Já o garruto e vigilante quero-quero não estendia os seus voos muito além dos banhados, e posto num desplante quase vertical esperava atento o inseto com que se alimenta, e que nos lugares mais relvosos busca abrigo contra os arremessões do Minuano. <span style="color: #660000;">O cope indiano de Alegrete já acolhia o soldado de formas atléticas do capitão Chico, e sua família; e à porta de sua cabana via-se cintilar com a luz do sol a temível lança, que tantas vezes se enristara contra os artiguenhos, e que aí se hasteava durante o dia, como o marcial distintivo de um lanceiro de Abreu</span>. As famílias guarani, que ocorriam para a piedosa celebração da paixão do Redentor, tinham hospedagem aberta na aldeia: sendo-lhes comum o trabalho e aprestos que procediam esse ato, afim de preenchê-lo sem omissão da menor solenidade, sem deixar-se de observar escrupulosamente os preceitos tradicionais que lhe eram atribuídos, e que os velhos índios tinham bem impressos em sua memoria.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(8) Para bem compreender esta frase local, cumpre saber que nada assegura tanto o ânimo e pujança do cavaleiro do Sul, e firma sua esperança, como o laço que traz enrolado ao lado direito da garupa, e preso a atilhos de couro, a que chamam tentos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(9) Palavra que equivale a arrebanhar, ou levar diante de si uma ponjão de animais cavalares ou vacuns.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(10) Pedaço de baeta de cor frisante, com que os homens do campo cingem o ventre, e serve para diferentes místeres.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(11) Pelego: pele de cordeiro que serve de cochim sobre o lombilho. Maleta: sacco estreito com dous fundos para conduzir fato. Posoêlo: alforges de couro cru, que se traz sobre a garupa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(12) Vento do Oeste.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>III.</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Domingo de Ramos.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Era Domingo de Ramos [15 de Março]; e ao primeiro alvor do dia, <span style="color: #660000;">depois da chamada militar dos lanceiros, dirigiu-se a companhia, de mistura com os seus hospedes, ao mato vizinho</span>; e, passado algum tempo voltaram para a aldeã processionalmente e conduzindo cada um índio uma grande braçada de folhas da palmeira geribá, que servissem para colmar as cabanas onde se devia exercer o serviço divino durante a semana da paixão, e representar os últimos martírios do Salvador.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Este préstito misterioso, imitando a oração triunfal do Homem-Deus, quando se apresentou às portas de Hyerosolima [Jerusalém], executou-se silenciosamente e com regularidade militar: e os índios, envolvidos nas folhas, semelhavam massas moventes de verdura, que caminhavam para a aldeia por própria ação, a formar os recintos em que se deviam praticar aqueles atos expiatórios. Nesse dia, precedendo a bênção da cabana, que devia servir de santuário naquela solenidade, aí celebrou missa o capelão de Alegrete, anunciando à devota assembleia que ia começar a semana em que a cristandade comemorava a paixão de Jesus Cristo, e devia manifestar-se contrita por piedosos exercícios, e por atos expiatórios de penitencia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ao mesmo tempo que se construia a cabana onde se de viam observar os ofícios divinos, outra se elevava á pouca distancia dela para os exercícios flagelatórios daquelles que se dedicavam à penitência afim de aplacar a cólera da Divindade, e torná-la propícia, dilacerando com rudes açoites suas próprias espáduas, e suportando com estoica resignação os mais bárbaros tormentos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Na tarde desse dia, e em reunião geral dos aldeões apresentaram-se ao seu chefe os que se propunham à penitência. Depois de uma breve elocução da mui acatada autoridade, enunciada no idioma guarani, em que significava quanto seria do agrado da Divindade (Tupâ) a pública e espontânea dedicação a esse ministério expiatório da mais exaltada crença, devido menos a um pensamento de dor moral e de eternidade, que ao de excitar a admiração por um robusto sofrimento nas torturas da flagelação e das macerações corpóreas, dispersou-se a assembleia, tributando, desde logo, deferências e homenagens aos candidatos à representação simbólica do Redentor, e contemplando-os como predestinados por uma inspiração celeste para exercerem as funções mais augustas e religiosas na celebração a que se dedicavam.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O numero dos penitentes era indefinido; mas, dentre eles o que mais duramente se atormentasse, o que mais sangue vertesse nas flagelações que se impunha, e que se sustivesse na mais absoluta abstinência, era o escolhido para representar naquela cena o papel de Jesus Cristo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os homens que se apresentavam para tais provas de um fanatismo sublimado ficavam logo separados de suas famílias e sócios; manifestando por este total isolamento que, como se considerassem eles os maiores pecadores, e os que por suas profanações às coisas santas, tinham incorrido na cólera celeste, eram indignos do trato humano em quanto se não purificassem por um modo, que aplacasse essa cólera, e assim fossem restituídos ao grémio dos fiéis.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>IV.</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>A penitência.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os dedicados a este ministério, que desde logo foram encerrar-se na cabana da penitência, começaram as suas flagelações na quarta feira de trevas. Nus da cintura para cima, ajoelhados, silenciosos, com a cabeça inclinada para o chão, a mão esquerda sobre o peito, e a direita empunhando um látego de couro, com ele descarregavam sobre suas próprias espáduas amiudados golpes com a mais rude impassibilidade, e sem o mais leve indicio de sentimento de dor. Dir-se-ia que estátuas de cobre por um oculto maquinismo figuravam aquele perene movimento.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia e noite eram os penitentes empregados neste descomunal exercício, que macerava o corpo, e atenuava as forças; privados de alimento, e assistidos de um servente, que era empregado em fazer sarjaduras nos lugares mais contusos do corpo para evitar a coagulação do sangue. O que via à roda de si o chão mais ensopado do sangue que vertia de suas feridas; o que mais cruamente rasgava as suas carnes, e que mais vezes caía por terra desfalecido, e inanido de alento, deixava entrever em seu aspeto, quando suas dores o consentiam, um ar de vanglória de ser talvez o predestinado para simbolisar o Homem-Deus em seus martírios e sacrifício humano. Ufano com esse pensamento, ele já se afigurava como o mais esforçado vencedor do espírito mau (Anhâ), e como o que mais valentes provas tinha dado do seu desprezo da dor, e por isso com direito à admiração e deferência dos da sua raça, que invejavam tão assombrosa dedicação. A vaidade supersticiosa, ante que a genuína fé cristã, dominava o espírito tão fraco e tão contraído destes filhos singelos da natureza selvagem, que, quando se não pudesse dizer que estavam no seu estado normal, com verdade seriam julgados como induzidos a erro, ou porque entrassem na sua primitiva civilização alguns elementos inspirados pelo fanatismo religioso da idade media, ou porque os sucessores dos jesuítas, abstraídos inteiramente daquela missão, de nada mais curassem que de neutralizar neles os atributos da razão para o melhor complemento dos seus fins. A tribo guarani, tão dócil, de um ânimo tão flexível, tão rica de suscetibilidades sociais, tocou o ponto do começo do seu aniquilamento da extinção dos filhos de Loyola. De sua transição do regime teocrático, austero, porém de absurda prática desses audaciosos doutrinários, para a dura servidão portuguesa, teve o principio a espantosa cadeia de males que o destino lhe lançou, e que a tem arrastado à ultima degradação e miséria.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O dia de quinta feira de Endoencas [19 de Março] foi ocupado nos aprestos para a procissão de enterro, que teria lugar no seguinte, O interior da cabana que servia de casa de oração estava coberto de preto, e sobre uma banqueta alta, construida de varas e revestida de pano branco, via-se colocado um crucifixo entre duas velas acesas, assentadas em castiçais de barro. Outras velas, engastadas em estacas de taquara, bordavam o recinto da casa, cujo pavimento era juncado de folhas de mata-olho; e ao lado direito da entrada via-se presa à parede uma guampa com agua benta e hissopo de cabelo para as aspersões dos que iam visitar o santo albergue, e oscular a peanha do crucifixo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">As imagens do Salvador e dos Bemaventurados, que formam o cortejo celeste, eram obra das mãos dos índios, qualquer que fosse a matéria de que para esse efeito se servissem, Sem as mais superficiais noções artísticas, só com a habilidade que sugere o natural discernimento, e por génio de imitação, fabricavam eles esses e outros muitos objetos com suportável execução, posto que nas imagens se divisassem impressas essas formas características do tipo indígena, essas atitudes e estilos que lhe são peculiares. Assim ó que a copia do gentil e nítido semblante de Santo António era formulada pelo fusco carão de um índio quinquagenário, com todas as suas feições e gestos agrestes, e o cabelo hirto; e o Divino Filho da Virgem de Idumeia, que se assenta nos braços do canonizado paduano, expondo idêntica fisionomia à de uma criança índia, tinha por vestes um ponche de seda orlado com fímbria de ouro, Destas imagens andavam sempre providas as maletas das chinas em suas viagens, e, como os Penates dos Romanos, eram expostas no interior dos copes,</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">quando os podiam construir para receberem as manifestações devotas da família.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Em ponto do meio dia, e ao rufo surdo de um tamboril coberto de pano negro, que se fez ouvir em todo o contorno da aldeã, começou a reinar o mais profundo silencio.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tomaram as mulheres uma vestimenta negra, e soltaram os seus longos cabelos de ébano, em sinal de luto e dor, desatando-se de todos os laços sociais e místeres domésticos, e jazendo sentadas em um canto da cabana, imóveis, lastimosas, com as cabeças inclinadas para o chão, e no estado de um absoluto recolhimento moral. Nem o filho pequeno, que choramingava-lhe ao lado por falta de alimento, nem o cãozinho favorito, com o qual é tão meiga e complacente, e que exigia as habituais carícias, a retiravam desse estado de arrobo místico e exagerado ascetismo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Uma cena tocante ocupou a espectação publica, à noite e depois da adoração do crucifixo, que se executou ao som de uma vozearia estrondosa e fúnebre, c com uma musica sepulcral. Prestada aos pés da banqueta que servia de sobpedâneo ao crucifixo, a índia que excedia as outras em longevidade, desferia um pranto lúgubre e horroroso à maneira das antigas carpideiras nos funerais, e balbuciava algumas palavras no seu idioma, entrecortadas de arquejos e soluços pavorosos. A horrível Sara americana, de guedelhas soltas, por entre as quais mal se enxergava um semblante engelhado e cadavérico, de mãos postas, e deslisando contorsões colubrinas para empregar mais veemência em suas vociferações, extasiava em redor de si uma multidão de povo, estupefacto de um quadro tão assombroso. Via-se nos índios a consternação, o enternecimento, e a contrição idiota que se deriva da impressão de objetos de terror, e não da comoção de uma consciência ascética; e mais de uma lágrima caía-lhe dos olhos misturada de soluços, que em pouco tempo se convertia em pranto geral e contagioso : e nos brancos, o característico do desprezo e escárnio, revelado por um gesto mofador. que de certo daria origem a algum desaguisado entre as duas raças sempre em rixa, sempre divorciadas, se por ventura os índios estivessem menos habituados a sofrer da parte dos brancos o trato mais ignominioso, e injuriosa zombaria pelos atos da sua crença religiosa. A compunção e piedade que a espantosa carpideira ganhava daqueles pelos seus lutuosos acentos e exclamação sibilina, perdia nestes por efeito do seu aspeto hediondo e horrível, e das suas gesticulações mímicas. Os olhos que lacrimosos contemplavam o símbolo do nosso resgate, em que</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">foi vitimado o Salvador, não podiam exprimir um pensamento doloroso, quando da cruz desciam descridos para a forma mosaica da tanajura secular.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Por um estudo continuo e aprofundado sobre a índole e compleição dos indígenas, e sobre suas acanhadas faculdades intelectuais, entenderam os jesuítas, seus primeiros civilizadores, que maior impressão fariam neles as ideias, que fossem representadas por objetos materiais, por ações físicas, que pertencem à possibilidade do homem, do que o pensamento moral, esse complexo de partes abstratas, que só compete ao domínio da potencia intelectual.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Queriam eles que os princípios religiosos falassem antes aos sentidos do que à imaginação; e é por isso que dos preceitos da crença, de que foram imbuídos os guarani, compreenderam estes que, materializada a divindade do Homem-Deus, ou transubstanciada em faculdade discernível, teve de achar-se na terra em luta com o poder infernal, que com este guerrearam as coortes celestes, vindo por fim a sucumbir o Filho de Deus, e a ser supliciado na cruz.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Preocupada cem estas insinuações erróneas, a deforme energúmena engrasava em sons inarticulados, monótonos roucos e lúgubres, algumas frases isoladas, que no próprio idioma exprimiam os essenciais atributos do Redentor, a dor dos seus martírios, e a cólera e indignação</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">pelo suposto triunfo do espírito das trevas, e a consumação do cristicídio. Nesta emfática e lastimosa apóstrofe ouviam-se repetidamente as palavras: - Christó opá anhundojára!.... omanó catu!! - (Cristo foi morto pelo demónio!.... sim, padeceu morte!!); e a elas seguiam-se vociferações horríveis, e exclamações descomunais, que produziam terror e espanto no animo dos índios que ali se achavam. Esta cena estranha, que ao mesmo tempo inspirava sentimentos opostos. de dor e de riso, durou algumas horas; substituída a carpideira, que a representava, depois de rouca e inanida de forças, por outra que tinha o mesmo devaneio de compungir o auditório, e dessarte fazer jus ao salário estipulado para semelhante exercício, o qual ordinariamente consistia em um trago de canha (copo de aguardente de cana) oferecido na pulperia do Pechincha, donde se retirava ébria e possessa de espírito mui diverso daquele que uma hora antes lhe ocupava a mente... Que transição !</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Em toda a manhã de sexta feira [20 de Março] não se enxergou na aldeia pessoa fora de casa: parecia que havia sido abandonada dos seus habitantes e hospedes, ou que tivera lugar um daqueles movimentos imprevistos e rápidos, a que os Cossacos de Abreu estavam habituados para obstar alguma tentativa ou correria das hordas de Artigas. Talvez que se pudesse dizer que dominava ali o silencio dos túmulos, se os que se haviam dedicado desde quarta feira de trevas ao flagelo penitenciário suspendessem tão mortificantes provas de fanatismo brutal. O som compassado e surdo dos açoites, e o zunido rouco e monótono das cigarras, que, pousadas no espinilho (13), ainda sussurravam sua despedida aos últimos dias do moribundo outono, era o que ali revelava fracos sinais de lânguido movimento e frouxa vida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Este exame foi cometido à autoridade militar do capitão Chico, que, para realizá-lo convocou a conselho os oficiais da companhia, os quais, ornados com as insígnias de suas graduações, dirigiram-se para a cabana expiatória, e aí aventaram esse caso com a consciência de austeros julgadores, que vão a decidir da existência de um grande culpado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Instituído, pois, um minucioso exame sobre provas tão barbaras, designou-se definitivamente o mísero paciente, sobre quem deviam ainda pesar novas e severas flagelações. Estremado ele dos seus consócios do martírio, deu-se por finda a penitencia, e, depois da retirada pesarosa dos outros candidatos à representação do Salvador, por não terem obtido a preferência, lançou-se-lhe uma tipoia (14) do cor negra, cingindo-lhe a cintura um cordão de couro da mesma cor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Apenas anoiteceu, a repetição da scena das carpideiras excitou outra vez a curiosidade piedosa do povo guarani, que corria em grupos para o sitio onde ela ia reaparecer. O crucifixo, que se colocara sobre a banqueta da santa cabana, foi substituído por uma cruz preta, assentada em peanha de barro, e de cujos braços pendiam tiras de pano branco.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(13) Arbusto pertencente á família das Mimosas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(14) Vestimenta talar, á imitação da antiga tunica, que as mulheres Guaranys trajam em casa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>V.</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>A Procissão de enterro.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eram 10 horas da noite de sexta-feira. O tempo estava sereno, e o claro da lua mal podia penetrara densidade do vapor atmosférico, que, subindo, aglomerava-se sobre o circuito da aldeia, e caia em moléculas subtilíssimas humedecendo a terra. Ouvia-se ao longe os agudos acentos do jaguarete pousado no mais alto angico, e os rugidos do guarachaim em seu curso noturno.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Um sussurro inqualificável, e o separar-se para os lados em duas partes o povo que tinha afluído para o contorno da cabana consagrada ao santo ministério, denunciaram que ia aparecer a procissão do enterro, longo tempo esperada. Todas as vistas, todas as atenções convergiram para aquele ponto; e a presença acatada do chefe de Alegrete, trajado de aparatoso uniforme, impôs maior silencio do que aquele que devia sugerir a representação fúnebre de um ato, que os guarani profundamente reverenciavam.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Precedia ao préstito funeral uma cruz alta feita de taquaruçú, e hasteada por um menino envolvido numa vestimenta roçagante de cor preta, e cobrindo-lhe a cabeça um pano branco, sobre o qual assentava uma coroa de espinhos. Aos lados da cruz. e com os mesmos envoltórios, marchavam dois meninos com ciriais de taquara, em que ardiam velas de cebo. O exterior da procissão era guarnecido por duas alas de lanceiros, em traje de guerra, em numero de 50 a 60, empunhando ciriais semelhantes aos que iam aos lados da cruz que abria o préstito. No intervalo das alas movia-se lentamente, e com um ademan devoto e melancólico, uma numerosa fileira de meninas, vestidas de túnicas de pano branco, com os cabelos soltos, e coroas de espinho sobre suas cabeças, que se inclinavam para o chão: cada uma delas conduzia em suas mãos uma forma simbólica, e em miniatura, dos objetos que figuraram no martírio e paixão do Crucificado, e dos atributos físicos e morais, que se reuniram à sua essência divina. Viam-se nesta série, entre outros emblemas, o galo que com o seu tríplice canto revelou Pedro a culpa da sua estranha negativa, os trinta dinheiros que recebeu o discípulo traidor, o azorrague, a lança de Longuinhos [Longino], a escada do descimento, a coroa de espinhos, os cravos; assim também os peixes e pães reproduzidos nas bodas de Caná, a espada com que se armou contra o espírito das trevas, representado por um dragão de colo entonado, e as insígnias que lhe compeliam como o Rei profetizado da Judeia. Fechava a procissão um grupo de músicos, garganteando uns a ladaínha com uma voz chula e dissonante, e outros fazendo guinchar com sinistro alando algumas rabecas, obra de suas próprias mãos ; levando os que iam na frente deslocadores, e pregados no dorso, grossos cartões de musica, representada por grandes notas sobre pedaços de couro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Como uma parte adicional da procissão seguia-se logo outro grupo armado de lanças, em cujo centro se distinguia, com as mãos atadas, diadema de espinhos na cabeça, e túnica preta, o miserando penitente, sobre quem tinha recaído a escolha para simbolizar o Homem-Deus, e que se pavoneava de que sua constância e sofrimentos assombrosos lhe dessem a preferência de apresentar-se em holocausto e vitima propiciatória ao Criador para remir a criatura. Com passos mal seguros, e aspeto aonde se vislumbrava entre os sinais de rudes tormentos o entusiasmo supersticioso de ter chegado a merecer a atenção publica, e a especial veneração dos da sua raça, pela firmeza e resignação com que se houve na severa flagelação de que saíra, caminhava o martirizado representante do Salvador, a quem os da escolta que o cercava não poupavam azorragadas, violentos arremessões, bofetadas e insultos ignominiosos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Com este grupo ia um pregoeiro que, sempre que o prestito suspendia a sua marcha, apontando para o martirizado, e com atitude pujante, exclamava com detestável pronunciação a forma sacramental— Ecce homo —. Ouvindo esta exibição, o misero preconizado por um doloroso esforço estirava o corpo, elevava a cabeça (querendo sobre sair ao grupo que o circulava, e em um desplante ridículo, trabalhando para arremedar um gesto bíblico, manifestava a enfática alucinação de que se achava dominado por haver atraído a vista dos espetadores, e persuadir-se que os tinha ensopado em sentimentalismo religioso, o abismado em profunda consternação. Pelo contrario, se pelos gestos e sinais externos podem-se discernir os sentimentos íntimos, os brancos com um sorriso mofador revelavam um pensamento de dó por tão miseráveis apreensões e preconceitos, e os índios faziam só apreço do desgarro do energúmeno, e da gesticulação horrível com que ele suportava os golpes do azorrague.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Após este grupo, e pondo fecho a todo aquele espetáculo, ia uma mulher desfalecida nos braços de um </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">índio, que representava a mãe do Crucificado, sustida pelo Evangelista que assistiu à sua paixão. Tinha por séquito uma multidão de mulheres, que levavam ao seu lado seus filhos menores de mãos postas, e que caminhavam vagarosamente com luzes nas mãos lavadas em prantos, e soltando arquejos e soluços. Em presença desta cena caíam de joelhos os índios que a observavam; e num arroubo extático e devoto batiam nos peitos com veemência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Depois de um giro prolongado e vagaroso, que durou até a meia noite, dissolveu-se a procissão como por um encantamento, tomando cada comparsa diferente direção confundindo-se na massa dos espetadores.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Conclusão.</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ao primeiro clarão da manhã de sábado [21 de Março], ouviu-se o tambor da aldeia, acompanhado de pifanos, anunciar a aleluia em rufos descompassados e em dissonantes assobios. A cabana da penitencia tinha desaparecido, e em seu lugar hasteara-se um poste elevado, donde pendia um mal formado manequim, figurando o traidor Escariota, que tinha vendido o Divino Mestre; o qual arrancado de sua posição pelo laço de alguns cavaleiros, em poucos momentos foi reduzido a mil pedaços.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ao tambor, que não cessou de rufar, congregaram-se vários tangedores de viola e rabeca, e em breve tempo o mais desentoado alarido de mistura com festivos hosanas difundiu-se da aldeia à capela de Alegrete; e esta retumbante folia, com um séquito numeroso de mulheres e crianças, trajados de gala, e em cujos fuscos semblantes reluziam a alegria e o contentamento, corria as ruas proclamando a aleluia e recebendo a espórtula de tão festivo anúncio. Depois de feita a coleta, cujos contribuintes eram retribuídos por uma ruidosa fanfarra, o bando folgazão recolheu-se aos seus copes, conscienciosamente pago de ter, segundo as regras e preceitos tradicionais da sua primitiva associação, desempenhado com o possível escrúpulo a celebração da paixão de Jesus Cristo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">* * *</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Fonte</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">José Joaquim Machado de Oliveira, "A Celebração da Paixão de Jesus Christo entre os Guaranys (Episódio de um Diario das campanhas do Sul)", in: Revista Trimensal de História e Geographia, tomo IV (2.ª edição), Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1863, pp. 331-349 [nota: 1.ª edição em 1842]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A transcrição foi feita modernizando a ortografia e com anotação cronológica tendo por base a data de 22 de Março como o Domingo de Páscoa em 1818.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-11139164985777750882017-10-14T04:25:00.000-07:002017-12-20T15:23:41.398-08:00Memória da Tomada dos Sete Povos de Missões da América de Hespanha (Gabriel Almeida, 1806)<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrHCBkoKnXK2Yz1KxGRu9VOdVwz3hoTozjGFwoGW4iccy7r3LofUUU6SWLeJObqJPaItFH8TG_DeMotMhQ6gvYF4WhYDYzjya6xkaiSL_7lxj-DlH4KBkDrfh2XXJm2ZuWGHuG7ia3ieTi/s1600/Miss%25C3%25B5es.jpg" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrHCBkoKnXK2Yz1KxGRu9VOdVwz3hoTozjGFwoGW4iccy7r3LofUUU6SWLeJObqJPaItFH8TG_DeMotMhQ6gvYF4WhYDYzjya6xkaiSL_7lxj-DlH4KBkDrfh2XXJm2ZuWGHuG7ia3ieTi/s1600/Miss%25C3%25B5es.jpg" /></a></b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>MEMORIA DA TOMADIA DOS SETE POVOS DE MISSÕES DA AMERICA DE HESPANHA</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Que hoje se acham annexos ao dominio do principe regente de Portugal, nosso senhor: escripta em Lisboa, no anno de 1806, por Gabriel Ribeiro de Almeida.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Governava a capitania do Rio Grande de S. Pedro o tenente general Sebastião Xavier da Veiga Cabral, quando no anno de 1801 se declarou a guerra entre Portugal e Hespanha. Logo que lhe chegou esta noticia por Pernambuco, mandou pôr editaes, para que os povos conhecessem a nação hespanhola por inimiga. Não ha palavras com que se expresse o alvoroço de todos os habitantes d'aquella capitania, na esperança de fazerem com as armas na mão uma divisão de limites mais vantajosa. Recebida emfim a certeza por officio do vice-rei do Rio de Janeiro, feita a declaração da guerra com a formalidade do costume, mandou o governador apromptar as tropas, tanto pagas como milicianas; mas reflectindo que o meio mais essencial de conservar a disciplina nos corpos militares, e individualmente a satisfação de cada soldado pelo bem do real serviço, é tel-os bem pagos de seus soldos, e vestidos de seus uniformes, e que desgraçadamente aquella tropa estava reduzida á ultima miseria, não tendo por si mais que a sua coragem, pois que a thesouraria do Rio de Janeiro, por quem n'aquelle tempo eram pagos, lhe devia distinctamente doze para quinze annos de soldo, e outro tanto ou mais de fardamento, por unico recurso contou com a disposição dos povos para vestir a tropa, pois os via tão desejosos de guerra; deu as ordens aos chefes dos regimentos, tanto ao coronel Manoel Marques de Sousa, como ao tenente coronel Patricio José Corrêa da Camara, que convocassem as pessoas principaes do povo, e lhes expozessem a necessidade que havia de soccorrera tropa para marchar n'aquelle rigoroso. inverno a campanha. O mesmo espirito de patriotismo, que havia feito que os povos gostassem entrar voluntariamente na guerra, fez com que em poucos dias se vestisse a tropa; porque, os que não podiam dar dinheiro davam pannos, hois, cavallos, carros e escravos, offerecendo aos trabalhos tudo em beneficio da tropa e do estado, eisto continuaram a praticar em toda a guerra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dividido o exercito em dois corpos, o fez marchar para as fronteiras respectivas, uma do Rio Grande, e outra do Rio Pardo; a do Rio Grande, commandada pelo coronel Marques </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">de Sousa, se compunha de oitocentas praças, a maior parte milicianos; e a do Rio Pardo, commandada pelo tenente eoronel Patricio José Corrêa da Camara, se compunha de setecentas praças, tambem a maior parte milicianos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">N'esta mesma occasião chegavam os mais poderosos d'aquella capitania a pedir licença ao governador para levantar companhias de gente de cavallo, e armal-os a sua custa, para sahirem contra o inimigo; e os mais pobres se juntavam em ranchos, e faziam o mesmo: e como todos levavam facil concessão, concorreu para o exercito gente innumeravel e resoluta, com faculdade de passar adiante dos exercitos, e fazer as hostilidades possiveis ao inimigo. D'esta sorte se apresentou n'aquella fronteira um exercito formidavel, não tanto pelo numero dos individuos, como pela disposição dos animes, e isto sem despeza do estado, e a maior parte d'estas tropas milicianas, esta a mais atrevida, robusta e activa nas suas campanhas, em quem os povos confiavam o seu triumpho.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os hespanhoes, vendo os movimentos dos dois exercitos portuguezes, que marchavam para as raias, abandonaram as guardas, de maneira que já as nossas tropas não acharam nas ditas guardas senão as barracas, que logo demoliram, e começando pela lagôa Merim para o Norte, eram as guardas as seguintes: 1.a, a da Lagôa; 2.a, Quilombo; 3.a, S. José; v4.2, Santa Rosa; 5.a Santa Tecla; 6.a, Taquarembó; 7.a, Batovi; 8.a, S. Sebastião; as duas ultimas para a parte de Missões, e as mais da parte de Montevideo, confrontando com o Rio Pardo e Rio Grande; e da Lagoa Merim para o Sul, no estreito e terra que corre entre ella e o oceano, haviam duas guardas, que foram avançadas pelo capitão Simão Soares da Silva, e o tenente José Antunes, que do Rio Grande sahiram para atacar aquellas guardas, quando marchava o exercito para a fronteira; pois não deixou de lembrar ao governador que podia entrar o inimigo por aquelle estreito entre a Lagôa Merim e o oceano, e vir sorprehender a villa de S. Pedro, na ausencia d'aquellas tropas, cujos officiaes destruiram as ditas guardas, e se retiraram com o despojo que n'ellas acharam.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Retirando-se os hespanhoes das guardas mencionadas, se recolheram e reuniram em um forte de campanha denominado Serro Largo, e alli se fortificaram.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Entre os voluntarios paizanos que se offereceram para ir contra o inimigo, foi um d'elles Manoel dos Santos Pedroso, homem fazendeiro e soldado miliciano; e obtida a licença, marchou com 40 homens, de que se fez chefe, atacou e pôz em fugida a guarda de S. Martinho, e na posse d'esta, passou a saquear algumas fazendas; n'estas immediações se retirou com mais de 100 animaes vaccum e cavallar deixando em abandono aquelle posto; e o capitão Francisco Barreto, aproveitandose da occasião, não se descuidou de pôr immediatamente guarda nossa, pois é principal entrada para Missões. José Borges do Canto, e eu com 40 homens, fizemos a grande conquista de sete povos de Missões, que vou a referir.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O dito Canto tinha sido soldado de Dragões, e antes de ser disciplinado no seu regimento havia desertado, ha bastantes annos, e vivia entre os portuguezes e hespanhoes n'aquella vasta campanha povoada de uma nação de gentios charruas e minuanos, couto e refugio dos criminosos de ambas as nações. O dito José do Canto ora entrava na capitania do Rio Grande de S. Pedro, d'onde era natural, ora nas terras dos hespanhoes,a traficar contrabandos: em uma e outra parte passeava occulto, pois se tinha feito celebre com a sua vida extravagante e odiosa a ambas as nações; e sabendo que havia perdão geral aos desertores, se apresentou ao tenente coronel Patricio José Corrêa da Camara, e pediu licença para sahir a fazer alguma hostilidade ao inimigo; e obtida que foi esta, sahiu por entre as fazendas, convocando alguns seus conhecidos, e incorporou comsigo 14 homens.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Andava n'esta mesma diligencia um tenente da capitania de S. Paulo, chamado Antonio de Almeida Lara, que por seu negocio vivia n'aquella capitania; este tinha comsigo 12 homens, e se incorporou com o dito Canto, e sahindo ambos para a fronteira, chegaram á guarda denominada S. Martinho, onde eu estava destacado debaixo das ordens do alferes André Ferreira, que alli commandava sujeito ao capitão Francisco Barreto, que commadava aquelle districto, e se achava distante duas leguas, e respondia por elle ao tenente coronel Camara.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Na dita guarda me offereci a acompanhal-os, levando em minha companhia 6 camaradas da mesma, e no primeiro dia de marcha encontramos 8 homens, commandados por Antonio dos Santos, que andava explorando a campanha, e unindo-se tambem a nós, com estes completaram 40 homens de armas, com os quaes se fez a conquista, que vou descrevendo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Entrámos n'esta campanha no mez de Agosto na força e rigor de inverno, que foi a causa da nossa felicidade em todos os successos. No primeiro dia fizemos 10 leguas decaminho, e pela noite ser tenebrosa, tomámos a guarda denominada S. Pedro, sem sermos sentidos, e sem dar tempo a pegar em armas; achamos alli 30 indios, commandados por um hespanhol, que pozemos em prisão, e os indios em liberdade, e os capacitámos que a guerra era com os hespanhoes, e não com elles. Com isto se pozeram em socego, e nos fizeram bons officios; não lhes consentimos saqueio algum por não desgostal-os, e unicamente nos refizemos de cavalgaduras, pois n'este lugar haviam mais de 1,000 animaes, entre vaccum e cavallar, e seguimos a nossa viagem com o designio de voltar quando podessemos dar noticias certas das forças que havia n'aquelles povos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">N'este lugar me pediu o Canto quehouvesse de tomar parte no commando e direcções d'aquella empresa, pois se confundia com o não entendera lingua d'aquelles indios, e eu os ontendia perfeitamente; consenti na proposição, e tratamos consultar mutuamente em tudo quanto nos fosse preciso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No terceiro dia de marcha avistámos algumas armas muito ao longe, e vimos que se encaminhavam para a nossa parte; fizemos-lhes emboscada em um desfiladeiro, e nos cahiram prisioneiros, sem haver a menor resistencia. Estes homens eram exploradores da nação inimiga, que circumlávam aquella campanha para fazer aviso de toda a novidade que encontrassem. O que os commandava, pela portaria que me apresentou, mostrava o grande conceito que d'elle fazia o governo, e por fim era um insigne salteador, desertor das nossas tropas, chamado João Ignacio, que estava aggregado ao serviço de Hespanha; e logo que foi reconhecido, o conduzimos preso pela inconfidencia e traição. No seguinte dia tomamos o porto denominado Santo Ignacio; aqui havia uma pequena guarda em resguardo de 500 cavallos; n'este lugar fomos instruidos do estado em que estavam aquelles povos pela informação seguinte. Disse-noso que commandava que dalli distante quatro leguas havia uma guarda denominada S. João Merim, onde havia 10 hespanhoes escolhidos e armados, e que tambem havia muita cavalhada, boiada mansa, e gado de munição dos povos, e 60 indios para o seu costeio; e do dito S. João Merim a seis leguas estava um acampamento, que se tinha principiado havia oito dias, e era para disciplinar as recrutas, e para acampar as tropas que alli se haviam de reunir, vindas da cidade da Assumpção, de Paraguay, e dos mais povos além do Uruguay, para marcharem contra os dominios de Portugal, e que aquelle acampamento distava uma legua da capital.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Sabida esta noticia, resolvemos atacar o dito acampamento, para o que essa noite adiantei-me com 20 homens, deixando outros 20, para marcharem na manhãa seguinte com o Canto, e mais gente d'armas. Essa noite puz em cerco a guarda referida, e ao aclarar o dia puz tudo em prisão, favorecendo me o escuro da noite horrorosa tempestade, que facilitou minha resolução; e chegando meu companheiro Canto, que tinha ficado como já disse, cuidámos em viajar, pondo muitas precauções essa noite, para que não fosse algum aviso ao acampamento; marchamos as ditas seis leguas, e nos avisinhámos a elle.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Era este si</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">tio em terreno alto, resguardado de um matoe dois caudalosos arroios, em cujas entradas não haviam guardas avançadas; pois parecia-lhes impossivel entrarem tropas portuguezas sem serem sentidas pelas guardas ou exploradores da campanha, pois d'este acampamento ás nossas raias dista trinta leguas; por este descuido em que estavam foi nossa entrada feliz.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Depois de ter explorado o acampamento, dispozemo-nos para a acção, pois vinha rompendo o dia. Pozemo-nos em linha de batalha a tropa que levámos, que se compunha de quarenta praças, como em outra parte já disse, commandando eu e José do Canto. Haveria, pouco mais ou menos, 500 passos de distancia entre nós e o dito acampamento, e já teriamos avançado a metade, quando, picando a marcha a toda a brida, rapidamente nos fizemos senhores d'aquelle acampamento, sem haver um grito de «armas</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">» nas sentinellas;e como sahissem alguns tiros da barraca do commandante, que era D. José Manoel de Lascano, foi preciso fazer fogo, e sempre houve 14 mortos e bastantes feridos; e da nossa parte houve somente um camarada ferido. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Havia n'este acampamento 100 hespanhoes de armas, e 300 indios, os quaes ficaram livres da hostilidade d'este assalto, por estar o seu abarracamento algum tanto separado do dos hespanhoes. Alcançada a Victoria, ao aclarar do dia reflecti eu que os indios estavam suspensos, e aproveitando-me da occasião, por ver o susto em que estavam, lhes fiz uma falia no seu idioma, conforme as mais vezes tinha praticado; animei-os, e lhes fiz ver que a guerra não era com elles, e para mais os attrahir, o pouco despojo que havia n'este acampamento, consultando com o Canto, foi repartido por elles, e isto lhes fez tomar o expediente de se unirem ás nossas armas; e vendo-nos munidos d'estes 300 homens, consultamos investir a capital, que estava á vista. Reparti então os novos soldados em pelotões, e avançámos ao dito povo de S. Miguel. Depois despachámos uma parte ao capitão Barreto, dando-lhe conta de tudo circumstanciadamente, e avisinhámo-nos á capital; não a levamos de escalla por ter artilheria, mas pozemol-a em sitio, cujas escoltas e patrulhas, que dirigiamos a elles, a inquietavam em diversos lugares dos seus muros. Este sitio foi posto ás 11 horas do dia, e sc divulgou tanto n'aquellas circumvizinhanç</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">as. que, quando foi á noite, achamo-nos com mais do mil indios debaixo do nosso commando. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No dia seguinte despachamos outra parte, em que davamos conta de estar a capital d'aquelles sete povos em sitio, e que nos viesse soccorro. Apertamos o sitio de tal- fôrma, que, dentro em tres dias, se rendeu por uma capitulação, feita e assignada por nós e o tenente coronel D. Francisco Rodrigo, que alli residia, e governava os sete povos. Entramos n”este povo, tomando d'elle posse, e se retirou o dito D. Francisco para odo rio Uruguay, levando comsigo duzentos homens, que era a guarnição que alli havia.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">D'este acontecimento demos parte ao nosso chefe, que era o capitão Barreto, e já eraa terceira, que davamos, sem termos resposta nem soccorro.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pondo este povo em tranquillidade, dirigi oflicios aos mais povos pertencentes aquella conquista, cujos commaudantes não tiveram duvida em se render, pois viam a sua capital tomada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Com isto entramos em detalhe de governo, tomando posse dos povos que estavam mais immediatos, que vem a ser S. Lourenço, S. João, S. Luiz, S. Angelo, para cujos povos marchei, deixando com o Canto vinte homens de guarda na capital, e levando comigo outros vinte.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chegando aos ditos povos, cuidei logo em recolher os estandartes das camaras, fazendo ver que não deviam ser arvorados mais, porque odominio hespanhol tinha cessado, cujos estandartes entreguei ao fallecido governador.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ainda que as circumstancias da guerra não me permittiam demora no recebimento d'aquelles povos, comtudo sempre falhava um dia em cada povo, e fazia por contentar ao publico, assistindo aos seus festejos, empenhando-me em' contentar aos reverendos curas das igrejas, mostrandolhes muita benignidade, e capacitando-os que seriam respeitados das nossas tropas; e roguei-ihes juntamente que não desamparassem suas igrejas.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Esta politica que usei, foi o motivo dos ditos padres se conservarem no mesmo cuidado d'aquelle grande numero de almas que tinham a seu cargo, não obstante terem o passo livre para seretirarem, segundo as condições da capitnlação e ainda alli se conservaram até a minha retirada d'aquelles </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">povos, que foi em 1805. Acabada a diligenciado recebimento d'aquelles povos, recolhi-me a S. Miguel.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Manoel dos Santos Pedroso, que tinha feito o saque na guarda de S. Martinho, entrava novamente com os 40 homens que o acompanhavam, e chegando ao povo de S. Miguel, como já o visse tomado, pôz-se em consulta com os seus camaradas, e reflectindo eu n'isto, lhe fiz uma falia, que nos reunissimos, pois incorporados todos eram maiores as forças, e que eramos juntamente vassallos de um mesmo soberano. Respondeu-me com palavras equivocas, e no mesmo dia seguiu para o povo de S. Nicolau, que ficava quasi nas margens do rio Uruguay, onde esperou o tenente-coronel que se retirava, fiado nas condições da capitulação, e por consequencia sem susto, e antes de chegar ao rio Uruguay, o atacou uma noite e a seu salvo o fez prisioneiro, e pòz em fugidatodaa genteque o acompanhava, ficando senhor de toda a equipagem, fazendo voltar e conduzir para traz por uma guarda de homens sem pundonor algum, pois o insultaram n'esta conducção para lhe tirarem quanto trazia de precioso.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">N'esta occasião chegavamos, eu de tomar posse dos povos, o sargento-mór de Dragões José de Castro Moraes com tropas em soccorro, e o sobredito tenente-coronel hespanhol preso, e todos nos juntámos em S. Miguel. Examinada a causa d'aquella prisão foi respondido que quem tinha feito aquella capitulação não eram os officiaes, e por consequencia o dito Santos mandava preso para o Rio Pardo ao dito tenente-coronel. Esta acção nos foi muito sensivel, mas como já estava o official superior presente, a elle competia prevenir e remediar tudo. O capitão Manoel Carneiro e o tenente Francisco Carvalho foram os que se incumbiram e empenharam a fazer com que os soldados do dito Santos,que conduziamao tenente-coronel, entregassem o que lhe tinham tirado, O sargento-mór Moraes olhava tudo com refinada politica, estudando os meios de escurecer os nossos serviços, e lembrando-se ser o Canto soldado do seu regimento, quiz puxal-o ao esquadrão, etiral-o do commando d'aquella conquista, não fazendo apreço dos nossos serviços.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O Canto, mal costumado na sua vida dissoluta a soffrer e ainda mais com a vaidade de conquistador, cuidou em prevenir-se. e assentou defender-se comas mesmas armas com que tinha acommettido ao inimigo: eu reflectindo que a minha prudencia não era bastante para remediar tantas contraversias, tomei o expediente de passar ao Rio Grande, a dar conta ao governador, não d'aquellas intrigas, mas sim da conquista.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O tenente coronel hespanhol, sabendo que me dirigia a dar esta conta rogou-me lhe conduzisse uma carta, ao que eu não tive duvida, n'ella se queixou do dito Santos ao governador, facto que fui saber no quartel-general. Tomou contada nossa conquista o sargento-mór José de Castro Moraes, não com a regularidade devida, mas como quem estava com a disposição que dissemos; e eu marchei para a villa do Rio Grande, aonde cheguei em occasião que já estava o governador doente; entreguei ao ajudante das ordens José Ignacio da Silva os estandartes, a capitulação, e os mais documentos que levava, como tambem acartado tenente coronel hespanhol. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O Governador, pesando o valor de nossos serviços, fez n'esta occasião condecorar a José Borges do Canto com o posto de capitão de milicias, e eu em tenente da mesma companhia; e deu ordem para que fosse nomeado para alferes o que fosse demais merecimento dos 40 individuos a quem se devia aquella conquista; e foi nomeado Francisco Gomes de Mattos. Tambem deu ordem o governador para que fosse preso Manoel dos Santos Pedroso, pelo insulto feito ao dito D. Francisco, governador que tinha sido d'aquelles povos; o que não se efféctuou com a morte do governador, que foi d'alli a poucos dias; mas antes, depois de ter dado esta ordem, o mesmo governador o condecorou como posto de tenente de milicias, por condescender com a vontade e proposta do tenente coronel Camara, que mandou ao furriel José Maria com uma promoção ao Rio Grande, para que a assignasse antes de morrer, em cuja occasião foi incluido o dito Manoel dos Santos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Eu e os meus camaradas bem conheciamos a José do Canto, que era homem intrepido e valoroso; porém, ha muitos annos desertor, e por consequencia indisciplinado, não sabia do terreno, ignorava a lingua, embaraçado em manobra, e era d'estes homens determinados, mas sem deliberação em acção; comtudo, a fama que tinha adquirido nas suas extravagancias fez com que o preferissemos no commando, porque tambem não tinhamos assaz conhecimento das suas qualidades, pois nem ler nem escrever sabia, e assim o tenente e eu não duvidámos ceder-lhe, para evitar desordens, e ultimar o fim da nossa carreira. O tenente Lara, apesar das suas virtudes, não tinha nascido para a guerra; a sua constituição, e talvez educação, o desviavam da campanha: essa a razão porque não apparece nos combates, e se occulta n'esta memoria.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No em quanto José Borges do Canto e eu conquistavamos os povos de Missões, não estava o exercito ocioso; estando o coronel Manoel Marques em uma guarda abandonada pelos hespanhoes, denominada da Lagòa, teve aviso que além do rio Jaguarão apparecia um grande corpo de inimigos; despediu o capitão de milicias Antonio Rodrigues Barbosa, o capitão Antonio Xavier de Azambuja, e o alferes Hyppolito de Couto, com duzentos e quarenta homens de armas, a encontrar-se com o inimigo, e em dois dias de campanha se toparam. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Entrando os ditos officiaes em consulta para fazerem aquelle ataque, oppôz-se a isto o capitão Azambuja, dizendo que ia primeiro observar em um alto se o inimigo trazia artilheria, e se retirou, levando comsigo a sua companhia. Conhecido pelos outros o medo, consultaram os dois officiaes, e entraram na acção, com tal valore intrepidez que venceram e destruiram o inimigo, ficando com a victoria d'esta acção o capitão Antonio Rodrigues Barbosa e o alferes Hyppolito de Couto. Houveram cincoenta mortos, setenta prisioneiros, entre estes dois capitães e um alferes; dos nossos só morreu um cabo de esquadra.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Depois d'esta acção fez o commandante Manoel Marques de Sousa marchar aquelle exercito para a fortaleza do Serro Largo, onde dissemos tinham-se ido incorporar as guardas hespanholas, quando abandonaram a sua fronteira; e chegando o dito coronel a fortaleza, combateu-a e tomou-a por uma capitulação, retirando-se a tropa hespanhola; entregaram-lhe aquelle forte com quatro peças, munição de guerra e cinco mil pezos duros em prata. A tropa que guarnecia esta fortaleza era o seu numero setecentos e sessenta homens, pois tinham sabido outros tantos d'esta mesma praça commandados pelo coronel Quintana, com o designio de ir atacar a fronteira do Rio Pardo, quo não teve effeito, como adiante se dirá.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No segundo dia d'esta conquista se pôz o nosso exercito em retirada para o rio denominado Jaguarão. Deixo aos politicos decidir sobre este modo de proceder. Os sete povos de Missões conquistados com um punhado de homens, e por meros soldados, acham-se debaixo dos dominios de S. A. R.; e aquella fortaleza do Serro Largo, conquistada por aquelle coronel, munido de artilheria, e com 800 homens, está possuida dos hespanhoes, que em poucos dias se senhorearam outra vez della. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Retirado o nosso exercito, tanto que passou o rio Jaguarão para a nossa banda, o sobredito coronel licenciou a tropa, deixando só 200 homens de guarnição n'aquelle passo, commandados pelo tenente-coronel Jeronimo Xavier de Azambuja, e se retirou para o Rio Grande, por saber estava o general á morte. Este modo de obrar, de licenciar a tropa, e entrar o inimigo nesta mesma occasião de posse da fortaleza, que tinha perdido, foi digno de reparo a todos os prudentes, e ainda ao povo; seja o que fôr, eu não me proponho senão a dizer a verdade do que aconteceu.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Apossado o inimigo da fortaleza, adiantaram-se mais, até chegarão passo do Jaguarão; e como o achassem com os 200 homens que dissemos, parou o exercito inimigo, e mandou seu commandante, que era o marquez de Sobre Monte, dizer ao commandante d'aquelle passo, que era o referido Azambuja, que logo e logo lhe désse o passo livre: respondeu este por uma carta (pois o marquez tambem tinha escripto ) que o seu commandante e governador estava na villa do Rio Grande, que S. Exc. lhe concedesse tres dias para lhe dar resposta; e sendo-lhe concedidos, no mesmo instante deu parte ao coronel, e este para Porto Alegre ao brigadeiro Francisco João Rici, que commandava aquella repartição, enão se deu resposta ao marquez, como se promettêra; mas entretanto se enterrou o governador Sebastião Xavier, e tomou contado governo o brigadeiro Rici, e desceu immediatamente para a villa do Rio Grande, onde achou os povos em grande confusão, dispondo-se para passarem a S. José do Norte, antes que entrasse o inimigo; pois sabiam da retirada do exercito, e não havia </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">providencias para encontrar o inimigo na fronteira; mas, com a chefia da do novo governo interino a esta villa, se pôz tudo em socego com a providencia que se veio dar. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Fez immediatamente marchar para Jaguarão o coronel Marques, levando consigo as tropas do seu commando; fez marchar tropas a engrossar as guardas de Itaim, como tambem a do Alhardão, e no estreito da terra, entre a lagôa da terra e o mar oceano, pelo receio que havia de entraroinimigo a surprender a villa fez descer da fronteira do rio Pardo o segundo corpo do exercito, que commandava o tenente coronel Patricio José Corrêa da Camara, com ordens de acommetter o inimigo, ou a reunir-se ao exercito que commandava o coronel Marques, a quem tambem deu a mesma ordem. Depois que deu estas providencias, dispunha-se o mesmo brigadeiro a sahir para a campanha, quando n'esta occasião chegou a paz; tinha dado todas as providencias que podia dar um bom e experiente general.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Marchava o exercito da fronteira do Rio Pardo para Jaguarão, e só lhe faltavam dois dias de marcha, para se ver com o que commandava o coronel Marques, quando receberam os dois commandantes ordem do brigadeiro e governador que não executassem a ordem, que lhes tinha dado, de acommeter o inimigo; mas sendo avisado o brigadeiro que o marquez de Sobre Monte, general do exercito hespanhol, sem attenção ao beneficio da paz, perseverava no mesmo projecto, e em espirito armado, o dito brigadeiro escreveu nos termos seguintes: — Que elle havia ordenado ao exercito portuguez que passasse o rio Jaguarão para acompanhar o exercito de S. M. Catholica, que S. Ex. commandava até Montevidéo, mas que suspendêra a execução d'esta ordem, por observar a que tinha de S. A. R. o principe de Portugal, que havia celebrado com S. M. Catholica tratados de paz; mas que agora via S. Ex. perseverar na intenção de passar áquem de Jaguarão, sem attenção as mesmas razões da paz; e que isto lhe não parecia bem: com tudo, se S. Ex. era servido pôr em execução seu intento, podia vir; mas que advertisse que havia passar pelo dezar de não o concluir, em quanto as aguas do dito Jaguarão podessem levar os cadaveres dos seus soldados; e quando estes fizessem váo, por onde o exercito hespanhol passasse com as armas na mão para entrar nas terras que ao presente são da coroa de Portugal, e a pessoa de S. Exc. viesse na retaguarda, que tivesse a certeza que não havia voltar para o seu quartel, porque o acharia perpetuo, e todo o exercito do seu commando nas mesmas terras de Portugal.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Foi tal a aceitação d'esta carta que, com maduro e prudente conselho, cuidou o marquez em se retirar. Via uma carta cheia de razão, via que as tropas portuguezas anhelavam pela peleja, e via finalmente uma serie de continuados estragos, que haviam os hespanhóes experimentado; a sua retirada foi a decisão, e n'esta fórma finalizaram as suas campanhas as tropas d'esta fronteira, e ficou o rio Jaguarão por divisa, ou servindo de limite, ainda que podia ser pelo Serro Largo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Em quanto fiz a viagem, que já disse, ao Rio Grande, esteve o Canto em S. Miguel até a minha volta; e os hespanhóes a reunirem tropas, para retomar os povos perdidos, e o sargento mor José de Castro Moraes, e a seu exemplo a mais tropa, cuidava mais em locupletar-se, que na conservação d'aquella conquista.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chegando eu ao povo S. Miguel na volta do Rio Grande, tinha tomado conta do governo politico daquella nova conquista o sargento mór José de Saldanha, e retirou-se o sargento mór Moraes, o capitão Manoel Cancro, o capitão José de Anxita, o capitão Alexandre Guedes, e parte da tropa que guarnecia estes povos, e se recolheram para a fronteira do Rio Pardo, ao corpo de tropa que commandava o tenente Coronel Camara, onde n'esta occasião havia menos perigo; e pelos choques ou ataques que succederam se verá.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O sargento mór Joaquim Felix fez sua residencia em S. Nicolau, tres leguas distante do rio, e o commandante da tropa foi residir em S. Francisco de Borja, vinte leguas ao Sul do dito S. Nicolau, uma legua distante do rio; defronte de S. Francisco de Borja está o povo S. Thomé, além do rio um quarto de legua distante da fronteira hespanhola, e o rio por meio. Entre estes dois povos, no passo denominado S. Marcos, houve muitas hostilidades, e d'este povo a S. Borja para baixo a Sul tinhamos que defender mais de vinte leguas, que toda esta fronteira era invadida do inimigo, que vinham a ser mais de quarenta leguas de fronteira que deviamos defender só quatrocentos homens contra mais de dois mil, que já se tinham reunido para a reconquista dos povos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Fui com ordem de commandar a minha companhia com que tinha feito a conquista, por se achar doente o capitão, e ter ficado no povo S. Miguel. Tomei quarteis em S. Nicolau, e d'alli a poucos dias marchei em soccorro ao tenente Manoel dos Santos Pedroso, que se via atacado por um corpo numeroso de inimigos; e como achasse valor n'aquelle official para defender aquella entrada, e acudissemos com tempo, não pôde fazer seu desembarque.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Alguns dias ajudei a defender aquella entrada, no em quanto houve varios choques, que vou a referir.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No passo da Cruz, que dista para baixo de S. Borja mais de vinte leguas, foi atacado o tenente Francisco Carvalho da Silva, e o alferes João Antonio da Silveira, por um corpo de inimigos. Estes dois officiaes se portaram com muito valor,defenderam esta entrada com quarenta homens,e perderam um camarada n'este ataque; mas destruiram e venceram o inimigo, onde houve nove mortos e bastantes feridos da parte do inimigo.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Passados poucos dias, no passo de S. Marcos, entre S. Borja e S. Thomé, foram duas vezes as nossas guardas destruidas, mas sem perda de gente. Este lugar foi o mais invadido e perigoso, como se verá pelos casos acontecidos. Foi atacado no passo de S. Lucas o tenente Manoel dos Santos Pedroso por um corpo numeroso de inimigos; este lugar dista dezoito leguas acima de S. Francisco de Borja, em cujo ataque se distinguiu muito o alferes Manoel Padilha. Defenderam este lugar valorosamente com cento e sessenta homens, e não só destruiram o inimigo, onde morreram um ajudante de artilheria e dois soldados, como tambem lhes tomaram duas peças de artilheria que traziam. No passo de Santa Maria no Uruguay foi atacado o cabo de esquadra Bernardino da Silva; ainda que perdeu um camarada, defendeu esta entrada valorosamente.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Continuaram os choques no passo deS. Marcos; e foi atacado o furriel de milicias Victor Nogueira da Silva por um corpo demais de cem homens, achando-se só com quatorze; cercaram-o entre umas larangeiras, onde se entrincheirou, e sustentou este fogo em quanto lhe durou a munição. Durou este combate perto de uma hora, defendendo-se valoroso, na esperança de ser soccorrido da nossa tropa, que ouvia os tiros no povo de S. Borja; mas quando chegou o soccorro, já foi tarde; tinha-se-lho acabado a munição e mortos dois camaradas, e entregou-se prisioneiro de guerra, tendo feito grande destroço no inimigo, e já tinham dado á vela as barcas que o conduziam para além do rio Uruguay preso.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Muito sensivel nos foi este successo, pois eram os primeiros que se viam vencidos e presos n'aquella fronteira de Missões. Custou a suster as nossas tropas para que não seguissem a resgatal-os, entrando pelas terras do inimigo, onde eram grandes as forças a respeito das nossas: apesar de não termos n'este porto barcas, com tudo sempre houve seis homens que intentaram a passagem em uma pequena barca que descobriram, o occultamente se embarcaram uma noite para executar o seu façanhoso projecto. E como fosse o seu desembarque ao amanhecer, foram sentidos e atacados, onde elles sustentaram por algum tempo este fogo; e conhecendo a temeridade, se retiraram debaixo do mesmo fogo, depois deterem feito alguma hostilidade no inimigo, e sem perigar nenhum d'elles; mas, sendo seguidos por duas barcas, antes de vencerem o rio, iam sendo abordados, e certamente teriamos que sentir, pois estes homens eram de valor intrepido, e morreriam sem se entregar á prisão; mas valeu que já as nossas balas alcançavam, e sendo soccorridos foram salvos.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os que entraram n'esta acção foram um furriel de milicias Raymundo de S. Thiago, e cinco soldados milicianos. Com tantos choques n'estas immediações de S. Marcos tive ordem para ir fornecer este lugar, onde foi preso o nosso heróe Victor. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Cheguei alli com a minha companhia, que se compunha de quarenta praças; observei que além do rio havia um forte com artilheria, e que a sua praça de armas estava immediata: o desembarque para a nossa parte era inevitavel, pois tinha mais de uma legua de praia, e toda era desembarque. Vi o grande destroço que tinham feito as balas nas larangeiras, onde estiveram intrincheirados os nossos camaradas, antes de serem presos, e d'onde faziam o seu fogo. Formei minhas idéas; mandei vir sessenta indios, para correr com os avisos, armar barracas, abrir picadas, dzc. Retirei-me alguma cousa para a retaguarda, para me servir de forte um grande barranco do rio Camaquam, que faz barra no Uruguay, e allime acampei; ordenei as minhas guardas e sentinellas, as quaes eram visitadas por ruim, pois passamos noites em vigia com cartuxeira, espada cingida, e arma na mão, fazendo executará risca as ordens, com o exemplo que dava; lembrava-me dos descuidos em que tinha achado os inimigos, quando os tinha surprendido, e assim toda a cautela me parecia pouca. Haviam passados 39 dias do meu destacamento, quando, estando para amanhecer o dia 23 de Novembro, recebi parte quc estava passando o rio um grande corpo de inimigos. Tanto que recebi esta parte, mandei fazer signal; immediatamente se recolheu a cavallaria; puz toda a minha companhia a cavallo, e depois de ter passado revista, animei-os de novo, segurando-lhes que eu seria o primeiro em receber os golpes dos inimigos. Fiz aviso ao povo de S. Borja, onde tinhamos alguma tropa, e como não apparecesse o inimigo. até aclarar o dia, cuidei em buscal-o; e quando foi pelas 5 horas da manhãa estive na sua frente com 112 homens, pois já me tinha vindo soccorro. Topei-me com o inimigo na barra de Camaquam, sobre o barranco do rio Uruguay; coma minha chegada pôz-se em armas, e em linha de batalha com 100 homens na frente, e 50 nos flancos, e a sua retaguarda contra o rio, onde tinha o seu desembarque e munição de guerra.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No soccorro que me veio de S. Borja, vieram 6 officiaes, e como se achasse alli o capitão José Borges do Canto, a elle competia o commando d'esta acção, por ser de maior patente, e ás suas ordens me entreguei. Pozemo-nos em consulta, e como esta se demorava, e não se resolvia nada, pois tudo era fazer ver o grande perigo, as grandes forças do inimigo, a desigualdade do terreno, etc., com esta demora me separei d'estas conferencias, e appliquei-me a observar os movimentos do inimigo. Das cinco horas que alli chegamos até as dez não se ordenava este ataque: e observei que embarcavam tropas em soccorro, e se não atacavamos n'esta occasião, menos depois de terem passado maiores forças.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">N'esta occasião offereci-me para entrar n'aquella acção, resoluto a dar a vida em defesa da patria e dos estados do nosso soberano, e sendo aceita a minha proposta pelo capitão e mais officiaes, entrei n'ella pela forma seguinte: — o tenente João Machado e o alferes André Ferreira, com trinta homens de cavallo na frente; o tenente Filippe Carvalho, com o alferes Manoel Carvalho e o alferes João Antonio, com outros trinta no flanco direito; os da frente fazendo fogo no mesmo terreno, a divertir e entreter os inimigos; e os do flanco direito para entrar na acção com o meu signal, ou para a abordagem das barcas. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O capitão José Borges, com alguns camaradas de reserva, para acudir aonde visse mais perigo, e eu com quarenta homens, ataquei ao flanco esquerdo, que logo se pôz em confusão e fugida. Avanço rapido á retaguarda, e tomo a munição de guerra; passo ao flanco direito, e faço-lhe o mesmo. O tenente e alferes nomeados n'este posto, e o capitão com o meu signal entra na acção, e fazemos fogo á frente, onde os nomeados tenente e alferes sustentam o seu posto. Tanto no fogo que faziam, como com algumas escaramuças entretinham o inimigo. Todos incorporados fizemos fogo mais vivo, e ficam os inimigos vencidos e derrotados, e se declara a victoria d'esta acção por minha; publicada por aquelles honrados officiaes, como consta dos documentos que tive a honra de apresentar a S. A. R.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Estava além do rio Uruguay o governador d'aquella fronteira inimiga, que insistia em querer mandar soccorro; era o tenente coronel D Francisco Belmudes, e por estar immediato aquelle povo a S. Thomé, estava aquella praia coberta de povo, que tinha baixado alli a presenciar o ataque, e se retirou bem descontente com o destroço dos seus patriotas. Acabada esta gloriosa acção, recolhemo-nos para S. Borja, com setenta e tres prisioneiros, ficando no campo da batalha sessenta mortos, e da nossa parte houve tres mortos e quatro feridos: o despojo consistiu em duzentas armas de fogo, algumas espadas, e bastante munição de guerra.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Este foi o ultimo ataque que tivemos n'aquella fronteira de Missões; logo depois nos chegou a paz, e na declaração d'ella vi grande desgosto e sentimento nas tropas. D'esta forma ficaram aquelles sete povos e o seu grande territorio annexo ao dominio de S. A. R., ficando por divisa o rio Uruguay, tomados e defendidos sem despeza do estado; mas sim á custa de seus vassallos, não obstante ter-se reunido n'aquella fronteira mais de dois mil homens, commandados pelo coronel Espíndola. vindos da cidade d'Assumpção de Paraguay.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ficou o sentimento aquelles vassallos de Portugal de não ter tempo de levar ao inimigo até além do Rio da Prata, em que lhe não acham difficuldade alguma, senão a vontade do seu soberano, e aceitação de seus serviços, para serem remunerados. Chegou tambem a ordem para as tropas se retirarem, dirigida pelo governador; encontraram ao tenente Camara, com o corpo de tropas que commandava, distante do acampamento de Jaguarão dez leguas.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Foi indizivel a pena de toda aquella tropa com a certeza da paz, pois via a sua retirada sem fazer acção alguma, e com a lembrança de que tivera o inimigo a vista, e não tivéra o gosto de medir as armas; foram aquelles setecentos homens que dissemos que sahiram do Serro Largo, para atacar a fronteira do rio Pardo, commandados pelo coronel Quintana.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Estava aquella columna que commandava o tenente coronel Camara na guarda denominada - S. Francisco - duas leguas de Batovi, quando teve parte, pelos nossos exploradores d'aquella campanha, que aquelles setecentos homens, que fica dito, vinham com desígnio de entrarem. Immediatamente pôz-se em marcha, e o foi encontrar, o qual encontro, foi no passo denominado - Rosario- do rio de Santa Maria: estiveram quasi á falla, e chegou o exercito inimigo a atirar alguns tiros de peça; mas estava crescido este arroio, e era ja tarde, e por esta razão não tentaram a passagem, deixando-a para o dia seguinte. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Naquella noite perdeu o exercito inimigo o valor, e se pôz em retirada. O tenente coronel Camara, commandante da nossa tropa, não lhe picou a retaguarda,o que foi muito sensível áquella; com tudo e é de louvar que naquella campanha se conservasse com os incommodos das suas molestias, andando sempre entre os medicamentos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">As tropas que guarneciam a fronteira dos povos de Missões tambem tiveram ordem para se retirar, depois da publicação da paz; e assim finalizou a guerra n'aquella capitania. Eu sou testemunha ocular dos factos, ou da maior parte d'elles, que n'esta Memoria relato; e deixo de expender circumstancias minimas por não ser diffuso, e cançar a paciencia do meu leitor das acções gloriosas que se manobraram nos povos de Missões, em que tive parte, ou fui principal agente. Fiz patente a S. A. R., em requerimento que offereci, e em todo o tempo provarei a verdade dos feitos até com os mesmos hespanhoes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Lisboa, 18 de Setembro de 1806. — Gabriel Ribeiro de Almeida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">REVISTA TRIMENSAL DE HISTORIA E GEOGRAFIA ou JORNAL DO INSTITUTO HISTORICO E GEOGRAPHICO BRASILEIRO, N.º 17, Abril de 1843.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">pp. 3-21</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">https://books.google.pt/books?id=RGNJAAAAcAAJ</span></div>
Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-48435418740007031262017-09-17T22:27:00.001-07:002017-09-18T06:22:46.197-07:00Reminiscências da Campanha de 1827 (A. A. F. Seweloh)<div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Autor: Capitão Anton Adolph Friedrich von Seweloh</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Unidade: 27.º Batalhão de Caçadores Alemães</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">& Ajudante d'Ordens do comandante em chefe do Exército do Sul</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Área: Fronteira Brasil/Banda Oriental</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Datas Extremas: 13.1.1827 - 4.3.1827</span></div>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;">[ GUERRA DA CISPLATINA (1825-1828) ]</span><br />
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtKEQmIkqCowILewfkoVINXtHmZboNCAIOutLhFx0syTo3W-yZtHME-b7yqS7NFZCOMWiJA92FxEkPN2c-QdtQIijPcvPLKA5SNZ6Lb3pe_Fo5AKMJhubfLZYV4EsJPnL4pG8EWG7-u4Oz/s1600/reminiscencias_capa.jpg" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtKEQmIkqCowILewfkoVINXtHmZboNCAIOutLhFx0syTo3W-yZtHME-b7yqS7NFZCOMWiJA92FxEkPN2c-QdtQIijPcvPLKA5SNZ6Lb3pe_Fo5AKMJhubfLZYV4EsJPnL4pG8EWG7-u4Oz/s1600/reminiscencias_capa.jpg" /></a></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>REMINISCÊNCIAS DA CAMPANHA DE 1827 CONTRA BUENOS-AYRES </b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PELO CORONEL A. A. F. DE SEWELOH </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Traduzido do allemão</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PELO </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">DR. MANOEL THOMAZ ALVES NOGUEIRA </span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O jornal mais circumstanciado e as plantas tendo-se perdido no dia da batalha, salvou-se na minha carteira o que segue: </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 13, 1827</span> — Tinhamos estado em Sant'Anna promptos para a marcha vários dias, ficando as noites debaixo das armas, e ao amanhecer do dia já estávamos promptos para a marcha, até que por fim às 10 horas e 42 minutos as nossas avançadas (tête) á cavallo se puzeram em marcha, à passo. O general em chefe marquez de Barbacena, ficou doente em San'Anna, e o general quartel-mestre, brigadeiro Raymundo da Cunha Mattos, commandou o exercito.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ás 11 horas e 24 minutos passamos uma vertente do Cunhaperú (posição pouco forte, sustentável só por algum tempo], e às 11 horas e 33 minutos o passo arroio Cunhaperú, tomando posição às 12 ½ junto ao mesmo ribeirão. O caminho era pouco plano, mais sem impedimento: nossa artilheria (10 peças de 9 libras e 2 obuzes de 5 ½) póde seguir: elle corria ao longo de collinas continuas, cujos cumes ficáram sempre à nossa esquerda. De noite o general em chefe chegou ao acampamento. A munição e bagagem nem podiam percorrer esta insignificante distancia de apenas // de uma légua allemã, em consequência do estado debilitado dos bois, e só alguns carros de transporte com provisões chegáram à noite ao acampamento. Muitos dos cavallos ficáram cansados no caminho, assim o meu e o de meu sargento ordenança; o meu cahia no terreno plano ; o sargento teve de mudar em meio caminho. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA (*)</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(N. B. Todos os algarismos denotam passos de cavallo se não fôr expressamente dito o contrario.) </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A posição era muito boa e segura, e no caso de ataque podia ser defendida contra forças superiores. A montanha A era muito alta e ingreme, e não longe d'ella corria para o lado B a estrada de Bagé para Sant'Anna, que d'ella se podia observar. Seus declives podiam ser galgados tanto á cavallo como a pé só com difficuldade. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Duas companhias de caçadores estavam postadas no seu cume; no caso de ataque, também para ahi devia subir a artilheria, que podia commodamente chegar do lado C; estando porém o inimigo longe, ficou junto da margem do ribeirão. Na passagem do rio houve um pequeno destacamento de guarda. A segurança do acampamento foi confiada principalmente á piquetes collocados á milhas de distancia, sobre alturas e em lugares que não podiam ser flanqueados por quem quizesse approximar-se do acampamento.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A disposição de uma cadêa de sentinellas durante a noite achei muito defeituosa; era uma cadêa systematica de sentinellas a 80 — 100 de distancia, que parecia antes destinada a impedir a deserção dos nossos, do que a surpreza pelo inimigo, visto as sentinellas olharem para o acampamento, </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(*) Todas as plantas e planos faltam no manuscripto* </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(Nota da redacção.) </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">// </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O marquez chegou de tarde, e de noite vieram também o general Sebastião Barreto Pereira Pinto e o coronel de engenheiros Elisiario de Miranda e Brito para o acampamento, os quaes tinham sido enviados para Bago e suas circumvizinhanças para reconhecer nas cabeceiras do Rio Negro posições para o nosso exercito, que porém por estar alli o inimigo nada poderam fazer. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 14.</span> — Ao meio dia reuniu-se a 1ª brigada de cavallaria ás ordens do coronel Bento Manoel com o exercito e acampou na frente. De noite marchou o general Barreto cora a mesma cavallaria reforçada pelo regimento 20 etc. ate 1700 homens contra o inimigo para lhe observar o flanco esquerdo. O general estava muito doente. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 13.</span> — Para reconhecer uma posição mais adiante, sahi com o tenente coronel Elisiario e o coronel Oliveira à cavallo às 6 horas da manhã: E. SE. S. O caminho é muito áspero, muitos baixios são tão pantanosos, que só depois de se procurar por muito tempo váos, são atravessados por alguns cavallos, Disseram-me, comtudo, que ha melhor caminho para o exercito pelas collinas. Encontramos no caminho posições vantajosas para todas as frentes; só lenha não é abundante, e agua ás vezes fica distante: andamos á passo e chegamos às 11 horas a uma boa posição, n'uma vertente (tributario do Cunhaperú), depois de termos 1/2 légua mais atraz encontrado o corpo de Barreto, cuja posição desviada, não nos pareceu conveniente. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Voltei de tarde à passo mais accelerado por outro caminho : o general continuou gravemente doente; fiz meu dezenho e inseri-o. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O desenho da posição prova, quanto é segura. Altas elevações a cercam de longe fóra do alcance até de peças de // grosso calibre. Poucas vedetas collocadas sobre alguns pontos principaes de accesso e de observação (Batovi) dão toda segurança ao acampamento. Tem boa agua, muita lenha e ricos pastos nas grandes collinas ao redor: não se avista de longe e mostra-se à vista só das collinas que a cercam a 1/2 légua e mais de distancia. Sua figura, (o angulo de um ou a confluência de dois ribeirões; é do gosto pronunciado das posições no paiz: (Rincões) de que o acampamento do general Barreto nos dá um quadro bera vivo. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Era tão somente para a commodidade das tropas, que até nas diversas margens do rio tinham construído seus ranchos ou estendido seus ponches; os commandantes tinham os melhores lugares, escolhidos como lhes parecia, sem uma sombra de ordem. As cavalhadas pastaram a l/2 legua e mais de distancia do acampamento, e a segurança estava entregue a umas poucas vedetas bem collocadas, que com tudo ainda não se tinham familiarisado com o espirito de seu serviço, pois ellas estavam de pé, sós, diante de seus cavallos; de sorte que a simples vista os reconhecia logo á distancia de uma legua e mais. Não podiamos esperar encontrar Barreto aqui, e avançávamos desconfiados e com cautela, directamente para a próxima vedeta, reconhecendo que junto de nós estavam um sargento de lanceiros e uma ordenança. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 16</span> — O general em chefe tinha melhoras; me mandára chamar hontem depois que eu sahira, e mandou chamar do novo esta manhã. Ficamos na posição. Choveu muitas vezes e com força.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 17</span> — Ás 10 1/2 horas nos pozemos era movimento para sahir do acampamento. A chuva e falta de pasto reforçavam os motivos. O terreno era escorregadio e ficavam presos alguns dos carros que não seguiam o grande rodeio por cima das alturas. Direcção da marcha E. S. E S. sobre as // collinas, passamos a coxilha de Sant'Anna e tomamos posição à 1 hora sobre um braço do mesmo rio, que deixamos. Parte da bagagem chegou só de tarde, e estas machinas mal geitosas e o estado pouco satisfatorio dos bois de carro, inspiráram graves duvidas a respeito de nossos meios de transporte para o futuro. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O acampamento está alinhado entre Batovi Chico e o Serro das Avarias, dos quaes, o primeiro, tomando-se a frente, fica pouco mais ou menos 1 ½ — 2 léguas á esquerda, e o ultimo 1430 à direita do cume mais alto da montanha occupada pela artilheria. O Serro das Avarias é pedregoso e muito ingreme; é verdade que subi a cavallo, porém com perigo de vida, de sorte que até os índios que estavam em baixo duvidaram de minha descida, que de facto foi o passeio mais terrivel de minha vida, não querendo o cavallo obedecer de modo algum ás rédeas. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Reconheci os arredores. As vedetas estavam na íngreme e alta montanha A, sobre o Batovi Chico Ao, collocadas por pessoas que conheciam a região. Na volta, quando já era noite, fui ter com o general para dar-lhe conta da posição do acampamento: elle agradeceu e abraçou-me; convidou-me </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">para jantar; o que tive de recusar por ler cahido n'agua. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 18.</span> — Ficamos em nossas posições; desenho o acampamento e as marchas no grande mappa do visconde da Laguna. O marquez communica-me que desde Sant'Anna me nomeara seu ajudante de campo; que o ajudante general devia ter esquecido de me fazer a devida communicação; que devia constantemente ficar junto d'elle. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Agradeço-lhe cordialmente essas provas de benevolência e continuo meus trabalhos. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">//</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 19.</span> – Marchamos às 6 ¼ horas e deixamos para alliviar as tropas a bagagem pesada atraz. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Rumo S. E., deixando a estancia de Pinto a ¼ de legua à direita, a estancia de João Corrêa 1 ¼ légua à esquerda, Batovi Chico a uma légua à direita. Terreno alto aberto. A estancia de Bento Corrêa fica immediatrmente [sic] à esquerda e as 2 ½ horas estabelecemos o acampamento a uma légua distante d'essa estancia, depois de termos marchado 4 ½ – 5 léguas. Era um braço do Ibicuhy que encontramos todo secco; na direcção do rio, havia terreno baixo de grande extensão. Era bastante singular que não obstante isso encontrássemos agua rio acima ; eram cavidades, pequenos lagos no leito do rio, sufficientes para uma noite, mas o dia era quente e mais agua não se encontrava na </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">proximidade, </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O riacho está cercado do lado direito do mesmo modo por alturas continuas. A meia légua de distancia à roda do acampamento estendem-se alturas continuas, que por dominarem a região são posições muito vantajosas para vedetas : a collocação d'ellas durante a noite sobre os mais altos </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">lugares, prova a pouca experiência dos officiaes n'este ramo do serviço, e quão pouco consultaram a experiência sobre o melhor modo do reconhecimento no escuro, A posição era prescripta pela necessidade do descanço depois de uma marcha abrazadora através de regiões por muitas milhas de </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">extensão assoladas pela secca; era pois antes um pouso do que uma posição militar; as tropas estavam acampadas conforme a sua commodidade, a aertilheria montada em parque; ordem fòra dada de armar a barraca do commandante em chefe. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">// </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Já a noite estava adiantada quando voltei do reconhecimento. O tenente coronel Albano (Laranja, commandante de São Francisco de Paula) reune-se ao exercito com 100 homens de cavallaria de diversos corpos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 20.</span> — Às 5 ½ horas da manhã partida. E, ¼ légua do acampamento, viramos para NE., só com o fim de evitar um grande banhado tornando a tomar o rumo E.; a artilheria marcha em meias brigadas, a cavallaria em meios esquadrões, a infantaria em meias companhias: tudo em meias distancias, e o exercito gasta 13 minutos (exclus. a vanguarda e a retaguarda) para fazer o caminho da frente até a vanguarda, Às 9 ½ viramos para N. E., para procurar agua. Reunem-se a nós quatro soldados, que prisioneiros na batalha de Sarandy em 12 de Outubro de 1825, e obrigados a servir nas fileiras do inimigo, acabavam de escapar: elles declararam que o exercito inimigo era muito </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">forte; mostraram-se porém tão estúpidos, que nada se obteve d'elles por um interrogatório. Todas as suas declarações e seu próprio estado indicaram comtudo a boa condição do exercito inimigo. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Às 9 ¾ paramos para descançar; às 11 continuamos a marcha. ¾ légua do lugar da parada estava a estancia da Musica, ¼ legua à esquerda o serro das Palombas parecia muito longe (8 leguas) á esquerda. Às duas horas acampamos perto da lagôa Formosa não longe da estancia de Joaquim Manoel Machado. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Domingo, Janeiro 21</span> — Às 4 ¾ horas partimos E. EN. E: 13 minutos vanguarda à retaguarda. 8 ½ Porto de João Silveira de Verda. 300 á esquerda ; a colunma passou um banhado e estendeu-se por 16 minutos. O rio Santa Maria // apparece, mas á grande distancia. O terreno torna-se hoje muito mais plano, porém pelo calor do sol seccaram os lugares baixos, e as cannas altas offereciam pouco impedimento. Das 9 ½ — 10 horas descanço: às 11 horas estava a estancia de João Silveira de Verda á meia légua de distancia á direita: 12 horas, arroio do Ponche Verde; com direcção N. seguimos por 1/4 légua á margem esquerda, e as 12 ½ a columna acampa. Dia abrasador, muitos cançados, do batalhão 13 (perto de 100), cavallos e cães morriam de sede. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Até alta noite reconheci em roda do acampamento; as sentinella estavam alerta, tinham porém pouca desconfiança na minha palavra para deixar-me entrar e sahir. Quatro léguas do acampamento ate a estancia e a lagoa de Ponche Verde, e mesma distancia até a estancia do capitão Garcez. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 22.</span> —4 ½ partida N. ao principio perto da margem, depois deixando-a um ponco [sic] à direita campos largos e abertos, só no longínquo horizonte occidental a coxilha de Ponche Verde: adiante á direita o rio Santa Maria e além a coxilha de igual nome. A 1 1/4 légua do acampamento abandonado, onde chegamos a cavallo á passo ás 5 3/4 horas era o passo de D, Pedrito (Passo Real— Passo do Prestes). As tropas chegam às 6 1/4 horas. Atravessamos o rio e acampamos a seu lado direito. O passo de D. Pedrito tem muito pouca agua, as barrancas são altas, cobertas de </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">arbustos, fáceis de defender. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Rio abaixo o passo de D. Pedrito tem outra passagem, perto do acampamento, um pouco mais profunda, porém praticável: ambas estavam guarnecidas com três peças e // meia campanhia de caçadores cada uma, e nas margens oppostas haviam sentinellas avançadas. Lenha, pasto, agua havia em abundância. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 23.</span> — Dia de descanço. Desenhei as posições anteriores com annotações militares para o general quartel mestre brigadeiro Cunha Mattos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 24.</span> — Partida às 5 1/2 horas, E. Valle plano do Santa Maria. Chegamos ao caminho do Bagé, encontramos pontos do Santa Maria que corre perto à nossa direita. O terreno fica mais alto. Às 8 3/4 chegamos à estancia do defunto major Prestes à nossa direita. O caminho toma-se mais arduo, as alturas mais íngremes e pedregosas; pobres e magros de pasto; tivemos de galgal-as em zig-zag. Às 9 3/4 descanço : ás 11 horas marcha; á 1 1/4 chegada e acampamento no rincão de Taquarembó Chico. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A posição é em terreno alto, uma montanha que domina um vasto espaço, com suaves declives, uma fortaleza completa para forças um pouco mais consideráveis do que as nossas. Na planície, entre o rio e a fralda da montanha, pòde-se collocar grande força de cavallaria à coberto, que á direita e esquerda com um flanco sempre apoiado no rio, pôde vantajosamente penetrar. O Curral de Pedra 8 horas, é um forte baluarte de pedra para o batalhão n'elle postado, o forte da posição, de que as tropas formam o flanco. Achei uma folha de papel no qual o general em chefe tinha meditado sobre a posição contra o inimigo e esboçado a seguinte disposição. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">// </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANO </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 25.</span> — Durante a noite tinha chovido de tal modo, que o rio de manhã subira de 10 pés e se tornára intransitavel; ficamos pois na posição: meu criado e o sargento Ostermeyer dormindo perto do rio, despertaram só do somno quando as aguas os carregáram, e acharam minha bagagem arrebatada, as canastras nadando. Nas costas do cavallo atravessei o rio para enxugar os objectos </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">que tinham ficado, e queimei no cruel calor do meio dia a corpo inteiramente nú, o que me causou até tarde immensas dores.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 26.</span> — A agua baixou, de sorte que podiamos atravessar o passo com artilheria. Partimos às 5 horas, passamos ás 5 1/2 a estancia do cabo António Roya em pouca distancia talvez 1/5 de légua á direita, marchamos na direcção N.E., e viramos ás 8 1/2 para E. Terreno muito áspero: às 7 1/2 passamos uma vertente do Taquarembó Chico, às 8 l/4 uma outra. O caminho faz consideráveis voltas para evitar as ingremes alturas pedregosas. Às 9 horas descançamos junto de uma vertente do Taquarembó Grande. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Às 10 l/2 marchamos, e logo depois appareceu a estancia do alferes José Jacintho a uma légua de distancia à nossa esquerda perto do Taquerembó. 10 3/4, 300 à esquerda a estancia do defunto Manoel Severo aquem d'uma vertente do Taquarembó Grande, ao longo da qual marchamos. O terreno é muito cortado por collinas pedregosas e pequenos tributários do Taquarembó: 11 3/4 chácara do defunto Manoel Severo 1/4 légua à esquerda, sobre o rio Taquarembó; 12 horas passamos um braço forte do Taquarembò Grande, descançamos e escolhemos posição, e as tropas entraram pouco a pouco na povoação da guarda velha do Taquarembó. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">//</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A posição é forte; a montanha occupada pela artilheria, é alta com vista á léguas em roda, com accesso íngreme e pedregoso, e de igual vizinhança. Todo o terreno ao redor é árduo, e já nos tempos mais remotos se reconheceu a importância d'este lugar, em que sempre se conservou uma </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">guarnição. Os accessos A e B são ao alcance das peças, em breve se torna praticável. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 27.</span> — 1ª légua, (50 minutos à cavallo por légua). Com muita chuva da noite passada e durante a manhã sahi às 8 e 10 horas do campo, passando o passo B, Abrindo este passo, qualquer arma atravessa o rio. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Um pequeno braço do Taquarembó acompanha de bem perto a nossa direita até meio caminho da primeira legua, onde ás 8º e 35 minutos se passa um outro braçozinho do mesmo rio. O terreno é árduo, porém praticável. O rumo geral é N. E. até N. 8º 54' eucontra-se uma pequena lagôa, immediatamente ao pé da estrada (á esquerda) a estancia de Januário Severo apparece adiante, á distancia de pouco mais ou menos uma légua. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">2ª légua, 9 horas.— Entre 9 e 10 horas encontra-se a estrada do major Albano, na margem do Jaguary. Segue-se este bom caminho, o terreno é alto e arduo porém aberto, descobrindo tudo até um remoto horizonte. Com a estancia de Januário Severo sempre em vista chegase lá as 9º 35': pouco adiante a 200 passos à direita da estrada nascem pequenos tributários, que já desaguam no rio Jaguary. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">3ª légua, 10 horas.— Passada a estância volta a estrada e sobe. Às 10º 5' encontram-se à esquerda junto à estrada braços do Taquarembó Grande, que correm n'um // terreno muito montanhoso: 10º 20' posto da ultima estancia a 500 passos à direita da estrada do outro lado de um pequeno affluente do Jaguary, que corre ao pé da estrada do lado direito até 10º 35'.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">4ª légua, 10º 50',— Às 10º 55' estancia do alferes Francisco José de Carvalho, onde me demorei até 11º 5', na esperança de achar cavallos para mudar. O caminho vai mais á esquerda, deixando a estancia a pouco menos de meia légua á sua direita. Achámos de novo o nosso caminho às 11º 20' na altura da estancia. A estrada segue uma ….. que tem à esquerda pontes do Taquarembó e à direita pontes do Jaguary. Às 11º 30' apparece no remoto horizonte, à direita, a serra e estancia do Taboleiro. com pouco mais ou menos, cinco ou seis e mais leguas de distancia; 11º 35' estancia da viuva de Manoel Severo, uma e meia a duas léguas à esquerda; 11º 40' passo de um affluente do Jaguary. O passo endireita-se com pouco trabalho, rumo ONO. Até agora não se achára uma boa posição para um caso de necessidade; procura-se uma na margem d'este arroio, que acabo de passar, para um alto e descanso da columna, suppondo-se que o arroio dará bastante agua para uma noite; 11º 50' outro affluente do Jaguary a passar. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">5ª légua, 12° 5'. — Às 12º e 10' uma altura com planicie no seu cume, apparecendo ainda a estancia da viuva do defunto Manoel Severo, e a um quarto de légua, em frente, um maior aflluente do Jaguary, com abundância de agua, porém pouco pasto e lenha. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Havendo de procurar-se uma posição alli, manda-se um ofíicial reconhecer que vantagens offerece a mencionada altura; 12º 17' outro pequeno aflluente do Jaguary, que se atravessa como quasi todas, perto das cabeceiras. Sóbe-se outra alta elevação com vistas vastíssimas.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">6ª légua, 12º 35', — Durante uma hora corre a direita, a // um quarto de légua de distancia o Jaguary, que também deve offerecer uma posição para pouco tempo, abundando em agua e lenha, porém desprovida de pasto; segue-se a elevação até 1º 30'. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">7ª legua, 1º 45'. — O caminho muito mais plano, acompanhado à direita pelo rio Jaguary, que corre ao pé de uma alta serra, na margem direita d'elle ; adiante, á esquerda, o horizonte é limitado por serras; apparece do outro lado do Jaguary a estancia da viuva Ludovina, â direita, na distancia de uma e meia légua, Differentes posições apparecem; 1° 55' passo do rio Jaguary que se effectua à nado, continuando sempre a chuva. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Passando o rio, e voltando-se mais ou menos 1500 passos de cavallo para a direita, offerece-se, rio acima, na sua margem direita, esta boa posição em local muito vantajoso, com abundância de lenha, agua e pasto. Alturas adiante, ao norte e leste, protegem a collocação dos postos avançados. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">8ª légua, 3º 10'— Demorei até 2º 30' para reconhecer e levantar a posição. Do passo ha dois caminhos para S. Gabriel. Tomámos o da direita, chegando ás 3º 25' na chácara da viuva Ludovina Maria Bernarda; 3º 35' um affluente do Jaguary a passar; 3º 40' no Rincão do Salto a venda de </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Leandro Martim Bittencourt, que vem de Bagé, onde o inimigo está com grandes forças. Vindo de lá encontrou-se na Coxilha Grande com a columna do brigadeiro Barreto, que, disse elle, a estas horas já dizia estar com o exercito no Taquarembó. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">//</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">9ª legua, 4 horas.— Às 4º 10' chácara de João Ignacio dos Santos com a posição junta, </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANO </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O dono da chacara me persuade que o meu caminho para S. Gabriel foi muito mal dirigido, havendo um outro que, posto que não tivesse agua, era muito melhor por se achar na altura do uma coxilha contínua, que demora em direcção à estancia do major Albano.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Resolvi reconhecer aquelle caminho à volta. Choveu muito; mudei de cavallo e sahi às 5 horas, passando o affluente forte do Jaguary junto à chacara; 5º 25' apparece ao norte a estancia do major Albano, à esquerda, a um quarto de legua de distancia e do outro lado do Jaguary, que até aqui acompanha nosso caminho. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">10ª legua, 5º 40' — Muito bom caminho, varzea plana do rio até a estancia de Francisco José de Carvalho, onde chegámos às 6º 40'. A noite já era escura em consequência das continuas trovoadas e chuvas de todo o dia. Passei aqui a noite. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 28.</span> - Domingo, 11ª léguas, 6 horas. — Montei a cavallo às 6 horas, passei o Curral de pedra da estancia e um pequeno affluente do Jaguary, ao pé do curral tomando o rumo N. : o caminho é bom. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">12ª legua, 6º 50'.— A's 6º 55' juntam-se as duas estradas do passo do Jaguary. Às 7 horas passou-se um banhado de quarenta passos de largura, à nado; em tempo de sêcca parece-me passar-se-ha esse banhado por um váo; 7º 20' estancia do tenente Marcellino, 200' à esquerda. Dez carretas do commercio estavam aqui retidas por ordem do mesmo tenente; os peões estavam para incorporar-se ao exercito imperial. </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">//</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">13.ª légua. — Às 7.º 40' apparecem á direita cataractas do rio Vaccacahy, acompanhando o caminho mais ou menos de perto; à esquerda no horizonte a quatro — cinco léguas o serro Batovi Grande, e á meia legua o portão da estancia do Céo do tenente-general João de Deus. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Às oito horas encontro cinco carretas destinadas para o passo de S. Borja, em Santa Maria, para buscar bagagens do exercito imperial </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">14.ª legua — Às 8.º 30' deixo o caminho e chego ás 9.º na estancia do Céo para mudar de cavallo. Posso se- seguir caminho às 9º 55', alcançando ás 10º 15' a estrada na altura deixada. O caminho é bom na altura de uma coxilha continua; 10º 45' apparece o Vaccacahy: a estrada é continuadamente boa. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">15ª legua, 11.º 5' — Às 11º 7' Passo do Vaccacahy, com tres palmos de altura d'agua e da fórma seguinte do rio.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Às 11º 20' estancia do general Manoel Pedroso, com posição muito superior á antecedente. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A posição da estancia é alta e domina um terreno extenso. Algumas das casas são de pedra, com fortíssimas paredes. Lenha e pasto, senão em quantidade, em qualidade superior, e agua abundante; localidade interessante. D'essa estancia tem á direita um bom caminho para a villa do Rio Pardo, mais ou menos quarenta léguas N. E. Obrigado a mudar o cavalIo, sahi ás 12 1/2 no rumo norte, pelo caminho mais baixo, que vai a quinhentos, mil e mais passos, á esquerda, sempre acompanhado // pelo Vaccacahy. 12º 47' uma cruz ao pé da estrada; apparece a chácara do capitão Fidelis, do outro lado do Vaccacahy. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">16ª legua, 1º 5' — À 1º 8' junta-se o caminho de cima com o morro : 1º 20' segundo passo do Vaccacahy, </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Até 1º 36' temos desde a estancia do capitão Pedroso o caminho pela excellente várzea do Vaccacahy; d'ahi vai-se subindo a eoxilha; á 1° 48' chácara do capitão Fidelis, a pouco menos de um quarto de legua, à direita: 1° 67' apparece a capella de S. Gabriel. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">17ª légua, 1.º 55' — A 1º 57' chácara do coronel Borba, à direita e perto do caminho: 2º 6' chácara de Miguel Velho, immediatamente à direita. Às 2º 15' cheguei á capella de S. Gabriel, pequena povoação com interessante ponto militar, composta de 29 casas de pedra, parte sobrados bons, e 22 casas cobertas de palha. O lugar tem um exterior alegre e é situado sobre uma grande collina, n'um terreno alto, que de todos os lados offerece segurança a um exercito que se ache de posse d'elle, devendo sua origem a um acampamento que tinha em 1813 n'esse lugar o tenente-general João de Deus Menna Barreto. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro, 28.</span> — Fiquei em casa do commandante. coronel Borba, onde fui bem acolhido o fiz o conhecimento de seu parente capitão Ricardo António de Albuquerque Mello, que me entregou disposições militares. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Como mostra a planta, a disposição d'essa povoação ê regular e de bom gosto; as ruas são boas. de dezoito passos // de largura. Uma espécie de arsenal que havia aqui não tinha absolutamente nada que valesse a pena, ou a despeza de transporte para o exercito. O armazém de viveres tem vinho e aguardente em grande quantidade; quasi nada de arroz e farinha. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Do hospital do exercito deixado em Sant'Anna já tinham chegado sessenta e tantas praças; porém o commandante queixou-se que a maior parte causa muita desordem e não parecia doente. Mochilas, munições, etc, ainda não tinham chegado. Na volta deixei o caminho na estancia de Francisco José para reconhecer o outro caminho já mencionado, que d'aqui conduz para a estancia do major Albano [Curral de Pedra), passando o Jaguary perto da estancia, e segue para o passo do Carmo duas e meia léguas, de Francisco José: o caminho é muito mais alto do que o outro e por isso mais árduo; passa-se menor numero de arroios, porém um exercito em marcha não acha agua bastante para seu sustento. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 29. </span>— Deixei às 10º da manhã S. Gabriel, De tarde visitei o tenente-general João de Deus Menna Barreto, cujo conhecimento fizéra em S. Gabriel, na sua estancia do Batovi, a mais bella que ate agora vi no Brasil, n'um lugar muito ameno, que domina toda a vizinhança. Um pequeno hespanho (yo soy el capelano del general velho), era muito prestimoso. O general me fez presente de um cavallo; convidou-me ficar esta noite, para amanhã escolher outros mais que me haviam de prestar bons serviços na campanha; </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dão obstante o bom acolhimento nào pude aceitar o convite, como desejava. Em muitas estancias encontrei gente muito amável. Refresquei-me com um melão, comido no gozo da vista encantadora. Pousei na estancia do tenente Marcellino, d'onde, por falta de cavallo, não pude seguir caminho. Tinha vindo à galope de Batovi ; Já era noite; comtudo tive o desgosto de não não achar cavallos, visto que desejava chegar amanha ao acampamento. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 30.</span> — Não era maito cedo quando chegaram os nossos cavallos. Almocei na estancia de Francisco José, brilhantemente em relação ao tempo, e levei alguns viveres para o coronel Joaquim José da Silva, No posto do Carmo major Adolpho, troquei cavallos; continuei sempre à galope; errei de tarde constantemente o caminho: as cazas que encontramos estavam vazias; soffri fome e sede, os cavallos estavam cançados, e de noite chegando ao lugar determinado, não encontrei mais o exercito, que em marchas forçadas tinha deixado o acampamento. Ao pôr do sol achei o rasto e segui. Tomando um caminho de travez para uma estancia que de longe apparecia, cheguei à uma casa isolada; desde meio dia tudo parecia morto em nosso caminho. Entrei no jardim por traz da casa onde encontrei quatro cavallos muito bellos amarrados, espadas, mantas no chão; tudo parecia indicar que houvesse aqui um piquete, porém os cavallos e o rosto não me pareciam de nossas tropas, e reconheci as pistolas promptas, a espada solta na bainha, e encontrei um homem fortemente armado, mas velho, brincando com uma moça; os cães latiam; pulei para elle por cima da cerca, mas sem arma. Elle fallou-me em hespanhol máo; exigi cavallos, disse-me que era impossível, não o deixei arredar-se do meu lado; pretendia ser o capataz da estancia, prompto para fugir com os cavallos sellados, porque o inimigo estava perto ; as minhas ordenanças chegaram com </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">difficuldade; obtivemos cavallos; era noite quando partimos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Nada de viveres. Durante a noite chegamos a outra casa isolada, alguma carne refrescou-me; não lenho lembrança de comida mais gostosa, convidáram-me para ficar, mas eu estava ancioso de alcançar o exercito; continuamos, perdemos o caminho, tomamos muito tarde a mesma casa; perdi-me de novo em atoleiros onde mais de uma vez quasi afundei-me; nenhuma esperança de encontrar o caminho certo; encontramos outras casas todas desertas. Era depois da meia noite quando encontramos junto de uma casa um carro e homens promptos a acolher-nos. Entendemo-nos, era uma família, cujo chefe tinha sido perseguido ao meio dia pelo inimigo e suas balas, e que devia a salvação a seu bom cavallo. Elle affirmou que partidas do inimigo estavam vagando muito perto. Grande embaraço. Os guías não conheciam o caminho; tínhamos andado com pressa, e cançadissimos, precisávamos de repouso. Amarraram-se os cavallos, deitaram-se os sellins no chão húmido, os cobertores em cima. Noite húmida. Pude de manha substituir a agua de lavar pelo orvalho que impregnou minha roupa. Foi uma noite cheia de ancias. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Janeiro 31.</span> — O mais cedo possível segui caminho. Todos os homens fugiram; e com cautela militar devia muitas vezes avançar, reconhecendo, porque todas as casas pareciam ter sido abandonadas pelo inimigo: afinal descubro o rasto de nosso exercito; acho algumas carroças de negociantes, que seguem o nosso exercito; como alguma cousa, mostro-lhes quanto perigo correm demorando-se. Elles dizem que o exercito está perto, chego entre 12°— 1º ao seu acampamento á margem direita do Camacuan, acho tudo na maior actividade, munições, bagagens em luta com as maiores difficuldades nas cabeças de soldados nús, que pareciam ladrões; varas compridas ajudam atravessar o passo difficil do Camacuan Chico. O general em chefe me acolheu bem, mostrando em suas palavras muita anciedade. muito interesse para comigo ; ficou satisfeito com as informações. Pouco depois das 9 horas appareceu o inimigo em força na coxilha alta que corria parallela; a 1 ½ legua de distancia á nossa posição sobre o lado do Camacuam. Um caudalosa // rio nos separa, do qual os próximos passos estão em nosso poder. O general Barreto avança cora um forte corpo de cavallaria para soccorrer a brigada do coronel Bento Gonçalves, que se retira. Estamos promptos para o combate e resolvidos a sustentar a posição, que os peritos do paiz consideram muito vantajosa, principalmente por causa das circumvizinhaças, que não permittiam flanqueamento ou desvio do caminho, que o exercito tinha seguido e que agora occupava com toda sua força atraz dos passos do rio. Sinto ter perdido a planta durante a batalha. A artilheria occupava uma altura dominante e tinha espaço para se mover em qualquer direcção; a mim parecia a posição muito vasta para as nossas forças, todavia não tinha tempo de indagar isso, O inimigo occupou as alturas, descubriu differentes corpos, mas não avançou mais, pelo contrario, retirou-se durante a noite. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O general Calado, o coronel Alencastro e Pita com os restos do 6º regimento de cavallaria, cerca de 30 homens e metade d'esse numero de officiaes, o jovem tenente coronel, commissario geral Alberto, chegáram ao acampamento pouco depois de Barreto ter avançado. Tendo estado separado do exercito, e tendo perdido meu jornal no combate, reproduzo somente o boletim do exercito, para não interromper o fio da narração. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A 26 de Janeiro passou o exercito a acampar nas margens do Toquarembá [sic] Grande entre duas vertentes que formaram uma forte posição: n'esta tarde se reuniu o brigadeiro Barreto com a 1ª brigada de cavallaria, ficando a 6ª. (Bento Gonçalves observando o inimigo), à tarde de 27 o brigadeiro Barreto reuniu-se com o exercito no Toquarembó. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A 28 marchou o exercito atravessando a Coxillia Grande em um dia tempestuoso, e acampou na mesma ordem junto ás origens do rio Camacuan Chico, passando grande parte da // noite a bivouac; á 29 acampou na margem esquerda do Camacuan Chico, e não podendo este ser vadeado em consequencia da copiosa chuva dos dois dias antecedentes, e não tendo o exercito pontões, foi mister fazer botes de couro (chamara-se n'essa província pelotas), nos quaes passou toda a artilheria e munições de guerra e bocca. Emquanto o exercito se occupava da construcção dos botes de couros, no dia 30, o general Alvear marchava com todas as suas forças sobre elle, O coronel Bento Gonçalves, batendo-se em retirada, conseguia retardar a marcha da vanguarda inimiga, e sem perder um só homem fez alguns prisioneiros mortos e feridos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No dia 31 continuou o inimigo a sua marcha sobre o coronel Bento Gonçalves; e porque então ainda não haviam passado as bagagens, mandou o general em chefe que o brigadeiro Barreto tornasse a passar o Camacuan com os regimentos 20 e Lunarejos para apoiar a 6ª brigada. A artilhería sobre botes de couro, a cavallaria à nado e a infantaria com as munições à cabeça, e com agua pelos peitos, atravessaram o rio no dia 30, as carretas de munições de guerra e bocca no dia 31; gastando-se n'essa difficil passagem unicamente 36 horas. Á vanguarda inimiga esteve a menos de uma légua de distancia em continuo tiroteio, que cessou depois da noite. A 6ª brigada ficou do outro lado do rio cobrindo a retaguarda, e o brigadeiro Barreto reuniu-se no dia 1º de Fevereiro ao exercito.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 1.</span> — As carretas e a bagagem puzeram-se em marcha às 6º da manhã, as tropas ás 8º rumo E S E; terreno muito arduo, subimos e descemos com trabalho e em circuitos; campos ásperos e pedregosos às 11. Às 11 apparece a estancia de José António de Freitas à esquerda, uma légua adiante. Às 2° chegamos ao arroio de Trahiras, que com seus affluentes fórma as Pontas do arroio das Palmas. Ficáram no acampamento abandonados em // pontos altos com larga vista, sentinellas perdidas, e um pequeno destacamento de cavallaria; tendo ordem de fingir querer defender o passo e deixar esse só, quando o inimigo fizesse preparativos indubitáveis para passar, A posição é uma completa forlaleza, cujos accessos são muito árduos, onde mil difficuldades se pódem apresentar a um inimigo, que avança. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A plataforma estende-se quasi plana até a distancia de um tiro de metralha, diante da artilheria postada em uma grande bateria; as subidas são geralmente ingremes e só alguns infantes isolados as poderiam galgar a custo; principalmente no flanco direito o terreno á muito escarpado e pedregoso. A plataforma tem maior declive para o ribeirão nas nossas costas do que para a frente; de sorte que um pouco adiante da artilheria já a infantaria não se podia mais ver, e a parte mais alta da plataforma se achava entre a artilheria e a infantaria. A cavallaria estava muito a seu gosto acampada ao longo do ribeirão: as carretas que lentamente se moviam, prova evidente da inconveniência do uso de bois, quando ainda em cima sua alimentação consiste em capim, que elles próprios devera procurar, tinham de passar todas hoje o ribeirão; vieram porém tão tarde que isto foi impossivel. O passo em A é soffrivelmente difficil, especialmente por causa da íngreme e pedregosa subida para o lado de A, de sorte que se deve vizar muito para a esquerda, na direcção do ribeirão B, para flanquear a subida ingreme A e ganhar pouco a pouco a altura. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Todos os passos do rio são muito difficeis para as carreias construídas de um modo irregular, mal geitosas e terríveis; é impossivel imaginar cousa alguma mais inconveniente, // mais insensata do que estes vihiculos. Os passos são gastos pelas rodas, as barrancas desmoronadas e entrecortadas com grandes pedaços de rocha. Diante de taes vehiculos collossaes, que carregam 80 arrobas (2560 libras):, andam 12 e mais bois, pela cabeça tão somente presos a um jugo muito inconveniente; de sorte que muitas vezes o boi sacode o jugo, consegue voltar-se (cousa muito fácil) e põe o resto em desordem. A machina poe-se em movimento com grande Ímpeto para aproveitar o movimento accelerado, os bois facilmente se estorvam um ao outro, um cahe, os outros param, ou o carro vira, o que com raras excepções nos aconteceu em cada uma das passagens, e fez-nos perder um tempo precioso. Os conductores andara à cavallo, dois com cada carreta, ou andam a pé (raras vezes) ao lado, e dirigem com constante gritaria seu vagaroso gado ; elles têm varas compridas com pontas de ferro, para dar mais emphase à sua vozeria. Dez carretas taes estão debaixo das ordens de um capataz e todas debaixo de um official subalterno (commissario dos transportes), O todo é uma confusão completa, sem systema, favorável a toda espécie de fraude. O eixo do carro é todo de madeira; ferro não ha em todo o carro, as rodas não são cercadas de ferro, as extremidades sem ferro jogam n'um buraco da roda, que tem a largura de 1/4 de diâmetro; a madeira jogando sobre madeira causa uma fricção que dilacera os ouvidos : as extremidados [sic] dos eixos não estão em proporção com o resto do carro grosseiro, e quebram-se facilmente, porque nenhum ferro lhes augmenta a solidez, e todos os dias deviamos renovar eixos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 2.</span> — Trinta carros gastaram 3 horas para passar o pequeno arroio. As tropas marcham às 6,º Às 6 3/4 avista-se o arroio das Palmas a 1000 pouco mais ou menos à direita e a estancia de Severino Teixeira Brazil, meia // légua adiante, Às 7 1/2 chegamos ao arroio das Palmas, atravessamos e tomamos posição na margem direita d'elle: a metade da artilharia collocou-se no flanco direito junto da casa na própria linha. Os dois flancos encostados nos edifícios podem ser defendidos com vigor, porque muitas das casas são fortemente construidas de pedras solidas. No flanco esquerda ha </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Um curral de pedra, que forma um reducto completo. O rio, posto que só em poucos lugares transitavel para cavallaria e artilheria, era n'esse momento insignificante e offerecia muitos passos. A posição esta cercada de consideráveis alturas na frente e nos flancos, pelo que eu a não julguei tão forte como outros pretendiam que fosse; comtudo não quero negar que ella offerece grandes vantagens, especialmente se as casas forem postas em estado de defesa. Os conhecedores da região pretendiam que sua força consistia principalmente em seus arredores inaccessiveis, e que para ella só existia aquelle caminho, pelo qual viemos. A natureza do terreno parece-me justificar esta asserção; todavia não merecem grande confiança estes senhores, e o rio não é assaz conhecido.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 3.</span> — Ficámos em nosso acampamento de hontem, e eu recebi ordem de reconhecer o passo dos Enforcados. Parti ás 5 1/2 da manhã; às 6 3/4 passei a estancia de Matheus António Dias, ao lado direito da estrada, e às 7º e 5 minutos passei a estancia de Simão Pires, 400 ao lado direito, rumo N. O arroio Laxiguana nasce na retaguarda do nosso exercito, a pouco mais ou menos meia légua de distancia, deslisa um pouco arredado ao longo da estrada, através de grandes cavidades, e só é avistado // quando desemboca no Camacoan Grande. À direita divisasse em um intervallo do duas a Ires léguas os cimos da Íngreme serra de Camacuan ou da Casa de Pedro. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Às 9º e 4 minutos encontro o passo da Laxiada, que só com difficuldade e demora póde ser transposto, e para as carretas ainda são precisos trabalhos prévios. Dirigem-se a mim vários grupos de camponezes armados e com cavallos; desejam fazer parte do exercito. Posições não ha em lodo o caminho até o passo da Laxiada, e no próprio passo apenas uma noite póde o exercito demorar-se; tem-se de procurar e reconhecer uma boa posição; talvez exista uma nas margens do ribeirão. A região é desfavorável para a cavallaria, o que nos causa grave incommodo. Do Passo em diante o </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">caminho torna se escabroso e exige reparos se tem de ser percorrido pelas carretas. Affirmam que não se querendo atravessar este passo e a região escabrosa, póde-se levar as carretas pela coxilha de Simão, que se estende até o rio Camacuan; este outro caminho, porém, dizem ser tão pedregoso que só raras vezes é preferido, e os meus guias não o conheciam. Apezar d'esta difficuldade de transito reconheci em vários lugares vestígios de carretas que pouco antes haviam passado. Às 10º e 15 minutos cheguei ao passo dos Enforcados ou de S. Simão sobre o rio Camacuan, na distancia de 5 1/2 léguas do nosso acampamento. De ambos os lados pousavam muitas famílias fugitivas. Do nosso lado, à margem exterior, existe a venda do Simão, que emprestou o nome ao passo. Parecia-me impossivel passar o rio, tão medonhas são as barrancas, principalmente do outro lado; os buracos de extraordinária altura não apresentam fundo, e acham-se revestidos de arvores e arbustos ; comtudo vi com profundo pasmo os bois perfeitamente adestrados levarem as carretas para a margem ulterior. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O próprio rio é fundo e só se pode atravessar o passo à // nado. Para o exercito transpôr a corrente são necessários certos arranjos no passo. Dizem que para cima são as margens escarpadas, ingremes, penhascosas e cobertas de mato, e não offerecem outro passo; mais três leguas abaixo encontra-se o passo do Cassão, Para lá fui, achei-o muito melhor, podendo com pouco trabalho dar uma commoda passagem; suas margens são mais pedregosas e solidas; e como não é muito conhecido acha-se em muito melhor condição. O caminho, desde o passo dos Enforcados até o Passo do Cassão é elevadiço e rochoso, entrecortado de precipicios e ribeirões; principalmente logo no principio tem-se de passar grandes lages escorregadiças. Toda a região apresenta o caracter de terra montanhosa. O caminho do passo do Cassão até o nosso acampamento, é intransitável, assim para a artilheria e carretas, e exige previamente muitos reparos; mas a cavallaria e infantaria póde passar. À margem direita prolonga-se o caminho através dos risonhos prados da várzea de Laxiguana, a cuja esquerda erguem-se as paredes perpendiculares da serra da Cruz da Pedra. Este valle forma uma posição contínua de passo em passo, limitada de um lado pela Laxiguana com seus rochedos, e do outro lado por uma coxilha alta, com cimos penhascosos; nos ribeirões, que em varias partes desaguam, offerece posições vantajosas, com maiores frentes do que póde ahi desenvolver um inimigo quando penetra. Excellente agua, abundância de lenha e do pasto, permittem à columna maior demora. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Domingo, 4 de Fevereiro.</span> — A nossa posição apenas offerece em considerável distancia alguma lenha; por isso esta manhã transferimos o acampamento para as nascentes da Laxiguana, à meia legua do distancia, onde existe uma posição muito commoda para as mais urgentes necessidades. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 5.</span> — Ao meio-dia chegou ao acampamento a divisão do marechal Brown, tendo elle chegado algumas horas antes. A divisão consistia nos regimentos 4º e 5º de cavallaria, aos quaes se aggregou a gente que elles tinham no exercito, ficando assim com um numero superior ao seu quadro; no 6º regimento de cavallaria, ao qual, apenas desfalcado de alguns homens, reuniu-se a companhia provisória de pretos e mulatos (substitutos), formada no Rio-Grande pelo visconde da Laguna; em 80 homens escolhidos, lanceiros allemães, incorporados no 4º; no 27 batalhão de caçadores allemães em numero de 500 homens; em três companhias do 18 batalhão de caçadores de Pernambuco, cujo resto se espera todos os dias, A divisão tomou posse do nosso acampamento da véspera.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Foi sem duvida um grande triumpho estratégico a reunião doestas duas divisões, passando o general inimigo com forças immensamente superiores por entre ellas, então separadas por um intervallo de mais de 80 léguas, e occupando além disso uma posição militar que tolhia as communicações dos exércitos entre si e com as cidades. Nos recem-chegados encontro muitos conhecidos, como V. Friedrichsen, Siegener, Boraemann, etc. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 6.</span> — Ficámos em nossa posição sobre a Laxiguana. No caso de um ataque ou quando se resolvesse esperar aqui o inimigo, seria preferível a posição sobre o arroio das Palmas, por isso apresento uma planta em maior escala e a descripção com todas as observações militares que a situação offerece. Tudo se perdeu com os demais papeis, e o que a memoria salvou apresento no lugar indicado pela data de 2 de Fevereiro. Tencionava-se fazer n'esta // tarde uma manobra de todas as tropas, que falhou completamente, e despertou bastante anciedade quanto ao êxito de alguma futura batalha.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 7.</span> — Conservámos a nossa posição sobre a Laxiguana, e a noite fixemos uma triste experiência com os fogueies à Congrève que custou a vida ao infeliz tenente Siegener. Estavam presentes os offciaes generaes e eu; accenderam três foguetes que falharam, mas causaram-me </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">grande medo, porque eram deitados no chão e só no meio se os levantava para o alvo determinado. Parece-me que Siegener, pouco lembrado da grande precaução exigida para esses foguetes, quando não ha os meios necessários para lançal-os, applicou muita pólvora em pó, porque julgava terem elles sofrrido da humidade. Isto deu em resultado arrebentarem todos três muito perto de nós e o ultimo d'elles aos pés do próprio Siegener, que recebeu três gravíssimas feridas. O calor era excessivo; remédios muito limitados: de commodos nem vislumbre. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 8.</span> — Para poder ser tratado com mais cuidado foi Siegener transportado de noite para um pequeno lugar da vizinhança. Morreu dois dias depois e foi sepultado em Caçapava. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 9.</span> — Ao raiar do dia fui cora o ajudante-general e um esquadrão de cavallaria reconhecer o caminho desde o nosso acampamento até o arroio do Tigre. Este passa pelo acampamento das Palmas e das Trahiras, onde afastando-se meia legua para a direita da estancia de João António de Freitas, dirige-se perpendicularmente sobre a linha de frente do nosso acampamento das Trahiras. nas elevações, e attinge ao arroio do Tigre, que d'alli dista meia legua. Às 4 da tarde partiram os vehiculos do exercito, e as tropas estavam promptas para marcharem à primeira ordem. Já ao partir de Sant'Anna queria mencionar a grande // habilidade que em todas as marchas desenvolveram nossas guerrilhas, corpo pouco disciplinado e exercitado, composto de filhos da província. Formam sempre a vanguarda em todos nossos movimentos, e com prazer se vê como cumprem seus deveres, como exercem suas funcções; dir-se-hia terem sido instruidos na melhor escola européa» Quantas vezes nossos generaes, applicando os telescópios, julgavam descortinar a uma légua de distancia as vedetas inimigas, e ao approximarmo-nos reconhecíamos serem nossas guerrilhas que se reuniam em extraordinária distancia, e esperavam o corpo do exercito depois de terem flanqueado e reconhecido todo o arco de terreno em nossa frente. Como tiralheiros de cavallaria ligeira ellas iniciam o combate são tropas denodadas, dignas de louvor, se porventura não: obscurecessem o brilho de sua gloria pela indisciplina e por uma invencível rapacidade. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 10. </span>— À 1 hora da noite partimos com as tropas. Estava muito escuro; parámos das 3 — 4 1/2. A direcção da marcha é pelas posições abandonadas das Palmas e das Trahiras, e por isso nada ha para mencionar. Às 10 1/2 chegámos ao Camacuan Chico, onde tomámos posição a uma distancia cerca de um terço de légua da antiga posição. Foi uma estirada marcha em uma manhã abrasadora, Tomam maior vulto os acampamentos, em consequência de terem augmentado as tropas. O exercito acampa por divisões ; a artilheria fica junta no centro, em um lugar conveniente, para se poder facilmente arreiar. A planta que se perdeu do acampamento era pouco mais ou menos a seguinte:</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Domingo, Fevereiro 11.</span> — Ficámos na posição da véspera; // chega o resto do 18º batalhão. Tranqow, chegado hontem à noite, partiu hoje de manhã. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 12.</span> — O quadro do exercito, tal como foi apresentado ao general em chefe pelo ajudante general Francisco José de Sousa Soares de Andréa, contém os seguintes </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">dados : </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Mappa das forças do exercito imperial no dia 11 de Fevereiro de 1827 </b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSTuVdSZa2jLxBALnjrTmTHm35hJ6qv-9pfbxN9CZlZfnetAb6_Q8LFtlFlTZx_GP63mgJExyN9BrKxf8K2685466kMUmt9zqOLSxw0Qo9u-sOptF36a8bnaMjCtrLjhyphenhyphensTEOLDCHFFkvb/s1600/tabela+seweloh.jpg" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSTuVdSZa2jLxBALnjrTmTHm35hJ6qv-9pfbxN9CZlZfnetAb6_Q8LFtlFlTZx_GP63mgJExyN9BrKxf8K2685466kMUmt9zqOLSxw0Qo9u-sOptF36a8bnaMjCtrLjhyphenhyphensTEOLDCHFFkvb/s1600/tabela+seweloh.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">11 de Fevereiro de 1827. Francisco José de Sousa Soares de Andréa, brigadeiro. Ajudante-general.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Existiam 12 companhias de guerrilhas na maior confusão quanto à sua força e organisaçâo, e no momento não havia vagar para innovações; ellas estavam distribuídas pelas divisões da cavallaria ligeira, e seu numero orçando // em 500 homens, já se acha incluído no quadro supra. Desde alguns dias tinbam-se aggregado a nós muitos camponezes mal armados, porém optimamente montados; seu numero chegava a 3i0. Os que o marechal Abreu trouxe eram 500. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Fevereiro 12, segunda-feira.</span> — (o plano perdeu-se.) </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">— Partimos ás 5 ½, nossa posição distava só um terço de legua da passagem de Camacuan, que tínhamos passado e fortificado nos dias 29, 30 e 31 de Janeiro. A passagem era incommoda, desagradavel e longa; as ultimas carretas só transpozeram o rio ás 11 horas do dia. A má condição dos meios da transporte, dos bois de carro e de todos os vehiculos, bem se patenteou aqui conjunctamente com a falta sensível de uma companhia de sapadores, e com o atrazo produzido por uma simples carreta quando virava. Era immensa a extensão occupada pelo exercito em marcha; chamei para esta circumslancia attenção do general, desejando que os espiões do inimigo nos vissem das elevações, porém que não houvesse ataque. Soube ao depois em S. Gabriel que o inimigo investigava o nosso estado por meio do seus bombeiros, porque elles partiram gritando « Alli vienen los perros portugueses como tierra». Seguimos o mesmo caminho como antes de Taquarembó para cá e as 2 horas acampamo-nos nas vertentes de Camacuan. Não é uma posição, comtudo tivemos a felicidade de encontrar madeira e agua n'estas alturas. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chega-nos a noticia de achar-se perto o marechal Abreu com a gente e os cavallos. A inesperada diversão do inimigo, que eu logo predisse, quando deixamos Santa Anna, esclareceu-nos a respeito da situação d'aquelle ponto abandonado. Partidas inimigas tinham infestado Santa Anna e tinham surprehendido e destruído o grande deposito de bagagens, mochilas e munições no passo de S. Borja (Rio de Santa Maria). </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">//</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Terça-feira 13 de Fevereiro.</span> — (o plano perdeu-se).</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pozemo-nos em marcha às 5 horas, e para alcançar-nos o caminho da coxilha fizemos um grande desvio; chegamos com a vangaarda às 7 horas até a estancia de Joaquim José Luiz. Nas duas ultimas horas, voltando-nos para noroeste, procuramos as pontas do Jaguary, onde nos acampamos. À tarde chegou o marechal Abreu com um uniforme ricamente bordado acompanhado de 240 homens; um artilheiro inimigo apresentou-se-nos como desertor, é francez e fornece-nos minuciosas informações a respeito do inimigo, principalmente a respeito da artilheria. Segundo elle diz, o inimigo dispõe de grandes forças ( talvez mais de 12:000 homens,) os cavallos são máos, a artilheria é movida por bois, a cavallaria conduz os cavallos pelo freio e só monta aternadamente [sic]; a arlilheria, composta de 18 peças, e muito mal servida, tem soffrido muitas deserções. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mandamos cartuchos a Bento Manoel, O coronel Seára acha-se com uma grave moléstia venérea; eu lhe aconselho que appelle para os sentimentos de benevolência do general, em vez de arriscar-se a succumbir em marcha. Eu mesmo me dirijo ao marquez, que quer mandal-o para Porto Alegre, e communico a Seara esta tranquillisadora noticia. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Quarta-feira, 14 de Fevereiro.</span> — (Perdeu-se o plano.) </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Partimos às 5 horas em direcção norte, ás 8 3/4 chegamos ao posto de José Martins Coelho, às 10 horas ao posto de Marcellino Silveira. Paramos das dez e meia ás onze e meia, e almoçamos atraz de uma grande pedra em companhia de um grande pessoal. Às 2 horas, chega a vanguarda à estancia do Velho Serpa ( José Francisco ), em cujas proximidades se acampam em muito amplo espaço as differentes espécies de tropas. Nas vizinhanças d'esta estancia encontra-se um bello </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">mármore, muito branco, que se aproveita para fabricar cal. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Quinta-feira, 15 de Fevereiro. </span>— Conservarmo-nos nas // posições da véspera. A gente do campo foi distribuída em 11 companhias de 50 homens commandadas por officiaes da milícia. Faz-se exercicios. Apresento meu criado no 27.ª batalhão: elle deixou furtar a canastra, de modo que eu perdi varios objectos e alguma roupa, salvando comtudo um livro de Stade, para mim de grande valor. A bagagem e as carreias partem antes de nós às 4 horas da tarde. Vou com o general visitar o marechal. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Sexta-feira, 16 de Fevereiro.</span> — Marchamos meia hora depois do meio-dia em direcção norte; às 3 3/4 achamo-nos no passo do Páo Arcado de Vaccacahye gastamos uma hora em transpol-o. O general e eu deitamo-nos na relva com as rédeas dos cavallos nos braços; sentimos que as marchas nocturnas apresentam milhares de incommodos e repugnam à natureza do homem. Por isso estas marchas só devera ser emprehendidas raras vezes ou em casos extremos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Julgávamos estar o inimigo muito perto, ainda na immediações de S. Gabriel; motivos sufficientes nos induziam portanto a emprehender esta marcha nocturna, que o inimigo devia ignorar. Às 6 e 1/2 horas chegamos à grande estancia de Bernardo do Canto, a qual se compõe de vários edificios espaçosos e sólidos, e apenas dista 4 leguas de S. Gabriel. Meia legua à esquerda da estrada que </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">conduz a S. Gabriel está o posto do Chico Barreto. Ainda encontramos gente na estancia; o inimigo ainda não a tinha saqueado; regalamo-nos de pecegos, que n'ella existem em abundância; o proprietário e o velho Serpa vem mais tarde visitar-nos; conservam-se escondidos nos bosques com excellentes cavalgaduras, porque o inimigo esforça-se por descobril-os. Elles confirmam a posição do inimigo em S. Gabriel e suas immediações. A columna gasta da vanguarda à retaguarda 34 minutos, marcha em meias companhias, meios esquadrões e meios batalhões à // meia distancia. Às 10 horas descançamos nas vertentes do Vaccacahy. Faz muito calor. Nas eminências diante de nosso acampamento avista-se a bella estancia do Batovi, pertencente ao tenente-general João de Deus Menna Barreto. Divisamos vedetas inimigas que partiram a todo galope, quando transpozemos as eminências. Um pouco mais tarde ouvimos 3 tiros de artilheria na direcção de S. Gabriel, julgamos ser signaes. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O marechal Brown foi reconhecer ao meio-dia na direcção de S. Gabriel e declarou ter visto perfeitamente massas inimigas n'aquella direcção. O general parte de tarde para reconhecer, e nós com o telescópio, podemos avistar algins cavalleiros e numerosas manadas, sem comtudo descriminar se são de cavallos ou de bois. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Sabbado, 17 de Fevereiro.</span> — Partimos as 3 horas da manhã, paramos ás 4 1/2; a vanguarda manda a notícia de estar o inimigo perto. Mudamos cavallos até ás 7 1/2. O capitão Totte, mandado para descobrir Bento Gonçalves, não o tendo encontrado, recebe do general ordem de prisão. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Nas tropas reina o mais ardente enthusiasmo; julgamos em breve topar com o inimigo, avistal-o em cada desçampado; logo porém nos convencemos serem exageradas e falsas as noticias da vanguarda; às 10 3/4 chegamos ao passo do Vaccacahy, que transpuzemos sem obstáculo; as avançadas pararam às 11 horas em S. Gabriel. A condição d'este lugar era triste, os habitantes tinham fugido e as partidas inimigas tinham-se retirado havia uma hora. O grosso do exercito tinha-se dirigido três dias antes para Santa Maria, ficando Lavalleja com mil e tantos homens. Perto do passo apresenta-se o cadete Roeding, de Hamburgo. Prisioneiro do inimigo em S. Borja, foi mandado pelo coronel Heyne com parlamentares allemães para sublevar as tropas allemãs; elle tudo entrega em minhas mãos, e eu informo devidamente o general. Elle tinha ordens // especiaes para o major Heise e o capilão Leenhoff; a este ultimo só devia dizer «agora reina o luxo». Mandei Roeding ficar junto de mim, e pedi ao general que o empregasse, o que elle lamentou não </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">poder, porque isto só competia ao Imperador. Almoçamos em S. Gabriel e partimos dalli às 2 1/2 para tomar posição a meia legua de distancia na margem esquerda do Vaccacahy. As carretas e a bagagem ficam em S. Gabriel. Knorr embriagou-se nas caixas encontradas, de modo que ficou </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">prostrado no chão. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Domingo, 18 de Fevereiro.</span> — As tropas marcháram às 4 horas da manhã, o quartel-general ficou até ás 2 horas, por causa dos muitos negócios. O tenente-coronel Seára foi mandado, por motivos de saúde, com despachos para Porto-Alegre, O general partiu com seu estado-maior às 2 horas; nós vamos na direcção de S, Gabriel, deixamos este lugar à esquerda, voltamo-nos às 5 1/2 para noroeste e alcançamos às 7 1/4 da noite por bons caminhos o acampamento das tropas no arroio de Salto junto ao posto de João de Deus; julgo todavia que nosso guia nos transviou, porque n'este espaço de tempo percorremos, apertando os cavallos, o duplo do caminho, que as tropas andaram. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ainda nos dirigimos ao marechal Brown e ao general Barreto, e fomos ao depois repousar na margem do rio, que eslava quasi enxuto, porque apenas em alguns buracos do leito se encontrava agua ordinária e impura. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">As tropas acamparam em uma grande extensão ao // longo do rio; o terreno era uma vasta lezíria, como se encontra frequentemenle à margem dos rios; no tempo das chuvas fica completamenle salgado e ao depois revestido de uma espécie de capim duro como a caniço e da altura de um homem. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Segunda-feira, 19 de Fevereiro.</span> — Partimos às 3 1/2 da manhã, ás 8 horas recebemos a noticia de estar perto o inimigo; da parte de Bento Manoel chega uma guerrilha-bombeiro: extenúo tres cavallos para encontrar a brigada de Bento Gonçalves e conduzo a este ao general em chefe. O exercito tem os cavallos da reserva jâ apparelhados. Às 4 1 e 1/2 chegamos à estancia de Feliciano Duarte, e uma hora depois nos acampamos do outro lado junto à estancia de Francisco José (agora Manoel José Pereira). </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Meu criado emprestou meu melhor cavallo a um sargento do batalhão 27 de caçadores e não me sendo restituído, ordenei ao dito creado, que se tornára muito deleixado, que me fosse buscar o cavallo e não me apparecesse sem elle. Perdi um presente de uma bella hespanhola de Montevideo, que sempre trazia comigo, apezar de procurar ao luar não encontrei mais vestígio:— foi para mim uma perda de máo agouro. Na estancia não achamos creatura humana, mas restos de farinha, herva-mate, gallinhas, fructas, feijão. Saboreamos bem. já em hora adiantada; parecia um banquete, os pecegos e as melancias foram um verdadeiro deleite. O meu criado me inspira receios, não voltou de noite. A noite está quente, como o dia fora abrazador; deito-me muito tarde sobre as pedras diante da casa. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">//</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Terça-feira, 20 de Fevereiro.</span> — Pomo-nos em marcha às 2 horas da manhã, as tropas já tinham partido antes levando pela redea os cavallos da reserva; nós avançamos lentamente, a lua ficou encoberta, não se podia observar o caminho, os passos eram incertos. Paramos das 3 às 4 horas para reduzir a columna que se achava muito alongada. Às 4 horas encontramos a nossa vanguarda, que em vez de executar a ordem de marcha às 2 horas, tinha julgado melhor dormir até às 4 horas. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Depois das 5 horas recebemos notícia de estar perto o inimigo, mudamos depressa os cavallos, a primeira divisão avança immediatamente, dirigimo-nos para uma collina; vê-se na planicie as escaramuças da vanguarda com o inimigo. A uma distancia de 7800 passos existe uma eminencia que é como uma longa cortina com dois baluartes; avistamos tambem alguns pequenos fogos, mas um grande fogo na ala esquerda do inimigo encobre a maior parte de nossa posição; jnlgamos que é o fumo de seu ultimo acampamento, e que os fogos eram para uma pequena força destinada a proteger a passagem do inimigo pelo rio Santa Maria. Todas as communicações que nos chegam, confirmam esta passagem do inimigo dois dias antes no passo do Rosario oom toda a artilheria. A </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">nossa eminencia esta separada da do inimigo por um largo vale, cuja superficie em alguns lugares de 3, 4,6 pés de fundo, apresenta bordos escarpados; só os cavallos já muito habituados podem estas difficuldades, e os soldados à pé passam isoladamente.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Custou muito a conter a tropa, cada um queria lançar-se // sobre o inimigo; um tal enthusiasmo devia também inflammar o general em chefe. Depois de uma curta deliberação com os generaes ordenou elle um rápido ataque. A primeira divisão avançou antes que a segunda tivesse marchado, às 7 horas lutava-se renhidamente, O inimigo tinha desenvolvido suas massas com grande habilidade táctica; apezar de avançar a primeira divisão com vigor e coragem, envolveu o inimigo a segunda divisão e a vanguarda, jà quasi dispersa dos paisanos, de tal modo que ella só podia galhardamente sustentar uma posição defensiva, sem ser capaz de auxiliar a primeira divisão nem formar-se em duas linhas na retaguarda do inimigo, que procurava rompel-a, nem assumir o papel de uma forte reserva. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O general Barreto, o tenente-coronel José Rodrigues Barbosa, commandante do regimento Lunarejo, chegaram a todo o galope à presença do general em chefe, vindo de uma direcção que nos surprehendeu; declaravam em alta voz que as noticias eram más. Não me recordo de todas as palavras, mas, forte foi a impressão que em mim deixaram; logo se retiraram â galope e prometteram reunir as tropas dissipadas e tentar novos ataques. Eu me dirigi a cavallo com o general em chefe para o fundo do valle, onde estava a infantaria de nossa primeira </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">divisão: quando para ahi nos dirigíamos chegou-nos a noicia que toda a bagagem estava perdida e cortada a retirada, que toda a região coberta de vegetação estava em fogo, e nós completamente perdidos. O major Mello não sabia o que dizer ao general, cria tudo perdido, pelo que foi </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">seriamente reprehendido. De differentes pontos chegavam communicações desfavoráveis; o inimigo desenvolvia uma considerável superioridade; atirava sobre nossas alas e retaguarda fortes columnas de cavallaria, a ponto de nos interceptar a estrada de S, Gabriel; não se podia auxiliar a </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">primeira divisão, frustrou-se o plano de ataque, e a segunda // divisão, que devia servir de reserva, não podia operar movimento algum, só conseguiu repellir os vigorosos ataques, que se succediam uns após outros. 1,600 homens, regimentos inteiros, officiaes de todas as graduações tinham fugido, achava-se inactiva toda a artilheria à excepção de duas peças do official Mallet; o general ordenou à primeira divisão que regressasse à sua posição anterior, e sendo esta insustentável, ordenou a retirada.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Esta retirada foi executada a custa de muitos esforços, na melhor ordem e com uma tal serenidade e sangue frio dos soldados, como eu nunca esperara no Brasil; e se Buenos-Ayres era muito superior em patriotismo, táctica, organisação, equipamento e meios de ataque, nós não nos mostramos inferiores na brilhante disposição de nossa retirada, para a qual muito concorreu a tranquillidade e coragem inexcedivel do general em chefe. Retiramo-nos combatendo: soldados do batalhão 27 puxavam as peças, que tinhamos de salvar, porque as bestas mostraram hoje sua completa inutilidade para o transporte da artilheria n'esta região. Desviados da estrada tivemos de passar barrancas e abysmos, de subir montes; a nossa valente, muito valente infantaria, que foi a nossa arma offensiva e defensiva, teve de percorrer, no meio de fadigas e descalça os ardentes campos de capim em nossa direcção para o passo de S. Lourenço no Jacuhy; encravamos e abandonamos uma peça, cujas rodas se quebraram.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Logo que tocamos as primeiras eminências na retirada, vimos o inimigo concentrar um vigoroso fogo de varias baterias contra uma bateria que tínhamos deixado e que não respondia. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O commandante em chefe da artilheria do exercito do sul ahi estava, — para ahi lambem eu vôo, mas qual foi o meu espanto, quando em vez de achal-o junto às carretas, o acho deitado de costas debaixo de um carro de // munições, que estava muito afastado! Pode-se imaginar que terrível effeito produziria um tal comportamento dos subordinados ateé o próprio soldado! Que diabo é isto! São estes os artilheiros brasileiros? Clamei eu; e coronel Madeira olhou furtivamente debaixo do carro; tomou a sua anterior posição e escondeu no chão os seus sentimentos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Regressei apressadamente, contei tudo ao general em chefe, que partiu immediatamente com o marechal Brown e com o estado-maior e encontrou em seu seguro asylo e quartel de saude o valente cavalleiro com o peito condecorado; o marechal mandou immediatamente que 10 caçadores alli mesmo atirassem 10 balas n'aquelle coração covarde. O marquez de Barbacena lhe diz: Então, Sr. coronel o que é isso? Elle responde: Que quer V. Ex, que eu faça aqui? Que faça fogo, diabo! O calibre do inimigo é muito maior do que o nosso! N'este momento cahe uma bomba 5 1/2' no meio de nós e lança-nos terra no rosto; com incrível rapidez o coronel reassumiu sua antiga posição debaixo do carro em presença dos generaes e officiaes do estado-maior.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O marechal de campo Abreu jazia a uma pequena distancia d'este lugar, parecia não ter ainda morrido; fui buscar o medico do 3.º batalhão, que a excepção do Dr. Scott do 27.º batalhão, era o único que tinha ficado no campo da batalha. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Como já ficou dito, perdemos toda a bagagem, as boiadas, cavalhadas, carros, hospital, caixa militar, tudo emfim; mas o que tornava todas as perdas mais sensiveis, era que nos tinham sido tomadas as munições; a infantaria não tinha mais um cartuxo; uma carreta com munições que salvamos perto do campo da batalha, podia fornecer alguma munição para a infantaria, mas em vez dos cartuxos só encontramos pólvora; não só podia mais pensar em resistência; nossa situação era bem triste. O general tomou-se // credor de muita consideração e respeito por sua firmeza dante dos varios alvitres que foram apresentados, e um official superíor (um brasileiro!) aconselhou que elle tomasse o melhor regimento de cavallaria, resguardasse sua pessoa; e sendo uma capitulação inevetivel, se elle mesmo não subscrevesse, ella seria annullada e o governo não a approvaria. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O marquez regeitou a proposta com desprezo, declarando que antes queria succumbir com os últimos soldados do que acarretar uma tal ignomínia para seu nome. A Vanguarda armou-se depressa, nós acceleramos nossos cavallos para mandal-a parar; o primeiro da frenle é o coronel da artilheria: O que é feito de sua artilheria? Disse-lhe o marquez. Oh Sr. Marquez, retrucou elle, está toda perdida. O marquez despediu-o immediatamente para que a ella se fosse aggregar, por quanto de lá tínhamos vindo.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Seriam 2 horas, quando principiamos a retirada; fazia um calor abrazador. nem uma gola no terreno invio, nem um alimento desde hontem à tarde; o inimigo começou a expedir maiores columnas para acossar a nossa retirada; o general em chefe mandou-me procurar o brigadeiro Calado para lhe dizer, que não arriscasse muita tropa para salvar as peças, e que antes inutilizasse os canhões do que sacrificasse gente e peças ao mesmo tempo. O general Calado respondeu-me que tinha esperança de salvar a artilheria e por isso não duvidava do successo. Pelas 4 horas da tarde deixou o inimigo de nos perseguir; a nossa marcha foi até o passo do arroio Cassiky, isto é, cinco ou mais léguas distante do campo de batalha, onde nós, mortos de fadiga, cahimos da sella à margem do rio na escuridão da noite; o próprio general não podia mais, e adormeceu meio morto. Seguramos os cavallos pela rédea, e cada movimento o mais ligeiro rumor nos fazia estremecer, nos levava a pegar na espada para defendermos com a vida o pequeno es//paço onde reposavamos. Eram 2 horas da madrugada, quando os pobres soldados de artilheria trouxeram a ultima peça; de sorte que o arroio Cassiky com suas elevarias margens ficou entre nós e o inimigo como uma barreira. Durante a noite não se podia pensar na refeição, mas o crystallino rio offereceu alivio e conforto a nós e aos cavalJos, que à porfia nos precipitavamos dentro. Causava dó ver como os infelizes soldados no ardente calor, depois da marcha nocturna, da luta e da retirada se atiravam exhaustos nos lugares húmidos para sugarem algumas golas, que molhassem e refrescassem os lábios abrazados.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A planta da batalha pertence a este lugar, as explicações são do próprio punho do marquez de Barbacena. São sempre de máxima importância aquelles documentos que foram escriptos immediatamente após os grandes acontecimentos; a impressão ainda está viva; milhares de paixões </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">não têm tido ainda tempo de accordar, ainda não recobraram do susto; a verdade conserva seus sagrados direitos, os quaes ao depois são desfigurados, quando cada um explica segundo seus interesses individuais; as vezes nem o próprio fundo é respeitado; de sorte que os investigadores </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">posteriores não o reconhecem ; só a testemunha occular póde revelal-o. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Desejo obstar a uma tal adulteração da verdade, e por isso transcrevo as seguintes communicações originaes dos differentes chefes e generaes, que elles enviaram a respeito da batalha, e termino com uma carta, copiada sem alteração de uma syllaba, que n'aquelles momentos de privações e angustias eu escrevi a meu caro pai (*). </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Também aqui devemos, em honra da verdade, dizer algumas palavras a respeito do nosso general em chefe de </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(*) Faltam ao manuscripto. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(Nota da Redacção). </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">//</span><br />
<span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">quem os boatos, as intrigas e os jornaes fizeram um individuo bem singular. O marquez de Barbacena recebeu o commando em chefe do exercito das mãos do visconde da Laguna, sendo este, sem duvida, um dos mais dignos, mais talentosos, mais instruidos, mais distinctos commandantes do Brasil; julgo até não dizer de mais, collocando-o pelo menos no primeÍro lugar entre os generaes brasileiros, porque na Europa ou em qualquer outra parte do mundo poderia exercer seu elevado cargo com distincção, gloria e louros. Em toda a minha vida não encontrei homem tão geralmente estimado e venerado, a quem tanto poupasse a inveja, o espirito de censura. A província de Montevideo, por elle antes conquistada, o honrava como um pai venerando; a província do Rio Grande tinha n'elle uma confiança illimitada; desde muito o esperava como um redemptor; os homens ricos lhe entregavam seus cabedaes e todos os dias lhe diziam que d'elles dispozesse como quizesse. Em poucos dias estavam centenas de carretas à sua disposição, e as tropas esfaimadas receberam d'elle em Sant'Anna as primeiras provisões, O exercito o endeosava; elle era o objecto de suas preces, o objecto de seus votos, desejos e esperanças; não e possível pintar fiel e claramente tudo, a não ser que fallemos d'elle como de um Deus. Abalava-me a presença d'aquelle typo, tão raro e cheio de commoção: recordo-me d'aquelle tempo em que vi os habitantes da provincia de S. Pedro se afadigarem por demonstrar seu amor illimitado para com o mais digno guerreiro do Brasil Já era um velho de 60 annos; tinha a nobre figura de um heróe; em torno de sua bella cabeça, o ceo collocara uma coroa de prata, como tão raras vezes é dada aos mortaes; mas tambem não lhe faltava a energia nem a força : era um homem robusto, com a experiencia e sabedoria de um ancião, o que é muito raro no // Brasil, onde se vê muitos velhos de vigor juvenil e sem prudência alguma.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tal era o homem de quem o marquez de Barbacena tirou o commando. A este ultimo general precederam boatos muito desfavoráveis, unanimes e do lodos os lados repetidos, sendo necessária toda a prudência do visconde da Laguna, que recusou inclinar-se para qualquer dos muitos </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">partidos dispostos a defendel-o e talvez muito perigosos; mas o digno general, servindo lealmente a um governo que tanto o maltratou, e por duas vezes o humilhou aos olhos de todos, não quiz resistir; preferiu empregar a persuasão, a bondade, a amizade, o rigor, para debellar tudo quanto </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">podesse ser nocivo aos interesses de seu Imperador. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Confesso que estando prevenido contra o marquez, Ioga manifestei minhas disposições no primeiro dia, durante a inspecção de uma fortificação sobre o Rio Grande, porque sou incapaz de dissimulação, Póde ser que o marquez não possuísse as theorias e a experiência exigidas para o lugar de commandante em chefe, se comtudo a natureza uma vez concedeu a algum mortal todas as qualidades que habilitam para os altos cargos, o marquez de Barbacena estava sem duvida n'essas condições. Brasileiro de ardente patriotismo, tinha o caracter inglez, por assim dizer, predominante nas veias, amava a justiça, estava possuido das melhores intenções, tinha o maior desejo de tornar feliz sua pobre pátria; nobres sentimentos achavam-se como que occultos sob um exterior frio o comedido, ou disfarçados pela facilidade franceza commum na etiqueta dos paços; tinha uma vontade forte, um caracter resoluto e a escola poderia ter n'elle desenvolvido um grande general. EUe entrelinha as melhores idéas a respeito da administração e disciplina ; era dotado de um espirito penetrante, de uma eloquência arrebatadora, de um exterior vantajoso, de um // caracter nobre, ajudado pela bondade do coração. Percorreu o mundo; esteve repelidas vezes em Portugal, França Inglaterra; como representante do Brasil na Inglaterra, no decurso da revolução, conseguiu pôr-se em contacto com os maiores vultos d'aquelle paiz: era admirador e amigo de Sir George Canning. Foi antes da revolução um dos homens mais ricos do Brasil; entretinha relações com as melhores casas da Europa, e ainda agora seu espirito emprehendedor se achava de posse de uma extraordinária penetração e viveza para todos os negocios. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É singular que a despeito de tão grandes e extraordinários dotes, nâo se possa imaginar um homem em luta com maior numero de inimigos pessoaes do que os tinha o marquez de Barbacena em todos os pontos do Império. Excitado pelos clamores que o assaltavam, resolvi-me a observal-o attentamente, e reconhecendo seu grande merecimento fiquei assombrado da maldade, que tão engenhosa se mostrava para aviltar por mil calumnia a um homem, a quem a nação devia venerar por amor dos sacrifícios que fazia para servil-a, alcançando que a primeira nação do mundo se antecipasse a reconhecer sua independência politica; a um homem, a quem a nação devia erigir columnas de honra em vez de conculcar seu nome por todos os modos e em todos os lugares; a um homem, que, verdadeiramente zeloso da felicidade de sua pátria, soube grangear para ella grande estima nos paizes estrangeiros, onde tomou conhecimento das sciencias sociaes e admínistrativas, observou as instituições politicas cora grande attenção, reconheceu as chagas profundas de seu paiz, e mostrou ser o homem de prudência e energia necessárias para empregar os meios conducentes aos bons fins. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Depois d'esta digressão, em que procurei esboçar os caracteres de dois homens importantissimos, voltemos ao assumpto principal. //</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Retirára-se o visconde da Laguna do commando no principio de 1826, mas em meiados do mesmo anno reassumia a direcção do exercito, e dirigiu-se para fins politico-militares de Montevideo para o Rio Grande; antes de terminar foi outra vez desapossado do commando. Antes de realizar-se esta distituição já o boato precursor tinha paralysado a coragem e vigor do pobre visconde, que para mais nada teve animo. As provincias de Montevidéo e do Rio Grande assistiam convulsas e tristes a essas fataes intrigas, quando o marquez de Barbacena em meiados de Novembro de 1826 assumiu de facto na povoação do Norte o commando, e reuniu-se no dia 1 de Janeiro de 1827 ao exercito em Santa Anna. Nem no exercito, nem nas provincias que se achavam envolvidas na guerra, encontrara o marquez de Barbacena um homem que lhe fosse affeiçoado, nem um amigo útil por sua intelligencia, de reputação já formada, indispensável por conhecimentos militares, estratégicos e tácticos, pelo vigor de espirito e de resistência, qual podesse auxiliar em algum feito verdadeiramente grande; o marquez tinha um desaffecto em cada soldado, em cada official, em cada habitante da província, porquanto sua regra imprescindivel de não aceitar de qualquer habitante nem uma colher de farinha, nem um ovo, nem uma gallinha, nem o mais frugal manjar, nem um convite, sem previamente informar-se do preço e pagar adiantado, lhe tinha alheado as sympathias dos hospitaleiros rio-grandenses, e tinha alargado o espaço que nunca devia têl-os separado. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Elle repudia nossos pequenos donativos, nossa amizade hospitaleira; — é mais orgulhoso do que o próprio Imperador, que nunca assim procedeu: taes eram as palavras que a respeito d'elle se ouvia. É sabido que o marquez tinha poderosos motivos para assim praticar: na Europa seu procedimento teria sido devidamente reconhecido, mas // n'este paiz ínculto, em que é de absoluta necessidade pedir aos habitantes as cousas indispensáveis para a vida, encontram-se no interior das províncias, frequentemente homens abastados, que à mais cordial hospitalidade reúnem uma delicadeza por assim dizer innata, e consideram como um insulto a menor apparencia de classifical-os na categoria de donos de tabernas. O saliente exemplo do general era chefe não encontrou imitação nem approvação, pelo contrario a mais aspera censura de todos os lados. A gente fugia, quando elle apparecia. Com tal reputação, com tantas antipathias chegou elle ao exercito reduzido a um lastimável estado pela fome, pela falta de dinheiro e outras causas, que por honra do Brasil quero passar em silencio. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Magoava, dilacerava o coração vêr na maior miséria os defensores da pátria, aquelles que com seus peitos, suas vidas formavam o baluarte; era indigno que conservasse sua vida com uma pequena porção de carne podre de côr preta azulada, até mesmo expostos a morrer de fome, sem que aos doentes se podesse offerecer algum lenitivo para seus soffrimentos. Além d'isso achou-se o espirito de delapidação por tal fórma arraigado, que o marquez com a sua chegada não podia offerecer uma refeição aos soldados, e se resolveu a fazer sensiveis reformas nas mais elevadas repartições, emquanto que o inimigo, por assim dizer, às portas declarava em alta voz sua intenção de dar abrigo e tratamento ao pequeno grupo de doentes. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No dia 1 de Janeiro o marquez se reuniu ao exercito, no dia 13 as guardas avançadas foram surprehendidas, e no dia 13 todo o exercito em marchas forçadas só cuidava de sua salvação: no principio d'estas ephemeridas já vimos o que aconteceu n'esta primeira pequena marcha, e assim podemos ter uma idéa exacta da nova força, mobilidade e capacidade para a luta. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">//</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Quarta-feira, 21 de Fevereiro.</span> — Ao romper do dia matamos à espingarda o primeiro alimento depois de 36 horas de grande trahalho, concertamos a artilheria quanto era possível, distribuimos as munições encontradas ou as que alguns soldados tinham de sobresalente, queimamos quinze </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">carretas com armas e roupas, que o inimigo escondera aqui à margem do rio e resolvemos ficar algumas horas atraz d'esta barreira; felizmente não appareceu inimigo algum e continuamos traquillamente nossa marcha para a Boca do Monte (passo de S. Lourenço sobre o Jacuhy) até a estancia de Cezar, A marcha foi lenta e difficil: a natureza fez valer os seus direitos; em todos os rostos se patenteava a dôr geral, a fome e os grandes esforços em pallida mistura. Os 11 canhões era puxados pelos restos do 24.º regimento de cavallaria por meio de laços para ajudar as mulas. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Acampamo-nos em grande extensão para commodidade e descanço das tropas ao longo de um pequeno ribeirão; recebemos a noticia de que o inimigo nos perseguia, e não podíamos dar muita attençao á escolha de uma posição por não termos forças para sustental-a e defendel-a. O animo e </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">vigor das tropas a tal ponto tinham decrescido, que uma resistência mal succedida traria em resultado uma completa desordem e dissolução. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Quinta-feira, 22 de Fevereiro.</span> — Chegaram informações de que o inimigo avançava ; a uma hora principiamos a nossa marcha, que, como a do dia anterior, foi triste e lenta. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">De tarde chegamos à estancia do coronel Manoel Carneiro, chamada do Páo Fincado, e perto d'ella encontramos o corpo de cavallaria de Bento Manoel acampado tranquillamente; o coronel chegou-se a mim com toda a impudência. Triste pela perda de tudo quanto era meu, pobre e solitário, desamparado e abandonado fico muitas vezes atraz entregue às minhas reflexões : minha saúde esta // muita alterada. Soldados de infantaria, ás centenas, pobres, esfomeados, desesperados ficam diariamente atráz; muitos d'elles não podiam ser transportados nem nas carretas nem nas garupas, porque esses insignificantes recursos eram reservados para os feridos. Bento Manoel é mandado para o serviço de retaguarda, com ordem de prestar todo o auxilio aos que ficarem atraz e de cuidar em transportal-os. Communicam-me que o Dr. Hildebrandt está vivo e no gozo de perfeita saúde e que o major Weisse com muita gente tomou o caminho de S. Gabriel. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Sexta-feira, 23 de Fevereiro.</span> — Marchamos às 5 horas da manhã até o rincão do capitão Balthazar, Rodeio Colorado cerca de legoa e meia de distancia do ultimo acampamento. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Sabbado, 24 de Fevereiro.</span> — Ao despontar do dia partimos e paramos ao meio dia perto da estancia de Narciso de Figueiredo durante algumas horas. Ficamos com todo o gado que vimos ou que pudemos alcançar. Chegou o velho coronel Carneiro com a noticia de que o Imperador partira do Rio, e já chegara à Porto Alegre. Com palavras não se póde descrever o jubilo das tropas nem a influencia que sobre nós exerceu tão fausto acontecimento. De tarde partimos em boa e feliz disposição, avançamos até o Boqueirão do campo do Pavão, entregando-nos aos sentimentos de alegria despertada no povo e no exercito pela presença do Imperador, porque haviamos agora de expellir só com arma branca o inimigo do solo da província. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O marquez trabalhou toda a noite para mandar o major Poncadilha cora despachos e comprimentos ao Imperador em Porto Alegre. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Domingo, 25 de Fevereiro.</span> — É enviado ao romper do dia a ter com o Imperador o major Poncadilha, a quem acompanháram as bênçãos de nós todos. Continuamos a // marchar, passamos pela estancia do Rocha, atravessamos o passo do Ponto, que havia muito procuravamos, encontramos em péssimo estado o Vaccacahy e fomos nos acampar à margem ulterior d'este rio. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Segunda-feira, 26 de Fevereiro.</span> — De manhã continuamos a nossa marcha, ao meio dia deixamos à direita a posto de S. João assim como a estancia de S. João Novo ou do Sr, Rodrigo e nos acampamos a um quarto de légua de uma vertente do Vaccacahy. No caminho encontramos o </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">criado do general John, depois lambem Estevão, Militão, Abio Manoel e Banache. Encontramos tambem o venerando coronel Jardim, a quem os covardes índios deixaram só no campo de batalha com alguns carros, e muitos d'aquelles que se denominavam extraviados propriamente desertores, que elle reunira em S. Gabriel. Também achamos Morcey jazendo quasi morto à margem por traz de umas sarças. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Soube tambem que o tenente-coronel Siegener fallecêra tres dias depois dos infelizes acontecimentos e fora sepultado em Caçapava. Foi hoje a primeira vez, que depois da batalha, recebemos alguns refrescos e algum vinho no porto de S. João. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Terça-feira, 27 de Fevereiro.</span> — Marchamos hoje até o S. Sepé que passamos e nos acampamos à margem direita, ficando o ponto de passagem no meio, isto é, as duas divisões ficaram à direita e à esquerda da venda no passo de S. Sepé ou o posto do Juque. Encontramos a venda bem aprovisionada, e o marquez n'ella se alojou com seu estado-maior. Aqui acham-se alguns que escaparam e salvaram algum dinheiro, de modo que obtivemos alguns vinténs para conforto do corpo e da alma; pois o general distribuia à gente cheques sobre a caixa militar em Porto-Alegre. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Quarta-feira, 28 de Fevereiro. </span>— Escrevo a meu querido pai, ao Sr. Scheiner no Rio de Janeiro e ao Sr. Chaves // no Rio-Grande e entrego as cartas ao Sr. Galvão, que parte hoje de tarde para o Rio Grande. O Sr. Kerst, engenheiro do marechal Brown, chegou hoje e eu logo o conduzi à presença do marechal. À tarde o estado-maior com o marquez marchou ao encontro das tropas, que tinham ido adiante, nós as encontramos acampadas perto da fazenda do Brown. Uma forte divisão de cavallaria ficou sob as ordens rio brigadeiro Barreto em S. Sepé. como vanguarda do exercito, o qual, de accordo com o conselho militar hoje celebrado, retirou-se para traz do rio Jacuhy. atravessou este rio no passo de S, Lourenço e ahi permaneceu até que as circumstancias permittissem encetar alguma nova empreza. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Quinta-feira, 1 de Março</span> (*) — Ao amanhecer partimos e encontramos à nossa direita as estancias de Moraes, da viuva Lourenzo e de Masado, e no jardim d'este ultimo saboreamos um excellente almoço. Passamos o arroio de Santa Barbara e estabelecemos nossos acampamentos à margem </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">direita junto ao passo. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Sexta-feira, 2 de Março.</span> — Pozemo-nos em marcha ao raiar do dia, às 3 horas, e só às 7 tocamos ao termo do rio Jacuhy, tão difficil de atravessar, no passo de S. Lourenço. Geralmente só ha uma passagem por meio de canoas, mas o presidente em Porto Alegre mandou preparar uma ponte volante para nossa recepção e facil transito. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Collocamos nossos acampamentos no ponto da passagem à margem esquerda, mandamos vir para o nosso lado tudo quanto foi possível, mas não pudemos terminar e ficaram na outra margem muitas carretas e carros da artilheria com a necessária defesa. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Sabbado, 3 de Março.</span> — Ficamos nos abarracamentos. </span><br />
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">(*) No original está Maio, mas é evidentemente engano. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">// </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">choveu hontem e hoje; esforçamo-nos para transportar para o outro lado os carros e as carretas da artilheria. O marechal Brown partiu apressadamente para o Rio Grande e communicou-me a disposição do commandante era chefe da artilheria para o dia de batalha; era uma peça ridícula, </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">que eu li com sentimentos de compaixão. Chegou-nos farinha de Porto Alegre, assim como provisões para o marquez; eu distribui uma caixa de assucar em nome d'elle. No passo existe uma venda, e só agora se ouviu a primeira musica do acampamento. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="color: #660000;">Domingo, 4 de Março.</span> — O general em chefe mandou-me explorar o rio Jacuhy, actualmente a barreira de nossa posição, nos differentes pontos de passagem, e eu apresentei a seguinte relação das pesquizas que fiz rio abaixo até a villa da Cachoeira: </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">«Atravessei o rio Jacuhy no passo de S. Lourenço e segui às 9 horas e 50 minutos da manhã no rumo de S,E. pela margem direita do mesmo rio. O caminho é uma planicie seguida, como geralmente nas costas dos rios, quando elles não correm entre montanhas. Cheguei às 10º e 37 minutos ao passo da Barra do Yrapuá, que faz a seguinte configuração com o rio Jacuhy.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">PLANTA </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">As medidas são passos de cavallo. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A minha marcha foi na direcção de S L para V C e para isso tive de atravessar os passos ABC e seguir o caminho indicado. As bordas dos rios são altas, escarpadas e difficeis; as margens têm mato muito grosso, e para se chegar do passo A ao passo C gasta-se mais de um quarto de hora quando a viagem é feliz; os passos — uns podem ser vadeados, outros atravessados à nado, devendo-se, po//rém, esperar que em estação mais adiantada as chuvas de poucos dias tudo inundem, até mesmo a maior parte da ilha baixa que se acha entre B e C. Diz-se que este passo da Barra de Yrapuá é o melhor e o mais frequentado do rio Jacuhy, e por esta circumstancia não póde ser inutilisado para não se cortar a retirada dos nossos habitantes fieis, de suas famílias e de seu gado. Devendo-se considerar esta passagem como a principal: a sua observação e defeza exige mais força, para que se imponha respeito ao inimigo e se auxilie e anime aos habitantes que vem em retirada. Uma companhia de caçadores, cem homens collocados por detraz das arvores à margem do rio bem impediriam qualquer tentativa de passagem. Collocando-se uma ou duas peças de artiiheria na bateria D, nos flancos das quaes haveria lugar para duas peças mm metralha, poder-se-hia bater toda a passagem desde o principio até o fim. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No terreno D ficariam algumas arvores, já meio cortadas, para cobrir a bateria, as quaes só seriam removidas quando o inimigo quizesse forçar a passagem; as outras arvores grandes serviriam para elevar os fundamentos da bateria no escabroso declive do terreno, para as plataformas e forros interiores dos parapeitos. Outras reflexões para maior segurança e melhor arranjo darão as circumstancias e o engenheiro que for encarregado da execução dos trabalhos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Às 11 horas e 11 minutos continuei a minha marcha pela margem esquerda do rio no rumo de SE. perto da costa que está coberta de muito mato espesso. Todo o terreno é uma extensa várzea de pouca largura, chamada de Nossa Senhora. Às 11 horas e 33 minutos achamos o caminho cortado por um arroio, secco n'este momento, chamado o passo da Arêa. Às 11 horas e 43 minutos encontramos toda a várzea do rio atravessada // por uma sangra profunda, que só com difficuldade os cavallos soltos poderiam atravessar em alguns lugares. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Às 11 horas e 49 minutos atravessamos a sangra da varzea de Nossa Senhora e uns 100 passos mais adiante uma outra igual, as quaes todas no tempo das chuvas levam para o rio as aguas que escoam das alturas adjacentes à costa. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>GUERRA ENTRE O BRASIL E BUENOS-AYRES </b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Devia-se estabelecer no território cisplatino, depois da guerra, colónias militares, com uma administração, sob todos os pontos de vista, verdadeiramente militar, até nas relações económicas. A mocidade deve ser educada com muito cuidado; a escolha dos professores deve ser feita com as </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">maiores precauções. A religião e a affeição à casa reinante devem formar os principios fundamentaes, porquanto são a base poderosa da ordem publica e do desejo de conservar a </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">constituição hereditária, a qual a natureza liga os primeiros e mais profundos sentimentos de uma fidelidade inabalável. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não deve ser precipitada a escolha das localidades para estas colónias, que, se fôr possível, devem ter uma importância technica ou estratégica, como o Rincão das Gallinhas, no Rio Negro, Urngury, sobre o Santa Maria até Bagé, e a ilha do Martim Garcia, etc., que por todos os modos se devera tornar estabelecimentos militares. Homens que conheçam o solo, o tratamento dos productos, devem ser empregados como instructores, e os trabalhos da lavoura devem ser feitos pelos corpos, inválidos e outros militares beneméritos, incapazes de serviços, devem encontrar a faculdade de </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">adquirir terras, porque empregariam maior cuidado em sua propriedade e seu exemplo seria animador, Devia-se organisar o estabelecimento. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">//</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É preciso lançar um olhar retrospectivo sobre o estado presente e passado. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O combate de Sarandy a 12 de Outubro de 1825, do qual nunca se soube os pormenores e que teve um resultado desfavorável para o Império, pôz em movimento a conhecida actividade do Imperador, que só observada de perto podia ser avaliada com justiça. Passou-se em revista as tropas da capital e o Imperador fez a seguinte proclamação, e em pessoa apressou o embarque das tropas que partiram para o sul, com um tal zelo, que me fez imaginar um perigo de natureza differente d'aquelle que encontrei na época da minha chegada. Seu espirito não descansou emquanto não se acharam todos a bordo. Elle mesmo atravessou o porto n'um vapor para inspeccionar tudo a bordo e deu o signal para a partida; uma porção de gente, que teve licença, ficou em terra. O brigadeiro Rosado, commandante da expedição, demorou-se 57 dias em Santa Catharina. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O visconde da Laguna, talvez o melhor general que o Brasil possue em seus vastos domínios, sahiu no fim de Agosto de Montevideo. Quando chegou ao Rio Grande causava profunda commoção assistir ás provas de affeiçâo com que da parte dos habitantes era acompanhado cada um de seus </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">passos: era revoltante ouvir as reclamações que oralmente e por escripto eram apresentadas de todos os lados contra o general Rosado; mais triste, porém, era que o exercito, que arriscava o que ha de mais caro para o homem na terra — a vida — para proteger o Império, ficara exposto a todas as desgraças, até a morrer de fome, como se prova por milhares de testemunhas. O primeiro acto do visconde foi regularisar logo o transporte dos viveres, Os donos dos carros e bois tinham desmanchado os carros e levado os bois para o mato, para escaparem a sorte do seus antecessores, que tinham visto roubar os carros, maltratar os escra//vos, quando chegaram a Sant'Anna, d'onde nunca mais voltaram, sem jamais ter podido obter um certificado da detenção e confiscação para prover o exercito das cousas mais necessárias. Para esse fim partiu logo o general Lecor para S. Francisco de Paula, que era o arsenal de guerra e residência da gente mais abastada da província. Todos o receberam de braços abertos; com elle todos queriam entrar em ajustes: todos os carros, todos os recursos que a dinheiro e a boa vontade podem fornecer, foram postos à sua disposição. Por toda a província foi elle considerado como um redemptor de longos soffrimentos, e até chegou a ser assim denominado nas portarias do presidente Gordilho: todo o exercito o esperava como um libertador. Os contratos de transporte foram concluidos; de lodos os lados chegaram carretas para salvar o exercito soffredor; não se pôde censurar ao commandante em chefe por ter lucrado com isso o commercio dos habitantes. O beneficio material foi o incentivo do momento, porque o interesse próprio é a machina omnipotente que o sábio põe era movimento para mais facilmente attingir a seus fins ulteriores. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Salvar o exercito, animal-o, tal era o filo principal do commandante em chefe. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O exercito estava cm Sant'Anna, um dos ângulos mais salientes da fronteira entre o Rio Grande e a Cisplatina, sem vantagens estratégicas, militares ou económicas; avançando sem segurança alguma e em completa desordem sob o ponto de vista da castrametação. Eu, sem antes lá ler estado, entrei duas vezes de noite e sem guia no acampamento, pelo lado do principal ingresso, sem encontrar uma única sentinella; já em meio caminho me tinham dito em algumas estancias, que nada era mais fácil do que uma surpresa do acampamento, collocado em tão ruim posição, que nem bandos de indios vagabundos // alli teriam parado. No próprio acampamento nenhuma ordem se notava, não tinha frente, nem lugar de alarma, nem de reunião; não era uma posição militar, nem disso havia a menor probabilidade. As tropas disseminadas faziam frente umas para as outras; parece impossível descrevêl-o com todos os defeitos que na realidade tinha. Infelizmente perdeu-se a planta da batalha. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Quando cheguei ao acampamento já se percebia o benéfico resultado operado pelo visconde na organisação dos transportes, os ânimos desfallecídos se reanimavam para celebrar o autor doesta benção. Já em Setembro soube o nobre heroe do novo insulto, que na corte se lhe preparava; seu zelo mais se arrefeceu pela maneira porque lhe foi communicada esta mudança. Assim foram de uma vez annullados todos os planos, de ha muito concebidos para a campanha, era uma variação da manobras anteriores sem alteração de circumstancias. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Projectava-se concentrar o exercito na importante posição de Bagé, os regimentos 4.º e 5.º, que tinham de recrutar e fazer exercícios, partiram para Porto Alegre e Rio Pardo; os substitutos dos que estavam sujeitos à conscripção, foram alistados no Rio Grande, e pretendia-se organisar o batalhão provisório. Cada navio que chegava trazia nova inquietação, e o visconde por mais de dois mezes prompto para marchar para Porto Alegre ou Sant'Anna, não effectuava seu intento, porque todos os dias se esperava o novo general. Em fins de Outubro appareceram partidas inimigas em Roxa, Santa Theresa, Castillos e Chuy; chegou um transfuga allemão, que espalhou noticias assustadoras. Eu o examinei e mandei vigiar. Os differentes interrogatórios não produziram alteração nas declarações </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">e confirmaram que forças consideráveis cora artilheria adiantavam-se contra o Rio Grande. O visconde mandou fortificar // o Rio Grande com barricadas e ordenou ao 5.º regimento que voltasse em marchas forçadas para S. Francisco de Paula. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O marquez de Barbacena chegou no dia 1.º de Janeiro de 1827 a Sant'Anna; no dia 5 os postos avançados foram quasi surprehendidos, e no dia 13 marchou o exercito com 18 cavallos capazes para o serviço. As carretas das munições ficáram ainda a um dia de distancia de Sant'Anna, porque os bois succumbiam. Por falta de meios de transporte ficaram em Sant'Anna toda a bagagem do exercito, dez peças de 6, o hospital e o batalhão provisório. A 19 de Janeiro entrou o inimigo em Bagé por entre nós e a divisão do marechal Brown, a 80 léguas de nós, occupando uma posição do 1.º corpo e tornando-se d'este modo senhor dê todas as direcções para o coração da província do Rio Grande. O exercito estava cheio de fome e fadiga, deviam-lhe o soldo de 6 à 9 mezes, só alguns officiaes tinham sido pagos até aquelle dia por amizade e favor. Milhares de tropeços tinham de ser removidos; para prova basta ler o relatório do quartel-mestre-general, tenente-coronel Elisiario, ao general Rozado. Desde muito tinham desapparecido a religião e a justiça e com ellas sumiram-se a disciplina e a ordem. Nenhum auditor havia no exercito. O único auditor geral do exercito, pouco antes nomeado, chegara nas vesperas da batalha e desapparecêra no meio do tumulto; seis semanas antes da batalha o commandante em chefe pediu a um padre que viesse para o exercito e cuidasse do altar, que se desmanchava. O padre do 3.º regimento de cavallaria de S. Paulo era o único que existia no exercito, mas a falta de altar, de missal e vasos lhe tornava impossivel o desempenho de suas funcções. Conservára-se fiel ao seu regimento durante a batalha e perdera tudo quanto tinha. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O hospital da Sant'Anna era um quadro hediondo de miséria // e desgraças. Doentes de todas as classes, sem separação, sem remédios, sem tratamento morreram indiscriminadamente sem receber um único testemunho de solicitude durante a vida, sem encontrar o menor desvelo na hora derradeira. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O acampamento predilecto das tropas n'esta campanha era um rincão, como d'elles muitos se encontram nos ribeirões, especialmente onde dois se reunem; os soldados sem direcção alguma da parte do chefe ou dos officiaes, todos confundidos levantam seus ranchos onde melhor lhes convém, servindo-se para isso dos ponches. As tropas da província tinham immensos bandos de indias, que nos melhores cavallos passavam em torno do exercito e as vezes so pela força podiam ser separadas ou apeadas, nunca porem podiam ser completamente afastadas. Os acampamentos não tinham outra segurança senão vedetas muito avançadas (a uma legua de distancia nas principaes avenidas e pontos visíveis ao longe). Taes acampamentos se acham sempre n'uma espécie de bacia ou caldeirão e se reconhecem ao longe pelos rebanhos que pastam nas montanhas circumdantes. No caso de mudar-se diariamente o acampamento e de estar longe o acampamento, são sufficientes estas precauções, mas como regra geral é obvio que são defeituosas e precárias. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O systema predominante de fazer marchar a cavallaria em cavallos que são successivamente substituidos, está em contradicçãõ com a natureza doesta arma, que exige conhecimento do animal e do ensino que o animal recebeu; é um systema destruidor, que ha de reduzir em pouco tempo os cavallos da provincia, e é incomprehensivel como em guerras tão frequentes, tão longas, quasi sem interrupção, ainda nem um general se lembrasse de pôr um paradeiro a um tão grave detrimento. Se desde a principio tivessem manobrado exércitos tão grandes como os d'esta campanha, jà os // cavallos teriam desapparecido; só a guerra feita por bandos pequenos e o grande numero de cavallos explicam a não extinção deste animal indispensável. Para o futuro o governo deve dirigir sua attenção para este assumpto. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A visinhança dos Estados republicanos é hostil em seu principio fundamental, e só uma preponderância sempre prompta pode infundir sério respeito. O Rio Grande e a Cisplatina, regiões idóneas para a criação do gado cavallar, devem-se tornar a escola da cavallaria que devemos organisar. Cumprem-nos desenvolver a criação de cavallos, fundar colónias militares, induzir o governa, e favorecer com premios a cultura dos cereaes, construir armazéns para guardar de um anno para outro, uma determinada porção de provisões para em caso de guerra, sustentar as cavalhadas com unia alimentação que as habilite a aturar as fadigas da campanha. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Passo em silencio as vantagens que offerece um cavallo bom, ensinado, destinado a um só homem, que só d'elle trata, só n'elle monta; estas vantagens são inherenles à idéa que se tem de uma bôa cavallaria. Admitto bravos, ágeis, adestrados cavalleiros, mas ninguém chamara boa aquella cavallaria que monta em animaes chucros. Creio que na campanha de 1827, tendo nós pouco mais ou menos 4,000 homens de cavallaria, cortaram a orelha direita a mais de 30,000 cavallos, sem que por isso tivéssemos bons animaes de montaria, nem mesmo por oito dias possuisse-mos uma cavalgadura supportavel. Os cavallos são conduzidos em pequenos bandos na frente e ao lado do exercito; na retaguarda em maior quantidade. Os infelizes animaes impellidos pelo medo constante do azorrague dos conductores, não têm descanso nem espaço, onde encontrem alimentarão suffciente, porque a gramma só não ministra forças, e só em grande porção enche o estômago; nem um cavallo // é regularmente tratado, nem isso é possível por causa do numero. Quando o exercito se põe em marcha, o soldado monta sem interesse, sem amôr, sem affeição pelo cavallo, e quando este fica cansado, apanha à laço qualquer outro da tropa. Em poucos dias de marcha ficam extenuados centenares de cavallos, que apenas percorreram algumas leguas; e este mal progride de um modo assustador.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os cavallos acostumados só à gramma emmagressem tão sensivelmente, que não se póde reconhecêl-os quando se altera a quantidade d'agua, o descanço e a qualidade do alimento. Passam-se dias sem que recebam agua, e quando a encontram, só bebem sendo impellidos para perto pela violência das bordoadas. A guarda dos cavallos exige um numeroso pessoal, que estranho ao serviço e disciplina militar não participe dos combates, pelo contrario tem de ser reforçado, porque o inimigo aggride logo as cavalhadas por causa da sua importância. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Bento Manoel, encarregado de observar e inquietar os flancos do inimigo, devia assumir gloriosamente o papel de uma reserva activa, se nós chegássemos a alcançar o inimigo e o fizessemos parar. Que occasiao esplendida para conquistar uma reputação immorredoura, para colher louros eternos, para tirar uma desforra da ignominia de Sarandy, para gravar o nome de heróe nos fastos da gloria brasileira, Com mais facilidade se coroa aqui a fronte do vencedor do que nos campos de batalha da Europa; aqui se exalta até ao céo, aquillo que na Europa se chama friamente dever. Quem observa, approxima se do objecto da observação; isto é intuitivo até para o infimo soldado: o general em chefe linha certamente o direito de suppôr o conhecimento d'esta máxima, pouco superior ao instincto animal, em um commandante de brigada, que se tinha cercado de uma certa pompa de nome brilhante, de valentia, ta//lento, coragem; que fallava com muita philaucia; que prodigalisaya grandes promessas. Bento Manoel tem de dar estricta conta de seu inexplicável comportamento. O inimigo, com pleno conhecimento da expedição e do indubitável fim do corpo de Bento Manoel, dirigiu contra elle varias operações, e nos boletins de Alvear apparece um terrível desmentido à coragem tão preconisada do nosso heróe. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Parece que Alvear, cansado das constantes retiradas de Bento Manoel, desistiu de observal-o, e ficou incerto a respeito da posição d'elle no dia da batalha por causa da forte guarnição do passo do Rosário, e por ter despachado logo depois da batalha um considerável corpo de tropas com artilheria, etc. Que estrella de felicidade, tão rara para os mortaes, não quiz seduzira Bento Manoel. Ainda me recordo da impaciência com que desejava vêr Abreu, Bento Gonçalves e Bento Manoel, de quem tanto me tinham fallado. Diziam que Bento Manoel depois do desastre de Sarandy jurara não cortar a barba emquanto não ganhasse uma brilhante victoria. Pedi ao general em chefe um só dia de licença para contemplar as feições dos tres, e tendo satisfeito minha curiosidade, não pude desvanecer a idéa que a natureza não deixava lêr os feitos a mim narrados na estatura, porte, rosto e maneira de faltar dos tres; o tempo ao depois me confirmou que elles só fizeram aquillo que sua physionomia revelava, aquillo que o attento observador podia perceber. Bento Gonçalves gritou sempre horrivelmente, gabou-se de grandes façanhas, foi sempre o objectivo de seus próprios louvores; isto logo me desagradou, logo surgiram minhas desconfianças. Elle só queria medir-se com Lavalleja, traspassal-o no meio de seu acampamento; não cumpriu sua palavra, nem mais se lembrou d'esta façanha quando chegamos ao campo de batalha. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Bento Manoel era gordo de mais,muito bem nutrido, amigo // dos commados, muito inclinado ao dolce far niente, querendo todos os deleites em torno de si e no acampamento ; nenhum cavado podia supportar tão pesada massa: uma grande alma não podia habitar em um tamanho corpo. Já não encontrei a barba, que, segundo diziam, deixara crescer desde a derrotado Sarandy, e comprehendi então de quantas anedoctas esses heróes se tinham cercado e mandavam espalhar pelos seus lanceiros; involuntariamente me recordei dos covardes de Bomston. As minhas observações sobre o modo porque o encontrei acampado me levaram a muitas conclusões. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Abreu era uma creatura boa, amavel, inculla, despida de quaesquer conhecimeulos militares: de soldado dos chimangos (alcunha das tropas muito ruins e preguiçosas) tinha subido a marechal de campo e barão do Império. Devo também notar que Bento Gonçalves e Bento Manoel eram homens bondosos e respeitáveis, como indivíduos, mas desprovidos de conhecimentos, sem cultura; tinham ganho nome nas guerras de partidas, à frente de pequenos bandos, que mais estimam aquelle que maior desordem e irregularidade permitte. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>PLANO DE OPERAÇÕES </b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O governo tinha comettido o grave erro de concentrar consideráveis corpos de tropas na fronteira do Rio Grande, emquanto que, tomando por base o Uruguay, Montevideo, a Colónia do Sacramento, o Rincão das Gallinhas e a ilha de Martim Garcia, poria as operações de terra em harmonia com a esquadra, teria Buenos-Ayres em constante inquietação, de tal modo que nem um rato sahiria da cidade, sempre exposta â dupla acção das tropas terrestres e navaes. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">//</span><br />
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A coxilha geral ou real estende-se do passo de Japejú até Itaquatiá [que significa pedra com inscripção), passando pelo forte de Santa Tecla, Junto à chácara do Fontes (vide nosso acampamento de 19 de Janeiro de 1827) nascem do lado da coxilha de Sant'Anna as Pontas do Ibicuy, e do outro lado, perto de Batoví Chico, nascem os Galhos do Cunhaperú.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>MEDIÇÕES NO RIO GRANDE</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">As diversas estancias estão em geral muito vantajosamente situadas para serem determinadas astronomícamente, e consideradas como pontos principaes para uma medição.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os proprietários deveriam ser obrigados a dar-lhes uma denominação permanente, visto que actualmente cada uma tem três e quatro nomes. Os pontos determinados deveriam ser assignalados de um modo duradouro por meio de estacas ou pedras marcadas.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><i>Fonte</i></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">SEWELOH, A. A. F., “Reminiscências da Campanha de 1827 contra Buenos-Ayres”, Revista Trimestral do Instituto Historico, Geographico e Ethnographico do Brasil. Tomo XXXVII, Parte Primeira, Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1874. pp.399-462</span></div>
Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-38515433160143273572017-07-04T07:13:00.002-07:002019-05-05T12:34:57.607-07:00Diário Militar de Bento Correia de Câmara (Junho e Julho de 1819)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5ulaw3cN1-W4fbzTEUnjYS08htsO3mi-cTd427yqxPB9MopdEmMtPqnpCv3V2lsK3fPxpfJ7KrrstiHc_DMV3OqlBnWKE0DwXpXDEnH2E2AFkNFWQVVWLEI4J1gv_8OLFGhAxTnbrGhs3/s1600/Cerro_Palomas_perto_de_Santana_do_Livramento_na_BR158.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="828" data-original-width="1104" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5ulaw3cN1-W4fbzTEUnjYS08htsO3mi-cTd427yqxPB9MopdEmMtPqnpCv3V2lsK3fPxpfJ7KrrstiHc_DMV3OqlBnWKE0DwXpXDEnH2E2AFkNFWQVVWLEI4J1gv_8OLFGhAxTnbrGhs3/s640/Cerro_Palomas_perto_de_Santana_do_Livramento_na_BR158.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Autor: Brigadeiro Bento Correia de Câmara</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Unidade: Regimento de Dragões do Rio Grande /Comandante da Fronteira de Bagé</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Área: Fronteira Brasil/Banda Oriental</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Datas Extremas: 14.6.1819 - 25.7.1819</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Arquivo Histórico de Itamaraty, </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">AHI-REE-</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">00918, </span></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">"Documentos de militares contra Artigas" - </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Manuscrito, 14 f</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">olhas</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">* * *</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Diario Militar do B. Camara</b></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 14 de Junho de 1819, Recebi p.te do Alf.es com.te da Guarda de Guabijú, de terse reculhido os Bombeiros, e participarem que na serra de Lunaresco divizarão huma grosssa coluna inimiga que se encaminhava para S.ta Anna [Santana do Livramento] para a nossa Fronteira com abreviadas marchas.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Neste m.mo dia comvidei ao Brigad.o Felis [Félix José de Matos Pereira de Castro (1772-1823] p.a com a sua Devizão operarmos contra esta força a sentindo a reforçar a tropa do meu mando com 70 homens de seu cumando.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dereji p.te p.a proprio a Capela d'Alegrete, partecipando ao S. M.r [Sargento Mor] João António [possivelmente o sargento mor reformado João António da Silveira, do Regimento de Dragões] desta força q se emcaminhava para os limites daquella repartição.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pus me em marcha com as forças do meu Cumando p.a o ponto proprio da fronteira amiassada fazendo pouzo no Fazendeiro França.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 15</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Me acampei nas vertentes do Aroio Ponxe verde.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi Officio do Brigad.ro Felis comunicandome de não puder mandar o reforço q tinha tratado pello motivo de lhe parteciparem os seus Bombeiros vindos do rincão das avarias terem ali devizado huma força Inimiga.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Fis reunir a guarnição da Guarda de Guabijú, e por comsulta fis marxar no m.mo dia a metade das forças do meu Cumando em N.º de [espaço em branco] com direção a Itaquatihá [arroio Itaquatiá, entre o rio Upamaroti e o arroio Ibicuí da Faxina], com destino de atacar alguas escoltas da força Inimiga, que se devidirão em (?) groças partidas, a saquiar, e queimar as abitaçoens dos moradores situados no rincão de Bicuhi [Ibicuí], repartição do Corunel Abreu [José de Abreu (1770-1827)], dobrando // os Bombeiros p.a Sta. Anna a fim de descubrir a pozição e direção do Inimigo.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 16</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não houve novid.de</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 17</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Apresentouse o Ten.te Anaqueleto Jacinto e o Alf.es Fran.co Joze Farinha (?) com 23 praças do seu destrito.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 18</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Emvihei noticias a Bajé ao Cap.m Pedro Fagundes, indo pello (…) do Cabo de Esquadra de Dragoens Candido de Abreu (??) p.r q.m sulicitei a remeça d'armamentos precizos (?)</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi carta do Brigad.ro Felis Joze partecipando me ter tumado a rezolução dunirse (?) a este ponto.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Aprezentouse hum soldado garrilha do Destr.o de S. Sebastiam.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 19</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Aprezentouse hum garrilha da repartição de Guabijú.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Reiuniose o Brigadr.o Feliz, com a Devizão do seu Cumando.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi carta // do S. M.r [Sargento Mor] Antonio Adolpho [António Adolfo Charão, ou Adolph Schramm (1761-1835)] de ter o Inimigo passado a p.te oriental de Santa Maria no Passo do Rozario a supor terião saquiado as bagajes q. p.r aquelas imediaçoens (?) mandou o Exmo. S. Conde [1.º Conde da Figueira, José Maria Rita de Castelo Branco Correia da Cunha Vasconcelos e Sousa (1788-1872), capitão general do Rio Grande].</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A esta m.ma […] juntamos em marxa p.a a direção de Itaquatihá com o destino de procurar (?) o Inimigo onde q. q. apareça.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 20</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pouzo na Fazd.a do Furriel Ign.co Roiz.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 21</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pouzo na Antiga Guarda de Santiago em (?) cuja marxa cançou (?) muita cavalhada de todos os Corpos.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi noticia(s) pello espanhol Ignacio Guterres aprezado (?) pello Inimigo de q.m pode fugar; notifica ter ouvido aos referidos ter Artigas destinado 200 homens p.a saquiarem Bajé p.r cujo motivo fis seguir o Cap.m João dos // Santos Campello um dos homens de cavalaria a ocupar o ponto da Guarda de Guabijú; ponto proprio intereçante p.a ser repelida aquela força na pertendida entrada e retirada daquele destino.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pella consulta feita com o Brigadr.o Felis em a utilid.e do R. S. sentemos em deixar o Parque […] oculto (?) a fim de mais aseleradam.te ocuparmos (?) a importante pozição de S.ta Anna em atenção a falta de transp.tes, e cavalgadura que já experimentamos.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Este Parque p.r milhor acordo (?) foi conduzido p.r o Cap.m Santos, p.a o remeter a Bajé e dali (?) ser concentrado; fizemos pouzo nas vertentes de Paramutin [rio Uparamoti].</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 22</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pouzo em outra vertente de Paramutin, nada ocorreu.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 23</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recolheu se o Bombeiro Jeronimo Roiz e tras a noticia de ter o Furriel Ign.co Roiz descuberto o rasto de 30 a 40 Inimigos terem se entranhado p.a as partes (?) d'Ibicui, ficando de embuscada aos mesmos no citio (?) do Serro das Palomas; e p.r comçulta feita entre mim e o Brigadr.o Feles Vaquianno, e officiaes praticos do terreno, sentemos (?) mandar 50 (?) homens na Partida mandada p.r o Bento Glz </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[capitão Bento Gonçalves da Silva (1788-1847)]</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> de Proteção ao Bombeiro Jeronimo Roiz p.a desplorar afoito (?) onde se axa o Inimigo na direção se supõem ocupão, vertentes de Taquarimbó a S.ta Anna.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mandei hum Soldado garrilha ao passo do Rozario no Aroio de S.ta Maria, a serteficarme das noticias // do saque q tenham feito o Inimigo p.r aquela p.te ficando de voltar ao fim de 5 dias.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 24</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não houve novidade.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 25</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Aprezentarão se os Garrilhas Manoel de Vargas e João Franco, mandados p.r o Alf.es Barboza a dar a noticia de que o Furriel Ign.co Roiz com 19 (?) homens atacarão 60 a 70 Inimigos, matarão 3 e varios baliados, aprizionarão hum com hum braço quebrado de huma bala, retomarão os nossos ao Inimigo 900, a 1000 animais vacuns cavalares, entre estes trezentos e tantos cavalos mansos, asim como tumarão 2 armas, huma lança e huma pistola e que o Inimigo prezioneiro confessava terem 300 homens acampados // dos na Tapera (?) d' Felisberto Gulart nas pontas de Quaraim, assim como o Fertuozo [José Fructuoso Rivera (1784-1854)] se encaminhava (?) com 400 (?) a saquiarem Bajé, p.r cujo motivo reunio (?) digo motivo mandou se reunir a partida p.a atacarem as referidas forças.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Proximo ao Pouzo se aprezentarão 2 Pretos Espanhois, fugidos de seu Snr. Maxuca de quem herão Escravos.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Fizemos pouzo na Fazenda de Joaq.m Pedro (?).</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 26</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebemos avizo do Cap.m Bento Glz de depor o Prezioneiro que Artiga [sic] [José Artigas (1764-1850)] se acha em S.ta Anna com as suas forças proximo a m.ma Partida p.r cuja razão seguimos a reunirmos a m.ma Partida com o designio (?) dos atacar; fizemos pouzo na tapera do Ribeiro; ao anoitecer fourão descubertos p.r os noços Bombeiros sobre a nossa frente 7 a 8 Bombeiros inimigos.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 27</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Não pudendo seguir de dia mandemos Bombeiros a partida do Alf.es Manoel Barboza a saber noticias do Inimigo.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tem canssado the ao perz.te dia 96 cavalos.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ao anoitecer segui com a tropa do meu Cumando a reiunir-me com as partidas do Cap.m Bento Glz. E Alf.es M.l Barboza nas pontas de Bicuhi com o proposito de hir amanhecer atacando o Inimigo, para cujo fim prestou o Brigadr.o Feliz J.e o reforço de 40 Praças, que, emediatam.e as tornou a suplicar, ficasem p.r não poder despençalaz, com tudo vexado pella ordem que tinha do // do Exmo. Snr. Conde, sedeu, e marchei na mesma tarde p.a o Aroio Ibicuy [arroio Ibicuí da Faxina] dando a volta de tres legoas, a fim do Inimigo não reconhecer as forças do meu Comando pellos seus Bombeiros, que se achavão postados nas alturas da Serra de Santa Anna, nessa noute me encorporei às duas Partidas referidas, e ali sube dos ofeciaes Comandantes das mesmas que Era empraticavel a m.a marcha p.r Cauza do grande pezo da Cavalhada magra, e Cançada, que de nececid.e se devia apartar da pouca que havia em milhor Estado dar tempo no dia seg.te a Carniar, e fazer fiambres, e Remeter os prezos a outra Devizão. = //</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 28</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">As doze da minham tive parte pelos meus Bombeiros que da parte dos nossos terrenos se divizava sua coluna de 200 Homens, que mandandoa reconhecer, sube ser o Inisperado Brigadr.o Felis J.e, que conferindo comigo, me fes ver o dezejo que antão teve de me acompanhar, ao qual anui, e marchando naquela tarde fis alto, as doze da noute no pr.o acampam.to que o Inimigo ocupou.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 29 [Ação de Santana]</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ao amanhecer, nada se pode devizar, pella grande Serração que durou the as des horas, tendo com antecipação pedidome o referido Brigadr.o 20 Homens da m.a devizão, e parte dos meus Bombeiros e vaquianos, que montarião a des Homens, e que permitice // deixar passar alem da m.a vanguarda, o Cap.m das suas Guerrilhas Bento Glz. com aquele reforço, e com mais 30 Homens de que se compunha a sua Guerrilha, ao que asenti, desipada a Serração, veio parte dos Bombeiros, de que em distancia de legoa atravesava hua Partida Inimiga de mais de 100 (?) Homens, e p.r o mesmo avizo tinhão feito as Guerrilhas da Vanguarda, emediatam.e fiz avançar os Guerrilhas de m.a Vanguarda ao comando do Intrepido Cap.am Anacleto Fran.co Gularte, e me pus logo em marcha seguindo na m.a Retaguarda o Brigadr.o Felis, das alturas da cochilha de S.ta Anna, avistamos a // a Partida Inimiga, na distancia de mais de legoa e meia ali me pedio o referido Brigadr.o para que marchasemos em Batalha, ao que não anui dizendolhe Era empraticavel, e desneçesario em tão longa distancia, que só servia para opremir a tropa, deminuir a marcha, e que na distancia de 40 tuezas [cerca de 80 metros] do Inimigo se deveria meter em Linha, chigando o 2.º Acampamento do Inimigo tive parte do Cap.am Anacleto, que o Inimigo não mostrava ter mais reforço, que o q. se aprezentava na sua frente, e que sendo tão dezigual em numaro as nossas forças, achava desneçeçario q.e fosemos acabar de cançar a Cavalhada, e que // achava justo fazermos alto naquele ponto, p.a onde mandaria as novid.es decorrentes (?), as 4 da tarde, tive avizo dos meus Bombeiros, que houvião alguns tiros de fuzilaria, pella qual noticia me pus em marcha p.a aquela direção seguindome os passos o d.t Brigadr.o ao longo da extença coxilha, e em grande destancia me uni a m.a Vanguarda, que se retirava do Campo do ataque dandome parte o Cap.am Anacleto, de ter ali emcontrado a Partida do Glz. em total derrota, tendo dado costas ao Inimigo, tendo este boliado alguns cavalos da Partida, morto a sinco e ferido a outros muitos, a tempo que chigando o Cap.am Ana // Anacleto, os atacou com tal denodo, prencipiando a matar nos mesmos, e a fazer Prizioneiros, na distancia de mais de 2 legoas, em que sempre o acompanhou o Cap.am Glz., e dois [...] da Partida do referido, daquela distancia retrosedeu, p.r cauza de se achar com todos os Cavalos cançados, dali fizemos pouzo no acampam.to que tinha sido do Inimigo, tendo sido o rezultado das operaçoens deste dia na perda q.e sofreu o Inimigo de 20 Prezioneiros, mais de 50 mortos, e p.a mais de 150 Cavalos, 20 clavinas, 1 pistola, 3 Espadas, 5 cartuxr.as, 23 cartuxos, 1 Lança, e 1 Prizioneiros restaurado =</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 30</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tendo deposto os Prizioneiros, que a Partida destrucada Era a unica // que se conservava naquela[s] imediaçoens, p.r se ter retirado a mais força do intrior de seu acampam.to; e que Baltas Ogueda com 400 Homens, era mandado atacar Bajé. p.r cujo motivo resolvi retrogadar a m.a marcha, em auxilio aquele Ponto, pronoitei na prencipal vertente de Bicuhy =</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 31</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mandei pello meu Ajudante dizer a Brigadr.o Mattos </span><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[brigadeiro Félix José de Matos Pereira de Castro (1772-1823), também referido no texto como Felis ou Feliz J.e]</span></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">, que me via na perciza obrigação de aselerar as minhas marchas, p.a repelir a pertendida invazão da Frontr.a do meu Comando, p.r cujo motivo marchava naquela manham.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Este Brigadr.o teve a groçaria de responder, q.e sem // sem a sua ordem não marchava = isto pello temor de não atravessar a campanha sem a proteção da m.a Cavalaria ao que tornei que a m.a ordem se regreçase a Frontr.a de seu comando, da melhor forma que pudese, e que não podia deixar de estranhar a groçeria com q.e regia comandancias, apezar da prevenção do Ex.mo Sr. Conde, tendo determinado por Ordem que nos deixou de sermos arimados a secorrer q.al q.r das Frontr.as que necesitem (?), que não ignorava que ali(?) (…/…) ordenava comandasse // a Patente mais moderna de cavalaria, ao mais antigo de Infantaria em Campanha, pello contrario em Praça de Armas, e fortalezas.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Fiz pouzo na Guarda de Itaquatia, comando do Coronel Abreu.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 1.º de Julho</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Na hora de marcha recebi dois couses de hum cavalo. Nesta guarda deixei hua Patrulha de Observação, ao cuidado da mesma 200 Cavalos e hum Vaquiano p.a auxilio da Marcha da Devizão do Brigadr.o Fellis, fis pouzo na margem de pamorotim =</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 2</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi as agradaveis noticias da derrota // do Inimigo em Miçõens e fiz pouzo na sgd.a vertente do mesmo arroio =</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 3</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Prenoitei na margem de ponche verde; em cuja marcha continuou a ficar muita Cavalhada cançada a deixei ficar ao soldado Dragão João Cond.a (?) em Caza do morador Angelo de Vargas, p.r não poder rezestir a jornada, p.r Cauza de sua ferida de bala q.e recebeu em hua Coixa no ataque do dia 29 =</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 4</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Pouzo no arroio Pirahy.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 5</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chigada ao Acampam.to de Bajé em cuja Guar // Guarnição achei pouco mais de 100 Homens, destes a maior parte Invalidos, e dezarmados =</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 6</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Derregi as minhas Partecipaçoens aos Ex.mos Snr.es Conde G.or, Gen.al Marq.es, e Cambra =</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 7</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi parte do falecim.to do sold.o Dragão ferido.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 8</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ordenei a Reunião da partida de observação composta de 80 Homens, que se achava postada em Pirahy Grd.e ao mando do Cap.am Campelo, // tendo mandado prestar a Comp.a de Guerrilhas, composta de 46 praças, na margem do Arroio Hospital.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 9</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ordenei a Remessa p.a a prizão da Capital de varios criminozos, composta de dezertores, Prizioneiros, e Paizanos facinorozos.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 10</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Passou de marcha a devizão do Brigadr.o Mattos com direção p.a aseguai [Açeguá].</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 11</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi ordens Berbais do Ex.mo Snr. Conde pello Cap.am Louzada, e aprezentouçe // seis dezertores do 2.º Regim.to de Melicias dos que destacarão p.a Miçoens, e se acham de volta com o Coronel Abreu no seu acampamento, alegando que a nudez e miseria em q.e se vião os obrigava a cometer esta infamia.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 12</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi ordem do Ex.mo Snr. Conde G.or p.a remeter lhe os Cavalos Cançados q ficarão nestas imediaçoens.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 13</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Foi reforçado o Destacam.to dos Hospitaes com 116=praças, e mandei continuar a Reunião dos Homens pellos Destr.tos desta // repartição.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 14</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recolheuse a partida do Alf.es Silva q.e perseguia os dezertores pellos destritos.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 15</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Aprezentarão.se 5 dezertores dos q.e destacarão p.a Miçoens.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 16</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Vierão reconduzidos a Prizão deste Campo 2 Sold.os dezertores dos q.e destacarão p.a Miçoens, aprezados pella Partida do Cabo J.e Boeno.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 17</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Mandei reconduzir pello Alf.es Ribr.o ao Furriel J.e Ignacio p.r ter dado coito em sua Caza ao Cabo dezertor, Constantino de Oliv.a. (?)</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 18</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Remessa de Couros p.a Rio Grande q.e devem servir de // de […] p.a farinha de monicio desta guarnição.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 19</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi noticias dadas p.r hum Dezertor da coluna do Gen.al Corado, de ter esta ficado 18 legoas aq.m da Purificação, e noticias, ter furtuozo conquistado com Guerrilhas a recta Guarda daquela coluna, e que retirandose hua tarde avizarão os nossos Bombeiros ao Gen.al Corado q.e Furtuozo se tinha acampado em hua [...] proximo a mesma Coluna, q.e mandando áquele Gen.al ao Manjor Bento Manoel, com 500 Homens atacalo, este o destruçara, retirandose Furtuozo com mais de 100 (?) Homens, e a maior parte da sua Cav.a //</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 20</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi noticiais de Miçoens dadas pello Marchal Mena de ter o Inimigo q.e repassou Oruguai atacado-se de parte a parte p.r Cauza de perferencia do saque q.e merecerão excapar, e do Comd.e; visto ter sido Prizioneiro Andre Artigas, nesta peleija morrerão mais de 100 Insurgentes, perdendo a vida hum dos pertendidos Comd.es.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 21</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Negandose p.r 2.ª ves o Manjor Graduado de Melicias Ubaldo Pinto com o pretexto de fingida molestia, a fim de não vir tomar o comando do Desta // Destacam.to da Frente, ordeneilhe p.r tanto, que se retirase a sua Caza, o que praticou, visto conhecer que não fazia a menor falta ao Real Serv.o, onde só servia de Intrigar, tratar mal a toda a Guarnição que o dettestava, e aborrecia, tendo motivado varias dezerçoens.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 22</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Apresentarão-se 4 dezertores q.e a mezes tinhão fugado deste campo.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 23</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tendo dezertado hum dos Paizanos deste Destrito se lhe raiunou 10 Bestas manças que pussuia, em observancia // Das ordens.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 24</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ordenouçe a tapaje dos Trapos e Sercas dos Quarteis, destruido pellas Praças do Batalhão q.e ficarão neste Campo, qd.o marchou p.a S.ta Anna esta devizão.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dia 25</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recolherão-se os Bombeiros de Taquarimbo e não dão novid.e.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-26817539348780227762017-06-22T17:07:00.003-07:002020-05-18T20:30:37.104-07:00Relação do que tem acontecido do outro lado do Uruguai dado pelo Tenente Domingos dos Esquadrões de Entre-Rios<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQrgElcQHAwThi69-2w4F2ecoUF1xOudyXuEHqWSvRXczRsmiwqv7qIa8p7TKP3_23RqXKmm7w0xq7Og-hs2rJ4X1AaygwcYGip5mFzaayIbyWHlgLrNiZ-9pI8s0uv8TL_4vI0fq6qhrp/s1600/1200px-Rio_Uruguai.jpg" imageanchor="1"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQrgElcQHAwThi69-2w4F2ecoUF1xOudyXuEHqWSvRXczRsmiwqv7qIa8p7TKP3_23RqXKmm7w0xq7Og-hs2rJ4X1AaygwcYGip5mFzaayIbyWHlgLrNiZ-9pI8s0uv8TL_4vI0fq6qhrp/s640/1200px-Rio_Uruguai.jpg" width="640" /></a></b></span></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Autor: Tenente Domingos José das Neves</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Unidade: Esquadrões de Milícias a Cavalo do Distrito de Entre Rios</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Área: Província de Corrientes (Províncias Unidas do Rio de la Plata)</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Datas Extremas: 19.1.1817 - Março 1817</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">[19.1.1817] Passou-se no passo abaixo da Cruz, primeiramente a partida do tenente Luiz de Carvalho, este foi atacado pelo capitão Vicente [Tiraparé, desertor] com a sua partida, e com pouco fogo fez afastar e pôs o passo franco para a passagem da coluna, a qual passou no mesmo dia, e no seguinte [20.1.1817] avançou ao Povo, estando-se retirando na noite antecedente o Artiguinhas [Andrés Guaçurarý y Artigas, comandante das Missões Ocidentais] com 300 homens achou-se tão somente no Povo dois padres velhos e 3 ou 4 famílias brancas; no outro dia [21.1.1817] fez marchar 300 e tantos homens comandados pelo Capitão [José Maria da] Gama [Lobo] de Granadeiros do Regimento [de Infantaria] da Ilha de Santa Catarina em seguimento do dito Artiguinhas, o qual já não encontrou 6 léguas abaixo de Yapeyú [Japeju, no original], e não encontrando voltaram ao Povo de Yapeyú e depois de o saquearem o arrasaram [a]tacando fogo em tudo o que era coisa em circunferência do mesmo Povo, e retirando[-se] a reunir-se à coluna foram queimados e destruídos todos os arranchamentos que encontraram até onde alcançavam as partidas que exploravam o Campo, matando alguns garruchos que encontravam dispersos pelo Campo; [26.1.1817] depois de incorporadas com a coluna mandou o Brigadeiro [Francisco Chagas dos Santos] arrasar o Povo da Cruz com fogo tendo feito seguir o saque dos ditos dois povos, parte pelo rio, e parte pelas carretas que tinham levado, para o povo de S. Borja, e ele Brigadeiro marchou com a sua coluna pela costa do Uruguai em direitura ao Povo de S. Tomé botando de si partidas bastantemente longe para destruírem todo o edifício que encontrassem o que assim fizeram matando também algum garrucho que disperso topavam. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">No dia [31.1.1817] que chegou a S. Tomé se lhe apresentou o capitão comandante do povo D. Julião de tal com meia dúzia de moradores, e este capitão lhe entregou [as] chaves da igreja, e lhe deu notícia de dois caixões de prata que Artiguinhas tinha por ele Julião mandado depositar longe em uma capela [capilha, no original] que havia, e este sendo desde o princípio desta revolução apaixonado pelos portugueses meteu os dois caixões que só ele e dois indios sabiam e se foi em um capão de mato buscar e passar para o Povo de S. Borja aonde se acha em depósito com o saque que veio dos dois povos que só em prata destes 3 povos se avalia de 50 arrobas para cima, 20 e tantos finos, havendo 5 entre estes como o grande de Porto Al.e [Alegre], e daí seguindo-se para baixo gradualmente até o ponto de Campanas, depois de entrado o Brigadeiro no Povo de S. Tomé acampou a coluna dentro do dito Povo, e daí mandou ao tenente Luís Carvalho com uma partida sobre outra de garruchos que lhe deram parte e iam retirando com carreta e animais vacuums e cavalares, os quais o dito tenente encontrou; e depois de os destroçar escapando tal e qual com vida tomou uma carreta e 400 e tais animais mansos cavalares, e 150 e tantas reses mansas, isto e varas de leite e bois mansos, recolhendo-se com isto ao povo [1.2.1817 ?]: daí a 4 dias tornou a ir o dito Carvalho com 120 praças a bater uma partida que se estava juntando na costa do Paraná logo que seguiu a poucos dias encontrou uma partida de 30 garruchos mais ou menos a qual destroçou escapando desta 3 ou 4 com vida; daí seguiu a tomar uma porção de cavalhada que se achava em um rincão, a qual achou juntamente com 300 ou 400 reses mansas; depois seguiu a procurar a partida dos 300 garruchos a qual veio a encontrar o dito Carvalho; este os bateu que logo imediatamente se puseram em fuga e seguindo parte destes se foram refugiar nas Guardas de Corrientes a quem o dito Carvalho pediu que lhos entregassem, e logo assim o fizeram e daí os mandou passar pelas armas ficando as ditas guardas muito amigas do dito Carvalho.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Juntando-se o saque que andou por 2000 e tantos cavalos mandos e mulas mansas, três carretas, duas carregadas de erva de mate, duzentas e tantas vacas mansas, e 150 bois mansos que tudo conduziu ao quartel de S. Tomé, cujo povo foi saqueado e tudo quanto se podia conduzir até de madeiras, e grande número de milheiros de tela se queimou e arrasou e se veio acampar o Brigadeiro com a coluna sobre a margem ocidental do Uruguai em frente ao passo de S. Borja. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A tantos passou o comandante do Povo de S. Nicolau com 30 ou 40 homens ao lado ocidental do Uruguai e arrasando a guarda que aí se achava, a tomaram matando tão somente ou 2 ou 3 da dita guarda, e os mais se puseram em fuga os quais os nossos não seguiram por terem feito o avanço a pé, e depois que passaram os cavalos e montaram forão avançar ao Povo da Conceição sem acharem resistência alguma. Depois com ordem do Brigadeiro Chagas saquearam o Povo e [o] arrasaram; e os outros três povos: S. Maria, Marta e S. Carlos foram saqueados e arrasados a fogo, e tudo que era em circunferência de 6 léguas mais ou menos todo e qualquer edificio que se encontrava se fazia o mesmo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os paraguaios [paraguays, no original] logo que souberam que estava a campanha livre de inimigos, passaram duas companhias deles que se achavam sobre a margem ocidental do Paraná e se vieram meter dentro do povo de Candelaria, e logo fizeram um ofício ao Brigadeiro Chagas dando-lhe os parabéns pela sua boa felicidade, a qual muito estimavam. Tendo passado o Brigadeiro a este lado oriental do Uruguai ao povo de S. Borja, se demorou aí seis dias, e neste tempo tinha subido Artiguinhas que se achava no Passo do Rosário com 400 homens, e subindo para riba com a notícia do Carvalho que andava pela costa do Paraná e da destruição dos povos, fez suas proclamas [seus proclamas, no original] fazendo ver aos seus que era necessário juntar-se para punir-se e castigar-se os rebeldes portugueses, e seguindo juntamente pela costa da Miriñay [desmboca no Uruguai, com a foz do Quaraí a leste] logo que chegou na primeira guarda pertencente a Corrientes aí fez passar a uns poucos pelas armas, que o mesmo ia fazer a todas as guardas de cima por terem entregado a sua gente ao Luís Carvalho. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Estas logo que souberam da vinda de Artiguinhas expediram um chasque ao Brigadeiro Chagas pedindo-lhe socorro; este consultando com os seus oficiais assentou em lhe mandar pedir 2000 cavalos para os poder ir socorrer por se achar a pé, cuja resolução não sei o seu resumo, por ter sido isto tratado na véspera da minha saída para este lugar; é o que na realidade sei.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">N. B. No encontro da passagem de Luís Carvalho com o Capitão Vicente de Naturais este saiu baleado escapando de morrer por negar fogo a pistola do Tenente Luís Faiada (?) dos nossos Guaranis que este o seguiu pelo meio da rusma (?) dos garruchos a fim só de matar o dito Vicente, porém tendo a infelicidade da pistola lhe negar fogo por causa de um papel que tinha no fogão, dando volta ao seu cavalo meio rodou em um cupí e como estava muito longe da nossa gente e muito no centro da garruchada gritou logo o Vicente que o matassem com as lanças o que puseram em obra, porém o dito Faiada se pôs logo imediatamente a pé com a sua espada na mão e se defendeu das lanças até que chegou socorro da nossa gente, não deixando de ficar ferido de uma lançada na coxa a qual chegou a criar bicho(s) sem este dito tenente Faiada nunca querer dar-se por doente, e foi continuando sempre em todas as diligências que fez o tenente Luís Carvalho; nesta ação tomou-se um morteiro o qual traziam montado em um armão fincado em um cepo, o qual no primeiro tiro que fizeram saltou do dito armão pela boa segurança em que vinha pois era um armão feito por eles.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #660000; font-family: georgia, times new roman, serif; font-size: large;"><i>Fonte</i></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"></span><br />
<span style="font-family: georgia, times new roman, serif; font-size: large;">- ARQUIVO HISTÓRICO DE ITAMARATY, Ministério das Relações Exteriores: AHI-REE-00944: “Rio da Prata: Documentos sem importância – 16 folhas, 1811-1818”.</span></div>
Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-87111677889855411632017-06-21T17:00:00.000-07:002018-11-29T06:29:43.626-08:00Extratos do Diário do Brigadeiro Oliveira (Março de 1817)<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqy9Ge0M2DRh1Mab_8GrWz8OFHmji3lKG_IWi1nutzTsBwaC3IXCuB4vUodmCCV1-7xsyEgiEY3-B3H4UThKUoSptcPo3Fz_GiX_9MKoBwgjUMj0MudRBtRUkh7vycqcmlk0owS9c7H3Im/s1600/JoaquimOliveiraAlvarez.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqy9Ge0M2DRh1Mab_8GrWz8OFHmji3lKG_IWi1nutzTsBwaC3IXCuB4vUodmCCV1-7xsyEgiEY3-B3H4UThKUoSptcPo3Fz_GiX_9MKoBwgjUMj0MudRBtRUkh7vycqcmlk0owS9c7H3Im/s640/JoaquimOliveiraAlvarez.png" width="481" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Autor: Brigadeiro graduado Joaquim de Oliveira Alvares</b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Unidade: Legião de Voluntários Reais de São Paulo</b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Área: Fronteira do Quaraím</b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Datas Extremas: 1.3.1817 - 26.3.1817</b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Fonte: Arquivo Histórico do Itamaraty, AHI-REE-00944: “Rio da Prata: Documentos sem importância – 16 folhas, 1811-1818”</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 1 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Apresentou-se Bento Manuel [Ribeiro], que fora explorar a campanha com 20 homens, e referiu que chegando a Arapeí fizera avançar dois bombeiros, um português, outro espanhol, aprisionado na Batalha de Catalán, que tendo passado Mata Ojo, onde não descobriram vestígios do Inimigo, se adiantaram muito além deste arroio, donde, nada sendo observado, voltaram com o desígnio de reunir-se ao capitão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Acharam-se improvisadamente atacados em Mata Ojo por uma partida, de que se escaparam por estratagema. Mas como se suposeram já livres do perigo, o espanhol ficou um pouco atras a beber água, continuando o português a sua marcha; o qual ouvindo depois 2 ou 3 tiros, persuade-se que o espanhol fora apanhado e morto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Em consequência desta noticia o capitão Bento Manuel apressou-se a chegar ao Exército de medo de ser atacado por forças superiores. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O Brigadeiro, apesar da atenção que lhe tem merecido a bravura deste oficial, não pode deixar de supor com a parte mais sensata do Exército, que Bento Manuel, tendo caído no desacerto de servir-se como Bombeiro de um espanhol insurgente, havia poucos dias prisioneiro (a quem tiveram a indiscrição de soltar com mais de 150 outros) e que tendo este podido escapar-se, o capitão se recolhera com medo de ser descoberto, e atacado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O brigadeiro já concebeu ideias menos favoráveis deste oficial por ocasião da ultima diligência, de que foi encarregado a qual se malogrou no conceito do brigadeiro, por que o capitão Bento Manuel ou se ocupou, ou deixou ao seus ocupar-se, intempestivamente em roubar cavalos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 5 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chegou ao Exercito, remetido por Bento Correia, partidário, empregado sobre as vizinhanças de Bagé, e atualmente ocupado em correr gados nos territórios espanhóis, um correntino o qual depôs que se chamava Manuel Gomes, e é soldado miliciano da Companhia de Quintana, anexa à Partida de [Fernando] Otorgués: que fora aprisionado em um sítio ou fazenda de Batovi Chico, onde tinha ido comer melancias, sem licença: que Otorgués se acha acampado nos fundos do Campo de Margarita Conde; sobre a costa do Rio Negro, com 400 homens, compreendidos Milicianos, vecindários, duas companhias de Dragões e uma de negros (composta de setenta e tantas praças), em geral moradores da Costa do Rio Negro até Cerro Largo, bem armados de espingardas, clavinas e espadas: que Otorgués não tem esperanças de outro reforço, por não haver mais moradores a quem possa convocar: que este chefe não tem armamentos de reserva: que tem uma peça de 4, e que pelo que respeita a munições, tem não só as suficientes distribuídas pelas tropas (32 cartuchos por praça), mas ainda uma carretilha bem provida tanto de munições da peça, como de armas pequenas: que ele supunha que Otorgués não só se não reunia a Frutuoso Rivera, por se haverem desavindo em Santa Luzia Chica, mas mesmo com [José] Artigas, pois que tendo-lhe ordenado que se lhe reunisse com toda a sua gente recusara obedecer-lhe, e lhe mandara unicamente 200 homens de cavalaria bem armados de clavina e espada; e não permitia que família alguma da Costa do Rio Negro se lhe fosse ajuntar: que em consequência os moradores suspeitavam que Otorgués intentava apresentar-se ao Exército Português: que dos correios de Artigas não se coligia a Tropa que atualmente tem; mas que do último de que lhe consta, se sabia que das vizinhanças do Paraná e Santa Fé se lhe tinham agregado perto de 1ooo Guaicurus, que esperava muito mais, que estava reunindo gente, a quem procurava muito disciplinar: que Frutuoso Rivera está em Santa Luzia-Grande com mais de 1000 homens, incluídos 200 que lhe cedera Otorgués, e finalmente, que algumas partidas, deste partidário patrulham sobre Cerro Largo e Olimar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 6 [1817] </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O senhor General em Chefe [Joaquim Xavier] Curado recebeu uma parte do Comandante de Bagé Pedro Fagundes de que se lhe tinham apresentado 2 desertores da partida de Otorgués os quais dizem que sobre o Cerro Largo andava uma partida de 200 homens que mandara este insurgente, e que sobre o Olimar patrulhavam alguns exploradores. Saiu o capitão Bento Manuel (Milícias do Rio Pardo) com 6 homens os quais devem continuar unidos até certa altura, e depois separarem-se. Bento Manuel seguirá com 3 até o Arroio da China, e de lá procurará orientar-se para obter notícias do exército do Senhor [Carlos Frederico] Lecor. Os outros 3 dos quais é guia o soldado miliciano Domingos do Couto seguirá em direitura a Montevidéu. O Brigadeiro não espera grandes resultados desta diligência. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">N. B. Para inteligência de V. S.ª direi que Domingos do Couto, é irmão de Manuel do Couto, que V. S.ª deve conhecer, por ser conhecido da família.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[Oliveira]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 10 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chegaram ao senhor Curado ofícios do comandante de Bagé, Pedro Fagundes. Desejoso de saber notícias do Serro Largo, mandou o castelhano Pedro Pablo Portilho com 2 Portugueses, que não encontraram obstáculo; e voltaram com uma certidão do Cura e jurada sub fide Sacerdotis, pela qual consta não haver insurgentes naquelas vizinhanças. Afirmam que no Cerro Largo só se acham 6 ou 7 famílias além do Rev. Cura, que dizem não é pequena, apesar de ser escolhida. No dia 5 de Março, apresentou-se-lhe, a Pedro Fagundes, um sobrinho e companheiro de Manuel Vieira, que obtiveram licença para correr, e que efetivamente corriam, gados nos Campos do Pereira (situados sobre a margem meridional do Rio Negro, onde desemboca o arroio Chileno) o qual, tendo sido perseguido por uma Partida de 20 insurgentes, pouco mais ou menos, e não podendo fazer resistência, conseguira escapar-se sem poder ter obtido notícias de seu tio e dos outros companheiros. Em consequência, Pedro Fagundes mandou a um Miguel Valente com o sobrinho do Vieira para bombear a partida inimiga: ainda não tinham voltado a 10.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 12 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O tenente coronel António Pinto [de Fontoura] deu notícias na revista do sol posto, que nas vizinhanças de Itaquatía foram aprisionados um F. Bueno e 3 escravos, e mortos alguns, que andavam com ele correndo gados nos territórios espanhóis tendo perdido 150 cavalos, e toda a boiada, que já tinham apanhado. Não deu autor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Comunicaram-me pessoas fidedignas, que nas imediações de Bagé, há perto de 1000 homens empregados nesta ladroeira, e o pior é que se dizem apoiados por pessoas que o não deviam consentir, e em proveito de muitos que, por brio, e em consequência do seu caráter e patente, deviam ter em vista outros interesses nas circunstâncias atuais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 15 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chegaram 5 espanhóis remetidos, e aprisionados pelo Capitão Bento Manuel, que saiu do campo a 6 do corrente na Estância espanhola do Maxuca, situada entre as pontas de Ararunguá e Goiavos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 16 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os prisioneiros foram sucessivamente inquiridos na presença do tenente coronel [Joaquim Mariano] Galvão [de Moura] da Legião de São Paulo, e Policarpo Rolon depôs o que segue:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">É natural de Montevidéu, soldado miliciano da companhia do capitão José Vieira, e pertence à Divisão de Artigas acampada na Purificacion.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Esta Divisão consta presentemente de 350 homens , comandados por La Torre, 700 por Verdun, 360 por Mondragon, 80 por Ayedo; e outros tantos por Gadea; 180 por Justo Meres; 300 Guaicurus, 300 Menuanes, e 180 charruas comandados por Aguiar. Paredes, que comanda os vecindários, de que ignora o número, acampa em Sandú. André Artigas (Andresito) acha-se do outro lado do Uruguai com 500 homens = Arenhúm, Governador de Santa Fé estava em marcha, para se reunir a José Artigas com 400 homens. Para o mesmo fim já estavam em marcha 200 Cordoveses, que recusaram prestar obediência a Buenos Aires, assim como 500 Guaicurus, que concorriam da baixada de Santa Fé.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tinham passado ao outro lado do Uruguai 400 Correntinos, destinados (segundo diziam no Exército) a pacificar uma sublevação em Corrientes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Otorgués tem na costa do Rio Negro 200 a 300 homens. Frutuoso Rivera 900 em Santa Luzia grande; e Miguel Barreiro 1500 em São José. Assim as forças de Artigas reunidas montam a 7000 homens.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">A tropa está bem armada: a cavalaria de clavina, espada e pistola; e a infantaria de espingarda com baioneta; armamento novo, e há bastantes munições.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Artigas fez fortificar a Purificacion com 2 redutos que já concluiu, e outro, que esta a ponto de acabar, [...] e obra de 2 Franceses: estes redutos devem ser guarnecidos por 2 peças de artilharia, que já tem, de 12, 8 e 4, vindas do Arroio da China, e de Santa Fé alem de duas de 24, que espera de Cordoba.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Dizia-se no Exército de Artigas, que ele pretendia fazer-se forte na Purificacion, visto estar próximo o Inverno, e não querer violentar a cavalhada, que pretendia deixar descansar até ao Verão quando intentava novamente atacar os portugueses.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Este caudilho tem para cima de 2000 cavalos de reserva sobre o Uruguai e Daiman, e 1000 sobre o Uruguai e Hapeuy (?): e em cada um destes rincões há uma guarda de 10 homens.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Saiem também diariamente pequenas partidas de observação compostas de um sargento e 4 soldados além de outras de igual força que à noite vão tomar os passos. A maior parte da Cavalhada está gorda.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Artigas tem no porto da Purificacion 5 barcos pequenos, 4 barcas canhoneiras competentemente guarnecidas, 6 botes, e 5 canoas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Frutuoso Rivera está indiferente com [Miguel] Barreiro por que este entregara Montevidéu sem resistência, deixando aos portugueses a artilharia carregada, munições, e para cima de 6000 fardamentos: mas consta que Artigas oficiara a ambos, para se congraçarem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Artigas, depois da ação de Catalán, mandou o capitão Pedro Aquino com 10 homens com ordem de chegar ao lugar onde se deu a ação; e de observar os movimentos do Exercito Português: o qual desempenhou a comissão e recolheu-se dando parte de não ter encontrado o Exército. A esta partida que o Tenente Rubio Marques rendeu com 10 homens escolhidos como vaquianos da Fronteira, com ordem de se conservarem nas vizinhanças de Santa Ana 10 dias, e findos estes sai regularmente outra partida de igual número; e assim se continua. Não tem mandado partidas de maior circunstâncias.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Os outros quatro prisioneiros conformaram-se com o depoimento acima com pouca diferença: porém um deles deixou entrever que os 400 correntinos tinham marchado em socorro de Andreé Artigas, que se retirara depois que Chagas passou o Uruguai.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Apresentou-se Bento Manuel depois do sol posto com um prisioneiro. Não continuou a comissão de que fora encarregado por inconvenientes, que preciso averiguar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 17 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Bento Manuel a quem eu dera cartas de recomendação para meu cunhado, o Major Marques, e para o Tenente Coronel José Maria de Almeida, veio entregar-me as cartas, e disse-me as notícias seguintes:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tendo recebido ordem para seguir até Montevidéu com 8 homens de milícias e um vaquiano os quais deviam separar-se (como fica dito no extrato anterior) obtivera também licença para levar alguns índios a fim de correr gados na volta: que tendo chegado sem novidade às vizinhanças da Estância da Maxuca observara no dia 11 que ali havia inimigos; e em consequência mandara formar a indiada na frente para persuadi-los que eram dos seus. O que conseguiu até uma descida para a estância onde já não puderam deixar de ser conhecidos pelos uniformes, mas como se achavam vizinhos à casa da Estância, e os seus iam bem montados, pode apanhar os 5 que remeteu. Maxuca com os outros quatro puderam escapar-se. Estes 10 homens tinham saido de Purificacion, sem armas e com o destino de conduzir daquela estância para a vila, sebo e coiros em uma carreta que os nossos abandonaram (valha a verdade!). No mesmo dia de tarde observou 3 homens de desconfiança, e mandou despir as fardas de 3 dos seus; fez persegui-los e conseguiu apanhar um deles, que levava uma parada para Artigas. Eu li o ofício do comandante da partida Antonio Sarco, e continha que naquelas vizinhanças andavam muitos portugueses a correr gados, e por isso recorria a S. Senhoria para que lhe mandasse uma partida capaz de os apreender, e de coibir as corridas, e roubos, assim como algum tabaco de que muito precisavam. O prisioneiro declarou a Bento Manuel que os 10 homens andavam bem montados e armados. O capitão obrigou-o a levá-lo ao ponto onde disse que deixara Sarco com os 6 homens com que ficara, mas Bento Manuel já não achou senão vestígios de que ali estiveram.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Este espanhol é muito vivo, talvez enganasse a Bento Manuel sobre a situação da Partida. [...] Recusou declarar coisa alguma sobre a diligência de que fora encarregado. Bento Manuel receando ser descoberto recolheu-se ao acampamento. Disse-me também este capitão que sabia que sobre o Taquarembó patrulhava uma partida de 80 homens comandada por Filipe Gueria.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 18 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O senhor tenente general Curado mandou participar na revista do sol posto que sentia não ajudar aos seus camaradas nos exercícios diários, por moléstias.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 19 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Saíram em diligência Bento Manuel com 6 soldados milicianos, um [oficial] inferior e 8 dragões para fazer conduzir 30 homens que tinham sido avisados pelo Tenente Coronel [Manuel] Carneiro [de Silva Fontoura] para comparecer no Exército e o não fizeram. Dizem que conduzira ao mesmo tempo algumas mil rezes que correra. Semelhantes bombeiros não são proveitozos a um Exercito.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O senhor tenente general Curado teve notícias de terem aparecido espias inimigas sobre os Serros de Santana, e que os nossos tinham visto cavalos suados, abandonados no mato, próximo ao acampamento. Atribui-se esta circunstância não a bombeiros, mas sim a corrida de gados, que constituem, segundo dizem, uma das grandes especulações do exército.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 20 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Persuadi ao senhor Curado que me deixasse nomear o Alferes [Manuel de] Toledo [Pisa] da Cavalaria da Legião, para ir bombear as vizinhanças de Santana, e Serros de Carumbé, com 20 homens do mesmo corpo, e com destino de apreender as pequenas partidas que noticiaram os prisioneiros, o que consegui.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Recebi uma carta de Pedro Fagundes, comandante de Bagé, em data de 17 do corrente, e que remata da maneira seguinte = Os Gaúchos por esta fronteira se tem aproveitado da ambição com que os portugueses se cansam atrás de vacas, e proximamente mataram 7 ou 8 : não há temor, nem palavras, nem respeito, que os contenham de humilhantes tentativas =</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O coronel Bento Correia da Câmara recebeu um oficio de Brito, ajudante de ordens de S. Ex.ª o senhor Marquês General, dirigido a Bagé, onde lhe participa que para ali marcham 40 praças do Regimento de Porto Alegre, e brevemente lhes serão remetidas as que faltam para completar 3 esquadrões. Teve ao mesmo tempo uma carta do capitão Joaquim de Azevedo e Sousa que lhe dá parte de ter chegado a Bagé com os mencionados 40 homens, e que ali esperava as suas ordens. O coronel, que se acha em Quaraí, onde o deixou o senhor Marquês e não tem recebido ordens algumas, que lhe pudesse comunicar, mandou apresentar ao senhor Curado o ofício e a participação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O senhor Curado respondeu-lhe, que o senhor coronel podia seguir para Bagé se quisesse mas que estivesse persuadido que não levava consigo uma só praça das que existem no Exército. Câmara cala-se e oficia pelo mesmo canal – [...] la fin.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O tenente coronel Pinto disse-me que o senhor Curado, expondo-lhe o caso, acrescentara que era verdade, que Bento Manuel o avisara da parte de S. Ex.ª o Senhor Marquês, que o coronel Bento Correia da Câmara ia para Bagé com o Regimento de Porto Alegre, e que o indemnizaria com 1000 os quais mandaria para o Exército dentro de um mês; que isto mesmo não era parte oficial: mas ainda que a fosse a não cumpria porque como S. Ex.ª o senhor Marquês lhe prometia mandar 1000 em reféns de 180 praças do Regimento de Porto Alegre, que destinava para Bagé, ele também se achava autorizado para não cumprir a dita, visto que S. Ex.ª não desempenhava a dita e que nisto imitava ao Senhor Lecor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O ajudante de ordens de S. Ex.ª o senhor Curado, General em chefe, Bulhões, disse-me que Fagundes tinha oficiado dizendo que já ali tinha tropas suficientes, tanto que intentava atacar os insurgentes que acampavam sobre o Rio Negro (suponho que os 80 de Gueria); e que recebera ordens de S. Ex.ª para atacar até ao mesmo Otorgués dando o comando desta expedição ao capitão Cunha.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 21 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Saiu o Alferes Toledo pelas 11 horas da manhã com 20 praças, incluídas 3 [oficiais] Inferiores. Abreu participou ao brigadeiro que tinha recebido notícias de que Chagas se achava do lado Ocidental do Uruguai com 900 homens e mandara passar 2000 cavalos: que os paraguaios se achavam combinados com ele debaixo da condição de que os portugueses não vexem os seus territórios. Esta última notícia especialmente merece quarentena, ao menos que seja oficialmente confirmada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 23 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">O senhor Curado deu-se por pronto. Chegaram os bombeiros do Abreu que tinham saido a 15 do corrente. Lemes [?] com outros dois nada tiveram que notar até a barra do Quaraí no Uruguai. Outros 3 foram até o Potrero sobre o Arapeí não encontraram inimigos: trouxeram algumas armas, 1 lança, 19 cartuxeiras, e 58 bainhas de baionetas em bom estado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ordem do Dia sobre as Guerrilhas – (que vai) – </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Março 25 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ordem para marcha a 27 – ignora-se para onde. Só se sabe que o brigadeiro João de Deus [Mena Barreto] insiste em que se marche para o Belarmino. O meu voto seria, que não retrocedessemos um passo, e que quando nos fosse necessário, ocupássemos outro ponto mais avançado sobre o mesmo Quaraí, visto estar providenciada suficientemente a segurança da fronteira do Rio Grande: porém o senhor Curado não consulta. Algumas vezes tem-se saído muito bem: outras muito mal.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chegou o capitão João Afonso, 81 ½ alqueires de farinha! E vem destinada para os doentes. Recebi carta do meu Major Mota em que me participa estarem a partir 70 praças de Infantaria da Legião das praças que ali se acham; e 60 de milícias de Porto Alegre. Estimarei que chegue este pequeno reforço! Não há ainda notícia de Toledo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tivemos notícias de Fagundes que as dá de terem os insurgentes avançado até o Erval &c. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">N.B. Não se especificaram estas notícias porque o Brigadeiro acha que estará ao nível delas o senhor marechal Porteli.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[Oliveira]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>[Março] 26 [1817]</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Chegou o Toledo, alferes que tinha ido em diligência, sem novidade. Mandou-se suspender a marcha por ora.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[Fim]</span></div>
Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-34739028831874521562017-06-20T17:11:00.000-07:002017-09-18T06:37:45.076-07:00“Diário de um oficial superior de Cavalaria de Setembro de 1815 a Maio de 1816”<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDynVca9hnkz7dPtWui_nRprAsp-xrD1xPM7SRhjEWfTvPDbrbuMkKEi9abpFp0WaChhdm3grNl8-k6w8WJg8-6oVtuWDMijgQJQTh6J4uPi8f8M35xj2r9sVWnJ75krvLYY8FGu5lFF6P/s1600/dvrp2.jpg" imageanchor="1"><img border="0" height="290" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDynVca9hnkz7dPtWui_nRprAsp-xrD1xPM7SRhjEWfTvPDbrbuMkKEi9abpFp0WaChhdm3grNl8-k6w8WJg8-6oVtuWDMijgQJQTh6J4uPi8f8M35xj2r9sVWnJ75krvLYY8FGu5lFF6P/s400/dvrp2.jpg" width="400" /></a></b></span></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Autor: Sargento mor João Nepomuceno de Lima</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Unidade: Cavalaria, Divisão de Voluntários Reais</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Área: Lisboa, Rio de Janeiro, Ilha de Santa Catarina</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Datas Extremas: 2.9.1815 - 31.5.1816</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>Fonte: "9º diário". 68 pp. manuscritas, Arquivo Histórico Militar, AHM 2/1/14/63</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b><br /></b>Nota: Este texto não está completo.<br />
[O diário inicia em setembro de 1815]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;">2.9.1815 (sábado) – Fizeram exercíci</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">o os dois corpos de cavalaria na presença do general da divisão [tenente general Carlos Frederico Lecor];</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">8.9.1815 (6.ª feira) – Da meia noite do dia 7 à uma da manhã de 8, houve um duelo entre o capitão [António José] Gama [Lobo] do 3.º Batalhão, e o alferes João Inácio Xavier do 4.º Batalhão, de que resultou ficar o capitão morto e o alferes ferido;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">10.9.1815 (domingo) – Passou em continência, e fez exercício, o 1.º e 2.º corpos de cavalaria em presença do ministro da guerra e depois a artilharia;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">11.9.1815 (2.ª feira) – Passaram mostra os dois corpos de cavalaria e artilharia – E depois embarcaram na fragata Fénix, e Príncipe D. Pedro, e nos navios Princesa do Brasil e Oceano;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">12.9.1815 (3.ª feira) – Chuviscou;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">13.9.1815 (4.ª feira) – Embarquei com a minha família a bordo do navio Princesa do Brasil (dia enublado), às 3 horas da tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">14.9.1815 (5.ª feira) – Dia enublado. A bordo do navio;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">15.9.1815 (6.ª feira) – A bordo; choveu muito toda a madrugada;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">16.9.1815 (sábado) – A bordo. Mau tempo. Saiu o Oceano que estava para ir connosco, indo comboiado pela fragata Pérola;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">17.9.1815 (domingo) – Excelente dia. Demos à vela às 3 horas e um quarto da tarde, tendo estado fundeados defronte do largo de Belém, com maré de vazante, e vento norte = e juntamente, as fragatas Fénix e Príncipe D. Pedro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[travessia do Atlântico]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">26.9.1815 (3.ª feira) – (vento freco) Levantaram-se os soldados da 5.ª companhia, querendo conspirar-se contra os oficiais, e chegaram a atacar a guarda; porém, acomodou-se com pancadas – podia haver terrível consequência por se irem envolvendo soldados de outras companhias – os capitães [José de Barros e] Abreu e Filipe [Neri de Oliveira], que pressentiram o levantamento, o atalharam com a espada na mão;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[travessia do Atlântico]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">12.10.1815 (domingo) – Avistou-se o Cabo Frio ao romper do dia = e duas sumacas pela manhã com rumo para o Rio. De Cabo Frio à Barra são 18 léguas – A costa é monstruosa e cheia de ilhas pequenas e inabitadas – às 9 da noite falámos a uma escuna, Correio da Bahia, que também andava pairando, a qual trazia 8 dias de viagem;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">13.10.1815 (2.ª feira) – Muita névoa até às 9 da manhã, e depois dia muito claro, falámos a uma sumaca, que vinha do Rio da Prata com 43 dias de viagem – que entrou, e juntamente um bergantim carregado de escravatura da costa de África = Na entrada da barra à direita, fica o Forte de Santa Cruz à esquerda o de [espaço em branco] = Também há alguma ilhas como a das Cobras, que fica um tiro de pedra da cidade de S. Sebastião, uma laje a que chamam a ilha dos Ratos – Há também a ilha das Enchadas, onde está o hospital do ingleses, que serve para o da Divisão. Deu fundo o navio às 15 horas. Ainda não tinham chegado as fragatas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">14.10.1815 (3.ª feira) – Fui à Praia Grande, pela manhã cedo, falar ao coronel João Carlos de Saldanha [de Oliveira e Daun] [...] quartéis, e mais [...] o 2.º corpo, o que efectuei, ficando aquartelado na Armação, onde já se achava a artilharia da divisão, que tinha vindo no Oceano, o que tinha chegado a 10 dias antes. Os soldados ficaram muito bem aquartelados, porém os oficiais ficaram pessimamente em quartéis na Praia Grande;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">15.10.1815 (4.ª feira) – Houve uma revista passada pelo Ajudante General Sebastião Pinto [de Araújo Correia] – chuviscou todo o dia. A revista foi ao 2.º corpo de cavalaria [...];</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">17.10.1815 (6.ª feira) – Chuviscou. Fui à cidade. Estive com o visconde de Barbacena, e [tenente coronel João Vieira] Tovar [e Albuquerque].</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">19.10.1815 (domingo) – Fui à cidade visitar o marechal Beresford, o Sebastião Pinto, e [tenente coronel António Feliciano Teles de Castro] Aparício, e [...] José Egídio;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">23.10.1815 (5.ª feira) – Fomos visitar em corporação Beresford, [António de Azeredo] Araújo e marquês de Aguiar;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">25.10.1815 (sábado) – Revista aos dois corpos de cavalaria, passada pelo coronel Aparício;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">28.10.1815 (3.ª feira) – Revista passada pelo Ajudante General nos quartéis da Armação, em fato de polícia. Trovejou à tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[...]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">4.12.1815 (2.ª feira) – Houve exercício aos dois corpos de cavalaria em fato de polícia, e espada, comandado pelo coronel Aparício = Trabalhou-se mal porque o dito coronel, charlatão de primeira ordem, principiou a partir com os oficiais, sem tom, nem som, a fim de mostrar a alguns espectadores, que nada entendem de manobra, que à excepção dele, ninguém mais sabia coisa alguma = Porém a sua impostura é conhecida – Assistiu ao exercício o Ajudante General Sebastião Pinto. À tarde, veio o marechal Beresford, e foi ver os dois corpos, que o dito coronel tinha mandado ir à tarde, para lhes fazer exercício em fato de polícia, e espada. Não gostou de que os corpos fossem naquele vestuário, e que não trabalhassem a pé, como a infantaria. isto é culpa do dito coronel;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">5.12.1815 (3.ª feira) – Beresford passou revista às 5 da manhã aos dois corpos e fez exercício – À tarde pela 5 também se formaram os dois corpos, e a artilharia, e passaram em continência, o que fizeram bem, e mandou-os embora. – Adoeci com uma inflamação de pele – Foi o marechal para a cidade;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">6.12.1815 (4.ª feira) – Fiquei de cama. Exercícios de manhã e tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">7.12.1815 (5.ª feira) – Fiquei em casa. Exercícios de manhã e tarde. Veio o Príncipe de Santa Cruz para a cidade;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">9.12.1815 (sábado) – Os oficiais superiores foram baijar a mão ao Príncipe. Não fui por estar doente. Exercício à tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">10.12.1815 (domingo) – Foram os oficiais de cavalaria em corporação beijar a mão ao príncipe;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">11.12.1815 (2.ª feira) – Exercício à tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">12.12.1815 (3.ª feira) – Exercício de manhã e tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">13.12.1815 (4.ª feira) – Exercício de manhã e tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">14.12.1815 (5.ª feira) – Exercício de manhã e tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">15.12.1815 (6.ª feira) – Exercício de manhã e tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">16.12.1815 (sábado) – Exercício de manhã e tarde. Fui beijar a mão a Sua Alteza Real;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">17.12.1815 (domingo) – Aniversário da rainha. Fui à cidade com a família. Vim da cidade às 23 horas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">18.12.1815 (2.ª feira) – Exercício de manhã e tarde;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">19.12.1815 (3.ª feira) – Exercício às 4 horas da manhã no Campo de S. Bento, onde se achou Beresford. À tarde, exercício de espada no Campo de D. Helena;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">20.12.1815 (4.ª feira) – às 5 horas da manhã no Campo de S. Bento, onde esperávamos Sua Alteza Real, porém ele foi em direitura aos quartéis da Armação, onde somente achou alguns doentes, e mulheres pertencentes aos corpos. À tarde, Sua Alteza Real passou revista aos corpos de cavalaria e artilharia, e depois de se passar em continência, o 2.º corpo fez o manejo de espada, com o ataque e a defesa – à noite, deu beija mão, em que mostrou a maior satisfação a toda a oficialidade, e aos corpos;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">21.12.1815 (5.ª feira) – Manobra para sua Alteza, às 6 da manhã, no Campo de São Bento, do que ficou muito satisfeito. À tarde, deu o marechal ajudante general um jantar diplomático. À noite, beija mão;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">22.12.1815 (6.ª feira) – Exercício no Campo de S. Bento a um esquadrão de 30 filas do 1.º corpo de cavalaria que montou em cavalos dos milicanos; o 2.º corpo esteve vendo formado em coluna cerrada, depois trabalhou a artilharia em atirar ao alvo, onde fez excelente pontaria [...] granadas de lanternetas (?), tudo isto diante de sua Alteza. à tarde, exercício de espadão o 1.º corpo no Campo de D. Helena. Os corpos passaram primeiro em continência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">23.12.1815 (sábado) – Sua Alteza Real foi ver os quartéis da Armação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">24.12.1815 (domingo) – Foi Sua Alteza para a cidade pela manhã. O marechal general Beresford foi com o ministro da guerra Araújo ver os quartéis dos soldados;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">25.12.1815 (2.ª feira, Natal) – Pedi licença até 31 do corrente = Temporal de vento e chuva das onze horas da noite para diante;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">26.12.1815 (3.ª feira) – O mesmo tempo toda a madrugada. Fez bom dia. Fui ao beija mão à cidade;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">29.12.1815 (6.ª feira) – Fui à cidade;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">30.12.1815 (sábado) – Fui à cidade com a minha família, e lá ficámos;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">31.12.1815 (domingo) – Fui beijar a mão ao Príncipe com minha família;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[1816]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">1.1.1816 (2.ª feira) – Voltei para a Praia Grande pela manhã;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">2.1.1816 (3.ª feira) – Embarcou trem da artilharia da divisão;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">3.1.1816 (4.ª feira) – Continuou a embarcar trem da artilharia. = Fui à cidade;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">4.1.1816 (5.ª feira) – Fui à cidade. Houve uma revista passada pelo coronel Aparício aos soldados em fato de polícia na Armação;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">7.1.1816 (domingo) – Houve uma revista aos soldados em ordem de marcha nos quartéis da Armação passada pelo coronel Aparício;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">8.1.1816 (2.ª feira) – Houve uma revista em fato de polícia, no dito sítio, passada pelo dito coronel. À tarde embarcou a tropa a bordo das fragatas Fénix, Príncipe D. Pedro, brigue Lebre, e fragatinha voador, e dois bergantis da praça Atrevido e Previdente [...];</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">9.1.1816 (3.ª feira) – Embarquei com a minha família a bordo da fragata Príncipe D. Pedro, onde embarcou a artilharia, e a 5.ª companhias do 2.º corpo e parte da 4.ª;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">10.1.1816 (4.ª feira) – Fui à cidade com a minha família, onde jantámos;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">11.1.1816 (5.ª feira) – Fui à cidade;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">12.1.1816 (6.ª feira) – Fui à cidade e levantou a fragata o primeiro ferro;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">13.1.1816 (sábado) – Levantámos os segundo ferro, de madrugada, e fomos dar fundo à Boa Viagem próximo à Torre de Santa Cruz, por falta de vento;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">14.1.1816 (domingo) – Fizemos à vela às 5 da manhã, excelente dia, vento em pompa. Diminuímos pano por causa dos brigues Atrevido e Previdente;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">17.1.1816 (4.ª feira) – Claro, o mesmo vento, bonança. – Avistámos o Morro pela manhã, e pela tarde passámos por entre a ilha do Arvoredo e terra firme. Demos fundo já noite na Enseada dos Ganchos, uma légua distante da ilha do Arvoredo;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">18.1.1816 (5.ª feira) – Excelente dia = Suspendemos ferro e fizemos à vela pelas 7 horas da manhã, e fomos dar fundo entre as fortalezas da Ponta Grossa que está na ilha, e a de Santa Cruz, que está na terra firme a 4 léguas e meio distantes da Vila;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">19.1.1816 (6.ª feira) – Desembarcámos pelas 8 até 9 horas da manhã de bordo da fragata, e desembarquei com a minha família no trapiche em Santa Catarina às uma e meia da tarde. Neste dia, desembarcou a tropa das outras embarcações, tendo principiado a desembarcar na véspera;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">20.1.1816 (sábado) – Desembarcou o resto da tropa. À tarde, fez mau tempo com chuva e vento e trovoada;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">21.1.1816 (domingo) – Continua o tempo. Chuviscou. O governador da Ilha deu um jantar aos oficiais superiores;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[...]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">1.2.1816 (5.ª feira) – Passaram mostra os corpos de cavalaria e artilharia;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">4.2.1816 (domingo) – Fui passar o dia a uma chácara com a minha família.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">8.2.1816 (5.ª feira) – Houve exercício aos dois corpos de cavalaria [...];</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">9.2.1816 (6.ª feira) – Revista à vista do brigadeiro [Bernardo da] Silveira [Pinto];</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">11.2.1816 (domingo) – Fui passar o dia a uma chácara com a minha família = choveu, e trovejou à tarde, e princípio de noite;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> 14.2.1816 (4.ª feira) – Excelente dia = Houve uma revista e exercício aos corpos de cavalaria pelo coronel;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[...]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">23.2.1816 (6.ª feira) – Excelente manhã, e à tarde fizeram trovoadas terríveis com muita chuva;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">24.2.1816 (sábado) – Excelente dia = Fui com a minha família, e outra pessoas de amizade embarcados passar o Entrudo a uma chácara.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">25.2.1816 (domingo) – Domingo de Entrudo;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">28.2.1816 (4.ª feira) – Voltámos para a Vila por terra;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">1.3.1816 (6.ª feira) – Passou mostra de Tesouraria o 1.º corpo de cavalaria;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">2.3.1816 (sábado) – Passou mostra o 2.º corpo, e artilharia;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">3.3.1816 (domingo) – Chegou o resto da cavalaria, que tinha ficado em Lisboa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">4 e 5.3.1816 (2.ª e 3.ª feira) – Muito calor;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">8.3.1816 (6.ª feira) – Calor = Trovejou e chuviscou de tarde e à noite;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">9.3.1816 (sábado) – Calor = Vieram a enterrar dois marujos mortos por um raio, que caiu em um bergantim ontem, deixando outro homem quase morto;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">10.3.1816 (domingo) – Fui às águas férreas com a minha família. Tro[v]ejou, e choveu à tarde e à noite;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">14.3.1816 (5.ª feira) – Exercício às 6 da manhã;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">30.3.1816 (sábado) – Comprei um cavalo por 11[$000]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">1.4.1816 (2.ª feira) – Mostra de Tesouraria à cavalaria, e artilharia = dia enublado, vento e chuvisco;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">3.4.1816 (4.ª feira) – Chegou um brigue com a notícia da morte da rainha;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">5.4.1816 (6.ª feira) – Formou a cavalaria com armas em funeral;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">6.4.1816 (sábado) – Fui para a chácara com a minha família = choveu e ventou à noite;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[...]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">11.4.1816 (5.ª feira) – Endoenças. Excelente dia;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">12.4.1816 (6.ª feira) – Paixão;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">13.4.1816 (sábado) – Aleluia. Fui ao continente e comprei um cavalo por 6200 [?], vim com a família da chácara;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">14.4.1816 (domingo) – Páscoa;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[...]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">22.4.1816 (2.ª feira) – Fui para a Chácara com a minha família, e fui conduzir um major preso a Santa Cruz = 4 léguas e meia da vila. É uma fortaleza construída em um ilhote, que fica distante do continente um oitavo de légua = Fui dormir à Cacixa (?), um lugar de pescadores = Às 4 horas da manhã embarquei, e arribámos à ilha por causa de um aguaceiro, em um sítio chamado Sambaquí, e fomos eu, o capitão Filipe Neri [de Oliveira], e um negociante, Monteiro, que me acompanharam até a freguesia de Santo António a pé. Santo António está à borda do mar, e é muito ameno. Não posso dizer quantos vizinhos tem. Embarcámos às 10 horas e chegámos à Praia de Fora, que são três léguas à 1 hora da tarde = Muito vento e chuvisco toda a tarde. Fui para a chácara onde estava a minha família;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">2.5.1816 (5.ª feira) – Mostra de Tesouraria;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[...]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">5.5.11816 (domingo) – Fui para a vila com a família = Comprei um cavalo por 4[$000];</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">6.5.1816 (2.ª feira) – Exercício de manhã; e à tarde espadão comandados por Tovar;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">7.5.1816 (3.ª feira) – Exercício de manhã e tarde, comandados por [António Manuel de Almeida Morais] Pessanha;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">9.5.1816 (5.ª feira) – Excelente dia. = Tive uma dor de cólica furiosa. Exercício comandado por Duarte [Joaquim Correia de Mesquita];</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">13.5.1816 (2.ª feira) – Anos de Sua Alteza Real o Príncipe Regente. = A cavalaria e a artilharia dos Voluntários Reais do Príncipe formaram-se na praça, e deram descargas e fogo de alegria;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">16.5.1816 (5.ª feira) – Dia enublado, e chuva; Exercício comandado por [António de] Castro [Ribeiro];</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">17.5.1816 (6.ª feira) – Exercício, e espadão, comandados por mim. Dia enublado;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">20.5.1816 (2.ª feira) – Exercício comandado pelo coronel. = Choveu todo o dia;</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">21.5.1816 (3.ª feira) – Excelente dia. Exercício comandado pelo capitão [José António] Esteves [de Mendonça e Sá];</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">23.5.1816 (5.ª feira) – Ascensão.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[Diário acaba no dia 31.5.1816]</span></div>
Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8620241578207428007.post-3992342491884884212017-05-17T23:15:00.000-07:002017-09-18T06:05:43.020-07:00Índice<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>1801</b></span><br />
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">GABRIEL RIBEIRO DE ALMEIDA, TENENTE DE MILÍCIAS</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- "Memória da Tomada dos Sete Povos de Missões da América de Hespanha" [<a href="https://realservico.blogspot.pt/2017/09/memoria-da-tomada-dos-sete-povos-de.html" target="_blank">LER</a>]</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>1815/1816</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"></span><br />
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">JOÃO NEPOMUCENO DE LIMA, SARGENTO MOR DE CAVALARIA, DVR</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- “Diário de um oficial superior de Cavalaria de Setembro de 1815 a Maio de 1816” [<a href="https://realservico.blogspot.pt/2017/06/diario-de-um-oficial-superior-de.html" target="_blank">LER</a>]</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>1817</b></span><br />
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">DOMINGOS JOSÉ DAS NEVES, TENENTE DE MILÍCIAS (ENTRE RIOS)</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- "Relação do que tem acontecido do outro lado do Uruguai dado pelo Tenente Domingos dos Esquadrões de Entre-Rios"</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[<a href="https://realservico.blogspot.pt/2017/06/relacao-do-que-tem-acontecido-do-outro.html" target="_blank">LER</a>]</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">JOAQUIM DE OLIVEIRA ÁLVARES, BRIGADEIRO (LEGIÃO DE SÃO PAULO)</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- Extratos do Diário do Brigadeiro Oliveira (Março de 1817)</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"> </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">[<a href="https://realservico.blogspot.pt/2017/06/extratos-do-diario-do-brigadeiro.html" target="_blank">LER</a>]</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>1819</b></span><br />
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">BENTO CORREIA DE CÃMARA, BRIGADEIRO (MILICIAS DO RIO PARDO)</span><br />
<span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">- Diário Militar (Junho e Julho de 1819) [</span><a href="https://realservico.blogspot.pt/2017/07/diario-militar-de-bento-correia-de.html" style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: x-large;" target="_blank">LER</a><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif; font-size: large;">]</span><br />
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><b>1827</b></span><br />
<span style="color: #660000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">ANTON ADOLPH FRIEDRICH VON SEWELOH, CAPITÃO (27.º BAT. CAÇADORES)</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">- "Reminiscências da Campanha de 1827 contra Buenos-Ayres" [<a href="https://realservico.blogspot.pt/2017/09/reminiscencias-da-campanha-de-1827-a-f.html" target="_blank">LER</a>]</span>Jorge Quinta-Novahttp://www.blogger.com/profile/14072846283798338873noreply@blogger.com0